IZAKAYA TOKKURI

As aparências iludem… muito!

Uma coisa é certa: este Izakaya Tokkuri é o restaurante mais parecido com os típicos restaurantes japoneses onde estivemos… sem ser no Japão mesmo. As Izakayas são uma espécie de tascas japonesas, onde a malta se junta depois do trabalho para comer ao balcão num ambiente de grande confusão – que contrasta com o dia a dia organizado que aquele povo tem. Geralmente estas izakayas têm a porta fechada e tapada por uns panos, e quando se entra o espaço é dominado por um enorme balcão, ementas penduradas nas paredes, muita madeira, muitas garrafas de sakê expostas, pouca decoração.

E foi mais ou menos tudo isto que vimos quando chegámos e entrámos na Izakaya Tokkuri. À primeira vista, pareceu-nos termos voltado ao Japão mesmo no meio do rebuliço do Bairro Alto. Aliás, pelas fotografias podem perceber o que queremos dizer:

IZAKAYA TOKKURI

Mas este foi o único aspecto em que esta izakaya sequer se aproximou das izakayas japonesas. Aliás, esta foi a única coisa positiva do nosso jantar na Izakaya Tokkuri. Porque em tudo o resto este restaurante não podia estar mais longe do que vivemos no Japão há uns meses atrás. Ou ainda melhor, esta Izakaya Tokkuri Tokkuri nem sequer chega aos calcanhares de muitos outros restaurantes japoneses ou asiáticos em Lisboa. Mas é que fica mesmo muito longe. E se calhar devíamos ter antecipado isso quando só está uma pessoa no restaurante, numa Sexta-feira à noite…

O restaurante não tem uma ementa fixa, apenas dois quadros de ardósia na parede com os pratos todos, que desconfio serem quase sempre os mesmos. Também não tem yakitori, que é só tipo o ex-libris de qualquer izakaya no Japão. Mas pronto, são escolhas.

IZAKAYA TOKKURI

O que tem são Gyozas, das quais pedimos as de camarão. Que, mesmo não as comparando com as melhores que já comemos (no Japão), têm qualquer coisa de errado. A massa é demasiado espessa, o recheio não está solto, é só tipo uma pasta, e o molho de amendoim que as acompanha não faz assim muito sentido. Já comemos melhores cá em Lisboa, e em chineses “manhosos”.

Depois das gyozas, o Bao de Porco. Melhor que as primeiras a nível de sabor, mas ainda assim a anos luz de outros que já comemos por cá. Falta-lhe molho, falta-lhe intensidade, falta-lhe qualquer coisa. E falta-lhe tamanho também.

IZAKAYA TOKKURI

É neste momento que começamos a pensar noutra coisa que torna toda esta experiência ainda mais sofrível: os preços. Porque os preços são bastante mais caros do que seria de esperar de uma izakaya (mesmo no Japão nunca pagámos 8.5€ por umas gyozas ou por um bao, e muito menos 15€ por um ramen); aliás, são até mais caros do que na generalidade dos asiáticos em Lisboa, o que tendo em conta a qualidade e quantidade, é simplesmente ridículo.

IZAKAYA TOKKURI

Mas pronto, seguindo em frente com a Barriga de Porco. Poucas explicações sobre o que é o prato (por falta de conhecimento ou de interesse), mas o que chega à mesa é novamente muito pobre em sabor. Quando levantamos a tampa de madeira do pequeno recipiente metálico (giro) temos literalmente três fatias de barriga de porco, meia dúzia de tiras de alho francês e arroz. Pouco ou nenhum condimento e, pior, o arroz está completamente errado. Geralmente neste tipo de prato o arroz está menos solto, para se poder comer bem com pauzinhos, mas aqui não, parece um arroz perfeitamente normal. O que significa que nem pensar comê-lo com pauzinhos. O que significa que volta praticamente metade para trás.

IZAKAYA TOKKURI

E depois, para fechar com chave de ouro esta maravilhosa desilusão, eis que chega o Tonkotsu Ramen. Ora, para quem não sabe, o Tonkotsu Ramen tem por base um caldo feito à base de ossos e gordura de porco, cozinhado durante muitas horas, onde depois se acrescentam noodles, barriga de porco, ovo cozido, cebolinho e alga nori, ou mais coisas se quisermos. Bom, estão a ver aquele caldo pastoso e intenso que este tipo de ramen deve ter? Pois, nós aqui também não vimos. Não vimos nem sentimos, porque posso apostar que o caldo que nos serviram é o mesmo que servem no Miso Ramen e nos outros dois que têm na carta. Sem sabor a carne, aliás, sem grande sabor no geral, com três fatias da mesma barriga de porco do outro prato, um ovo (a única coisa boa, por sinal), alguns rebentos. Nada de alga nori, por exemplo. E, surpresa das surpresas… esparguete. Não são noodles, é esparguete. Pois…

Quase tão mau como o sabor – ou falta dele – a questão da dose servida. A tigela é a certa para este prato, mas estava literalmente servida até meio. Quem está habituado a comer ramen sabe que é servido até cima, e basta verem fotografias nas redes sociais do restaurante para perceberem que antes até o serviam como deve ser. Malta, este ramen custa 15€ e parece que nos serviram meia dose!

IZAKAYA TOKKURI

Não pedimos sobremesas, até porque as que existem não têm rigorosamente nada de sequer aproximado a algo asiático (já nem esperávamos japonês, bastava asiático). E o mais curioso é que, quando nos perguntam de forma casual se gostámos e nós dizemos que não, explicando porquê, a reacção é de completa indiferença. Aliás, isto marca o serviço do Izakaya Tokkuri, completamente desinteressado. Somos a únicas 2 pessoas no restaurante (com a excepção de um turista ao balcão) e só por uma vez nos perguntam como estão as coisas. Mesmo depois de termos explicado que estivemos no Japão há poucos meses. Nem simpatia nem interesse, nada.

Não vale a pena alongar este texto muito mais, porque acho que já deu para perceber a nossa desilusão, enorme desilusão. Percebemos depois que o espaço mudou de Chef, mas isso não justifica tudo o que de mau sentimos neste jantar. Se não querem ou não têm jeito para ter um restaurante, não o abram. É tão simples como isto. O que é mais triste é ter um espaço como o do Izakaya Tokkuri com uma decoração espectacular e numa zona que tem tudo para dar certo… e depois tratar a comida (e o serviço) “aos pontapés”. Isso sim, é triste. Aliás, é quase ofensivo para quem passar por esta porta…

Preço Médio: 25€ pessoa (com sakê)
Informações & Contactos:

Travessa Fiéis de Deus, 28 | 1200-189 Lisboa | 21 346 1500

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