Onde os olhos (e o iPhone) também comem…
Há quem tenha iPhone e há quem pertença ao resto do mundo. E quem tem iPhone, não o tem pelo telemóvel ser muito melhor que os topos de gama Android, mas sim por causa de muitos outros factores: é mais giro, mais trendy, tem melhor design, tem mais apps, enfim, há algo mais do que simplesmente a sua performance. E isto pode aplicar-se ao Bastardo. Confusos? 🙂
O Bastardo é dos restaurantes em Lisboa que melhor se movimenta nas redes sociais, e talvez por isso é um dos mais trendy. Assim como quem tem iPhone, quem vai ao Bastardo procura um jantar cool, onde tudo tem muito boa apresentação e cujas fotos depois pode partilhar em todo o lado. E isso não quer dizer que o restaurante (ou o telemóvel) seja melhor que os outros. Mas é realmente muito mais giro!
Começando por aí, pela decoração. Todos os quadros, individuais de mesa, louças e etc. fazem parte de um conjunto que torna o espaço muito modernaço, com um vibe muito bom. Há trocadilhos e frases em quadros, que mesmo quem nunca lá foi já terá visto em alguma foto de um amigo ou conhecido.
O serviço é bastante simpático, o que é um ponto muito positivo. Simpatia, explicação dos pratos, sugestões.
E seguindo a lógica do próprio espaço, também a apresentação dos pratos é, sem dúvida, muito bem pensada e trabalhada. E isto é transversal a toda a refeição, desde o couvert servido num cesto feito de peças de Lego até aos cocktails servidos em tábuas. Fica tudo muito bem com o iPhone pousado em cima da mesa 😉
A ementa está cheia de trocadilhos nos nomes dos pratos, mas a sua descrição é tão boa que nos apetece pedir um de cada. Lá está, os olhos também comem, e como o empratamento é excelente, aqui comem ainda mais!
Mas depois começamos a entrar em pormenores mais “técnicos” e aí o restaurante/telemóvel já não é tão consensual…
Partilhamos duas entradas: o “Caçador”, um escabeche de coelho muito saboroso mas acompanhado por batatas cozidas algo desinteressantes; e o atum braseado com manga, ervilhas de wasabi e ponzu peca por o atum estar cortado tão fino que é tipo carpaccio, o que lhe retira grande parte do sabor, ainda que o resto dos ingredientes seja muito bem conseguido.
Seguimos para os pratos principais e começamos já com a estrela da noite (que acaba por ser a opção vegetariana): o “Malandrinho”, um risotto de abóbora perfeito, cheio de sabor, onde o azeite de trufa se enxaixa muito bem criando várias nuances no palato. Melhor prato da noite, ainda que o mais normal a nível de apresentação.
Muito mais giros eram os outros pratos: o “Porco à Colher” (entrecostelas, vindalho e tamarilho, sobre um puré de cherovia), onde a carne se desfazia mas nada no prato parecia ter sal; o “Tio Patinhas” (chamuça de pato, shiitake, foie gras e gema de ovo), com a massa da chamuça demasiado mole e novamente a ausência de tempero; e o “Quatro P’s” (polvo, porco, puré e pimentão), bastante bom o polvo e a barriga de porco, uma espécie de surf & turf à portuguesa.
Ou seja, fotos excelentes, sabores ficaram assim a meio termo.
O mesmo acontece com o “pijaminha” de sobremesas, que é uma óptima ideia mas de onde há coisas boas como o arroz doce, os gelados e o crumble, mas outras muito menos interessantes como o suspiro, a tijelada ou uma espécie de pão de ló…
Fabuloso é um dos cocktails do chefe, o “Speedy Gonzáles”, com base de tequilla, picante e alcoólico. Também com uma apresentação excelente.
Ou seja, como acontece com o iPhone, há melhor. Há restaurantes, dentro do mesmo intervalo de preço, melhores do que o Bastardo. Mas não têm tanta pinta, não são tão cool, não são trendy, não ficam tão bem na fotografia. E esta é uma qualidade do Bastardo: conseguir ter tudo isto e constantemente conquistar novos clientes sem perder os habituais.
Porque os olhos também comem 😉
Preço Médio: 30€ pessoa (entrada, prato e sobremesa a dividir)
Informações & Contactos:
International Design Hotel – Rua da Betesga, 3 | 1100-090 Lisboa | 21 324 0993
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