Decoração gira. Comida mais ou menos…
Quem nos siga regularmente vai se calhar sentir que se torna um bocado repetitivo estarmos constantemente a escrever sobre restaurantes “asiáticos”, ou seja, com comida de vários países da Ásia. Até podia ser “panca” nossa (e na realidade até é), mas a verdade é que esta se tornou uma tendência da restauração em Lisboa e abrem cada vez mais espaços com este posicionamento. Se o Malaca Too inaugurou o conceito (podem ver aqui o que achámos), o Boa-Bao veio dar-lhe visibilidade e popularidade (também já escrevemos aqui sobre este restaurante). Mais recentemente abriu no Cais do Sodré o SOI (mais um sobre o qual podem ler aqui), e é isso que nos leva ao Atari Baby, aberto uns meses antes.
No Atari Baby estamos no registo manga/anime, materializado num conjunto de decorações que nos transportam para aquilo que, no meu imaginário, é a noite mais “kinky” de Tóquio. Esses apontamentos são engraçados e ajudam a passar a ideia do tipo de restaurante que o Atari Baby é, mas acima de tudo ajudam a dar alguma vida a um espaço que por si só é escuro e pouco convidativo. A iluminação ajuda muito, mas só resulta de noite, porque durante o dia perde-se um bocado. Ainda assim, para malta “nerd” e fã de “bonecada” japonesa, o Atari Baby é o sítio perfeito.
A primeira zona do restaurante tem mesas e bancos ligeiramente abaixo do nível do chão, o que cria o efeito engraçado de parecer que estamos a comer sentados no chão, mas não é a coisa mais confortável do mundo. Felizmente, a sala continua e existem já mesas normais, junto a um segundo balcão que é onde vivem os sushi men.
Ora, se o espaço e os seus pormenores temáticos nos deixam bastante entusiasmados, aquilo que lemos na ementa aumenta ainda mais a expectativa. Nomes engraçados para pratos principalmente japoneses, numa ementa que se divide naquilo que pensamos ser a street food japonesa e uma área de sushi (porque é preciso agradar a todos). Optamos por não ir para o sushi, porque o objectivo é mesmo ver o que diferenciador o Atari Baby tem para oferecer. E aí é que as coisas começam a ficar menos interessantes…
As gyosas de vegetais cumprem, embora goste da massa estaladiça e esta não esteja, mas o recheio tem algum sabor. Vá-se lá perceber por que raio é que nos servem uma dose impar quando somos duas pessoas, mas este problema de falta de lógica existe numa grande generalidade de restaurantes.
Depois, os “asteroids”, que é como quem diz vegetais salteados com soja, gengibre e jalapeño. Que é como quem diz, sabor nenhum. Percebo que é uma opção vegetariana, mas isso não quer dizer que lhe falte sabor, e a verdade é que falta. Nem o gengibre nem os jalapeños tornam este prato em mais do que uma mistura de vegetais cozinhados a vapor. Sem mais nada. Uma desilusão.
O bao de barriga de porco (que aqui se chama “pac-man”, outra referência japonesa) é melhor, com o pão bem cozido e o recheio saboroso, muito por causa do sweet chilli. Mas depois voltamos a uma opção vegetariana que também desilude um pouco: o veggie fresh burrito é servido coo se rolos de sushi se tratassem e, ainda que o molho de sweet chilli acrescente algum sabor (mais uma vez), os rolos em si são um bocado desinteressantes. Bem compostos, com muita coisa, mas sem molho não sabem a nada…
Esta viagem (fraquinha) pela noite de Tóquio terminas nas sobremesas, que são sem dúvida o melhor de toda a refeição. Não porque sejam fenomenais, mas porque o resto foi menos interessante do que esperávamos. Mais um nome engraçado, as “dragon balls” são umas bolinhas gelatinosas de lichia, com yozu de manga, uma sobremesa onde reinam as texturas diferentes e que é realmente exótica e diferente.
Também o cheesecake de maracujá é fora do normal, principalmente a nível de apresentação: a desconstrução de um cheesecake normal, com uma base de crumble de gengibre e depois o cheesecake em cima, com o molho de maracujá a envolver as duas coisas.
No final da refeição, em que não houve sequer ninguém a perguntar-nos como correu, tivemos mixed feelings. Ok que não provámos o sushi, mas num restaurante que se propõe a ser mais do que uma sushi house, esperávamos muito mais. Não basta a decoração ter pinta, é preciso que a comida acompanhe o conceito e seja minimamente surpreendente.
Percebo que cada vez mais é importante seguir modas e fazer dos restaurantes um espaço que seja “socialmente relevante”, que resulte bem no Instagram e noutras redes sociais. Mas isso devia ser menos importante do que o principal, que é servir bem e boa comida. O Atari Baby não é um mau restaurante, mas o problema é a comparação. Porque fica bastante atrás dos outros restaurantes asiáticos abertos em Lisboa nos últimos meses. Bastante.
Preço Médio: 23€ pessoa (com saké)
Informações & Contactos:
Rua de São Paulo, 120 | 1200-249 Lisboa | 215 817 380
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