Sabores tradicionais, com um twist de Chef.
O “novo” Terreiro do Paço foi acolhendo muitos restaurantes desde há uns 4 anos para cá. Zona predominantemente turística mas com um potencial enorme, tem sido ocupada por restaurantes diversos, uns que vão mudando e outros que se vão mantendo. O Aura é talvez dos espaços mais “antigos” a ocupar esta zona de restauração, e vai continuando a saber reinventar-se. E ainda bem.
Estamos numa das zonas mais turísticas de Lisboa, o que faz com que mais de metade da ocupação do restaurante sejam turistas. Talvez por isso mesmo, a primeira abordagem de qualquer uma das pessoas que nos atende é sempre feita em inglês… o que é mais compreensível do que agradável. Ainda assim, o serviço é cordial e formal, ajustado ao espaço em si.
Por falar no espaço, estamos na zona das arcadas do Terreiro do Paço, e o Aura deixa viver a arquitectura do edifício onde está inserido de forma muito inteligente. Toda a sala está bem iluminada e decorada, mas o destaque claro vai para a enorme estátua que ocupa a parede de fundo e que nos cativa o olhar assim que entramos.
A cozinha do Chef Duarte Mathias parece ter sido pensada exactamente para o local onde o restaurante está inserido e para o seu target predominante, que são turistas. Por isso mesmo, a carta do Aura apresenta-se muito simples e reconhecível, com pratos que se podem quase chamar clássicos da cozinha portuguesa (e que servem de “montra” da nossa gastronomia a que nos visita), mas quase todos eles com um twist próprio do Chef, quer seja a nível de ingredientes ou mesmo do empratamento.
Começamos com uma sopa de peixe servida à mesa (a teatralidade também é importante), saborosa e rica em conteúdo, ainda que pudesse ser um pouco menos líquida. Do outro lado, a alheira “Auriana” com ovo estrelado e grelos vem servida num formato circular interessante e cumpre a nível de conjugação de sabores.
Seguindo com as pataniscas, mas aqui de lavagante, com um arroz malandro de coentros, um prato tão nosso mas com o twist que um restaurante deste nível deve apresentar, tudo muito bem conseguido e servido numa dose substancial, mas com destaque claro para o arroz, no ponto perfeito e de sabor irrepreensível.
O tornedó de novilho com queijo da serra fundido não tem também rigorosamente nada a apontar, a carne no ponto pedido e o queijo que a cobre a dar-lhe um sabor e textura muito interessantes. Esparregado bastante bom, mas talvez as chips de batata pudessem ser trocadas por algo mais genuíno.
Nas sobremesas, o aspecto visual dos pratos é ainda mais reforçado, mas sem nunca descurar o principal, que são os ingredientes e a tradição da doçaria nacional. O pão-de-ló de Alfeizerão é exactamente como nos lembramos de o comer quando éramos mais miúdos, aqui acompanhado com uma mousse de queijo amanteigado e compota de tomate caseira. Perfeito! Tanto este como o pudim abade de priscos (excelente), no twist aqui estando na espuma de mirtilos (interessante, mas não é a minha praia) e nos frutos vermelhos e crocante de amêndoas (que completam muito bem o prato).
Ou seja, percebemos claramente a intenção do Chef Duarte Mathias em apresentar sabores tradicionais com um twist contemporâneo, mas sem descurar a qualidade dos ingredientes e a forma como são trabalhados. Tendo em conta o local e o posicionamento do Aura, faz todo o sentido.
Pode ser mais frequentado por turistas, mas o Aura é um bom restaurante para ocasiões especiais (até porque a sala pode aumentar para eventos privados e grupos grandes). Pelo espaço em si e principalmente pela comida.
Preço Médio: 40€ pessoa (com vinho)
Informações & Contactos:
Rua do Arsenal, 1 (Terreiro do Paço) | 1100-038 Lisboa | 21 346 9447
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