Altos e baixos… até chegar a conta.
Achamos o Cantinho do Avillez um bocadinho “overrated”. Que é como quem diz, não achamos tão bom como a maioria das pessoas diz ser. Lá está, opiniões são opiniões. A questão, para nós, é que esta é uma opinião que já tivemos também na Pizzaria Lisboa (podem ler aqui o que escrevemos) e no projecto de curta duração que foi a Cantina Zé Avillez (sobre esse podem ler aqui). É verdade que excluímos desta lista o Mini Bar e o Belcanto (assim como projectos partilhados e pontuais como a Pitaria ou o Rei da China) mas porque esses são restaurantes menos acessíveis a todas as carteiras. O cliente “normal” de restaurantes (como nós somos) não tem possibilidade de ir algumas vezes ao Belcanto ou mesmo ao Mini Bar… mas ainda assim tem muita curiosidade em ir a um restaurante de um Chef com Estrelas Michelin. Por isso, o Cantinho do Avillez parece mais enquadrado num price range mais “em conta”.
O principal problema, pelo menos na nossa opinião, é que há no Cantinho do Avillez demasiados altos e baixos para justificar o preço de alguns dos pratos… e por consequência a conta geral. É certo que “pagamos” o nome do Chef, mas já o mesmo acontecia na Cantina: há pratos que conseguimos comer muito melhores em restaurantes num raio de 500 metros… e a pagar muito menos. E isso torna a experiência cara.
Ainda assim – e começando pelo princípio – é verdade que as primeiras impressões deste Cantinho do Avillez são boas. O espaço é bastante interessante, bem seccionado e decorado, com iluminação que o torna cosy mesmo quando cheio. Há toques de decoração e de louça que nos remetem para o conceito de “tasca moderna”, mas que aqui ainda leva com o nome do Chef para complicar o que podemos esperar do restaurante.
O serviço, esse, acentua os altos e baixos do restaurante, porque está longe de ser consistente. Talvez tenha a ver com as pessoas em si, mas há situações caricatas que simplesmente não se ajustam a este tipo de restaurante… ou, na realidade, a qualquer um. Como por exemplo, na altura do serviço do vinho, depois de me perguntarem a mim se quero branco ou tinto, perguntam-me também a mim o que a pessoa à minha frente quer beber, com um maravilhoso “E ela?”. Deselegante, no mínimo.
A lista é interessante, e percebemos logo que se trata de um Avillez mais acessível. Há alguns best-sellers, alguns pormenores “importados” de outros restaurantes e, no geral, muitos pratos cuja descrição nos deixa logo água na boca. Por isso, o ideal é mesmo ir em grupo e partilhar vários pratos (até porque as doses são relativamente pequenas). E é quando chega a comida… que começam os altos e baixos. Ou seja, não há uma qualidade consistente, aquilo que provamos ora é muito bom ou muito fraquinho. Vamos a isso?
Há muita coisa para partilhar a nível de petiscos e pequenas entradas, como por exemplo as Vieiras Marinadas (com creme de abacate e crumble de pão alentejano), onde os ingredientes são bons mas as proporções falham um pouco, porque o abacate sobrepõe-se a tudo; ou os Peixinhos da Horta, bem fritos, saborosos, com um tártaro muito bem conseguido.
Um dos clássicos do Chef são os Ovos à Professor Séc. XXI: ovos cozidos a baixa temperatura com chouriço salteado e crumble de pão frito. Um conjunto que resulta sempre bem e que nunca falhou nas visitas que fizemos ao Cantinho.
Mas nem tudo é assim tão interessante, daí a questão dos altos e baixos. O Queijo de Nisa no Forno é perfeitamente banal, não há nada que o torne um destaque face aos restantes pratos; ou a Farinheira com Broa de Milho, que é um dos pontos mais fracos do jantar, porque é basicamente uma quase papa com tudo misturado, demasiado enjoativa.
Curiosamente, o melhor dos petiscos foram as Empadinhas de Perdiz. O recheio é fantástico e muito bem equilibrado, com um toque de bacon, e a massa está cozinhada na perfeição e tem a textura certa. Devíamos ter ficado por aqui…
Porque mesmo quando passamos aos pratos principais, continuam os altos e baixos, e aqui a diferenciação é mais acentuada. Por um lado temos um excelente Risotto de Cogumelos Portobello, muito saboroso, com a consistência perfeita, bem recheado de cogumelos, muito bem servida a dose; mas depois há um Bife Tártaro nada interessante, sem grande densidade, sem nada contrastante no meio da carne. Esperávamos muito melhor.
Outra dupla que tem enormes diferenças: por um lado temos as Lascas de Bacalhau com Migas Soltas, Ovo BT e Azeitonas Explosivas, um dos best-sellers do Cantinho e um prato muito bem conseguido (sabores simples, execução sem falhas, bons contrastes de textura… ainda que lhe falte um pouco de sal); por outro, o bife que podem ver na fotografia em baixo. Um Bife do Lombo, servido fora do ponto pedido (uma coisa que me chateia em qualquer restaurante, mas que me chateia ainda mais num restaurante com a assinatura de um Chef), com um molho demasiado aguado e sem qualquer sabor, com um ovo estrelado já quase completamente seco “a cavalo”. Sim, eu sei que não é cozinha de autor e até pode não ser tão desafiante… mas é só ridículo servirem-nos um bife destes num restaurante onde vamos pagar 20€ por isso.
Até podia ter sido azar num só jantar, mas esta inconsistência tem sido frequente nas nossas visitas ao Cantinho. E nem é só uma questão de gosto pessoal, porque as visitas que fizemos foram sempre em grupo e a opinião foi quase unânime nas mesas.
Para terminar, as sobremesas… E, ainda que as diferenças entre elas não sejam propriamente flagrantes, há claramente umas que são muito boas… e outras que não passam daquele registo irritante de normalidade. Neste último caso temos por exemplo o Cheesecake Enfrascado, que é um cheesecake normalíssimo servido (adivinharam) dentro de um frasco, sem nada que o faça destacar-se de todos os outros cheesecakes que já comemos servidos dentro de frascos. Ou o Leite Creme de Laranja e Baunilha, com melhor textura que sabor (não é mau, mas sabe a laranja, ponto final). Felizmente destacam-se o surpreendente Sorvete de Limão com Manjericão e Vodka (que nem é uma sobremesa inovadora, mas é muito saborosa e fresca) ou o já clássico do Chef, o Avelã3, com as suas diferentes camadas e texturas, uma sobremesa que, mesmo sendo só de avelã, consegue surpreender-nos de cada vez que a comemos.
O grande problema destes constantes altos e baixos é que, quando no final aparece a conta, os pontos positivos ficam para trás em relação aos negativos e acabamos por sentir que as expectativas ficaram longe de ser cumpridas. E é esta fórmula de pratos bem conseguidos e outros nem por isso, ao que se juntam os seus preços e também a chancela de cozinha de autor, que nos faz não ser fãs do Cantinho do Avillez. É uma opinião pessoal, claro, por isso vale o que vale. Mas quando pago quase 40€ por pessoa num jantar, espero um determinado nível de qualidade. Ainda mais quando está associado o nome de um Chef famoso.
Preço Médio: 38€ pessoa (com vinho)
Informações & Contactos:
Rua Duques de Bragança, 7 | 1200-162 Lisboa | 211992369