Como estragar completamente um bom jantar, mesmo no final…
Não somos contra as gorjetas. É certo que geralmente não deixamos, mas há excepções, quando sentimos que faz sentido. É algo cultural, sabemos, mas acreditamos que devem ser usadas para recompensar um serviço efectivamente muito bom. E, acima de tudo, não devem ser impostas ao cliente, deve ser ele a decidir se quer ou não deixar gorjeta. Ou então apresenta-se uma taxa de serviço e pronto, já sabemos com o que temos de contar. Mas não foi isso que nos aconteceu no Boca Linda, o novo mexicano trendy de Lisboa.
Porque sabemos que existe cada vez mais a tendência nos restaurantes novos de Lisboa em incluirem a “Gratificação Sugerida” na conta que nos é apresentada, como acontece um pouco pelo mundo fora. E também sabemos que – infelizmente – a forma como esse valor é apresentado visualmente induz o consumidor em erro, porque não só aparece já somado à conta, como o valor sem esse acrescento está sempre com uma letra mais pequena que o total com a gratificação. A fotografia em baixo é esclarecedora.
Mas o que não estamos à espera n Boca Linda é que o empregado marque diretamente o valor com gratificação sugerida no terminal de pagamento, sem nos perguntar se a queremos ou não pagar. Já nos aconteceu não nos ser explicado esse valor (como por exemplo no Encanto, o vegetariano do Avillez), mas nunca nos tinha acontecido darem-nos o terminal já com o valor com a gratificação sugerida marcado. E voltamos a destacar um ponto muito importante: é “gratificação sugerida”. Ou seja, não é um valor obrigatório!
Aqui não está em questão deixar ou não gorjeta, mas sim o assumir que vamos deixar de certeza. É isso que questiono o empregado que nos entrega a máquina, que me responde a dizer que a “política do restaurante” é assim. “Como? A política do restaurante?! Mas isso não pode ser, porque isto não é um valor obrigatório, por isso não o podem acrescentar na conta sem autorização do cliente!” digo eu, um bocado incrédulo. E aí vem outra resposta boa: “Sim, mas os clientes aqui pagam todos esse valor… e 90% deles até são portugueses!”
É difícil não responder a isto de forma mais agressiva, mas resolvemos que não valia a pensa continuar. A simples insinuação que até o cliente português aceita pagar a gratificação sugerida ali tem muito de xenófobo, mas não entramos sequer por aí. É todo o princípio da gratificação sugerida ser forçada ou imposta que está errada, porque a maioria das vezes acreditamos que o cliente paga porque é induzido em erro. Se não o avisarem, é fácil não perceber que isso está incluído na conta. É isso que reforçamos antes de sairmos do restaurante, mas desta vez ao proprietário do próprio restaurante… que acena com a cabeça mas nada convencido do ponto que estamos a tentar demonstrar.
E isto para nós foi péssimo, especialmente porque tivemos um jantar bastante bom o Boca Linda. Um bocado caro, é verdade, mas sabíamos os preços. E um bocado a despachar também, porque aqui é preciso rodar mesas, mas também nada de especial. Nada disso seria relevante senão tivesse acontecido a situação que descrevemos no final. O espaço é simples mas giro, ainda que possa tornar-se barulhento quando cheio, por causa de algum excesso de mesas e de a música ir aumentando com o passar das horas – mas isso é o posicionamento do restaurante, é o que é. O balcão de finalização no fundo da sala dá aquele feeling de que estamos quase dentro da cozinha, por isso acaba por resultar bem.
Vemos na ementa algumas influências do Contramar, um dos restaurantes de que mais gostámos na Cidade do México, até porque aqui no Boca Linda também há o “pescado bicolor”. Há também uma muito boa Tostada de Atún, com sabores equilibrados, e uns Esquites que geralmente têm um formato de uma salada e aqui é a maçaroca de milho inteira.
Outra coisa que geralmente não se encontra nos restaurantes mexicanos por cá mas que há no Boca Linda: bichos! Não daqueles que andam no chão, mas os célebre Chapulines, pequenos gafanhotos fritos, aqui servidos com o Guacamole, com a sugestão de misturar, para sentir a crocância. Não são tão crocantes como vários que comemos no México, mas é algo muito divertido de servir, e que vemos nas outras mesas ser motivo de conversa e espanto. Ah, claro, e para beber aqui até há uma versão mais soft das Micheladas. Enfim, tudo certo, a nível de ementa.
A Quesadilla de Queso não é nada de especial – e nem vamos comentar a apresentação que… enfim – mas depois os tacos são muito bem conseguidos, não só a nível do recheio como especialmente nas tortilhas. Pedimos o Pastor del Trompo e o Arrachera con Queso, e ambos são saborosos e bem recheados, além de terem a dimensão ideal. São dos melhores tacos que temos comido nos últimos tempos, no meio deste boom de restaurantes mexicanos novos em Lisboa, e isso significa muito.
Nas sobremesas só faltava a tarte de figo para ainda ser mais aproximado ao Contramar, mas não havendo fomos para o Pan de Elote, uma espécie de pão/bolo de milho, aqui servido também como caramelo salgado e natas. E até o bar de tequilas e mezcal do Boca Linda é muito interessante, com preços ajustados ao tipo de produto. Ou seja, estaria aqui realmente um restaurante a regressar.
Mas pronto, lá está… Depois chega a conta e o terminal de pagamento e desenrola-se toda a situação que descrevemos em cima. E um jantar que estava a ser bom, num restaurante ao qual já estávamos a dizer que iríamos regressar com amigos, transforma-se numa experiência surreal de falta de consideração pelo cliente. Até pode ser verdade que a grande maioria dos clientes do Boca Linda paga a gratificação sugerida no final, mas gostaríamos de saber quantos deles é que percebem que o estão a fazer. E mesmo que todos saibam, cada cliente tem o direito de tomar a sua decisão, é simples. Mas se lhe dão o terminal de pagamento com um valor imposto, isso é errado da parte do restaurante. É tentar enganar o cliente, não há outra expressão para isto.
Preço Médio: 30€ pessoa (com uma margarita)
Informações & Contactos:
Calçada Marquês de Abrantes, 92 | 1200-808 Lisboa | 937 041 918
A gratificação em restauração deve ser sugerida e aplicada, se tem um bom serviço e tudo correu bem e a atenção do empregado foi como esperado, no entanto há muitos clientes muito exigentes e que nem sabem se portar , com conhecimento de causa quanto mais baixo da camada tipos falado classe social, mais exigentes o são, talvez mesmo para dar nas vistas.
Nos Estados Unidos a gratificação num grupo com mais de 8 pessoas é automaticamente aplicada a gratificação de 15 por cento no mínimo! Acho que muitos Portugueses não tem a noção de agradecer como agradecer um bom serviço, vejo muito isso quando vou almoçar ou jantar fora com amigos em que eu próprio forço para que deem gorjeta…. E depois só deixam tipo 1 euro em que gastaram 30 ou 40€ … ridículo….!
Mentalidades que pensam que o empregado está ali só para o servir!
Mas o empregado está ali para servir… e, ao contrário dos EUA, o seu salário não é ditado exclusivamente pelas gorjetas… cá, os patrões têm que pagar decentemente ANTES das gorjetas. Por isso é que a nossa cultura é a da gorjeta premiar o bom serviço e não um pagamento normal desse serviço.
Já tinha ouvido falar que alguns restaurantes andam a adoptar este tipo de prática.
Isto na verdade não é muito diferente doutro “truque” mais antigo: Acrescentar à conta algo que o cliente não consumiu “mas que foi posto na mesa”.
É chico espertice e desonestidade.
Gosto muito de comida mexicana, mas a este, e por princípio, nunca irei comer.
Pago o preço que está no menu, sobre o qual é pago IVA. Os valores em menu devem ser feitos com base no preço dos produtos, todas as despesas inerentes ao restaurante, salários e lucro. Colocar a gorgeta na conta/terminal MB é para mim um engodo enganador. Não dou gorgeta por princípio.
Mas não percebi, pagaram o valor da gorjeta sugerido?
É chamar a polícia e reportar a ASAE. EU NÃO PAGARIA!
Deixo quase sempre gorjeta EXCETO quando me vem sugerida na conta. Sou completamente contra este tentar normalizar a gorjeta e transferir para os clientes o ónus do salário dos empregados.
Um abuso! Uma passagem para o cliente, e de forma encapotada e aldrabona, um acrescento nos ordenados que de outra forma não receberiam. Em Portugal, a cultura da gorjeta é a de premiar um serviço prestado para além das expectativas. O que estão a impor, com a quantidade de restaurantes a nascer que nem cogumelos e a contratação de imigrantes com salários baixos e condições precárias é, precisamente, receberem o que lhes falta através das gorjetas. Deve ser isso que lhes é vendido pelos patrões.
Totalmente de acordo com o vosso espanto, nesses casos pura e simplesmente recuso me a pagar com ameaça de chamar a polícia e peço sempre o livro de reclamações.