JAMIE’S ITALIAN LISBOA

Um restaurante Italiano. De um Chef Inglês. Mesmo no centro de Lisboa. E com um serviço do outro mundo…

Depois deste título, podia continuar a escrever que o Jamie’s Italian Lisboa é um “melting pot” de culturas. Ficava bem, porque estava a utilizar termos estrangeiros e a mostrar que os sei aplicar. E, se olharmos apenas para os clientes que enchem diariamente os dois pisos do restaurante (e esplanadas), esse termo até faria sentido: estamos a falar de um misto de turistas e locais, todos atraídos pelo nome do Chef ou pela novidade. Ou simplesmente porque Lisboa está a atravessar um “boom” turístico e porque a zona do Príncipe Real continua a ser das mais movimentadas da cidade. Sim, o título podia ser derivado de tudo isto… mas não é.

jamies italian lisboa

A abertura em Lisboa do franchising Jamie’s Italian, do Chef superstar Jamie Oliver, foi assim uma das “bombas” do ano na área da restauração! Finalmente começamos a ser reconhecidos como um destino turístico a sério e tal e tal… Honestamente, para nós que já conhecemos outros restaurantes a mesma cadeia, foi interessante por uma questão de visibilidade. Não necessariamente pelo restaurante em sim, pelo menos julgando por experiências anteriores em Londres.

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Mas isso podiam ser só preconceitos e seria injusto não dar uma oportunidade ao Jamie’s Italian Lisboa. Por isso, deixámos passar os primeiros meses de histeria colectiva onde não se conseguia arranjar uma mesa sem ter de vender um órgão interno qualquer… e lá fomos fazer um almoço tardio de um Sábado chuvoso.

jamies italian lisboa

O primeiro impacto é a surpresa. Não pela montra de livros do Chef logo à entrada, mas sim pelo impacto do espaço. Segue a mesma linha de decoração dos restaurantes do grupo onde estivemos, mas não deixa de ser surpreendente o trabalho e investimento que ali houve! São dois pisos com um ar de pub britânico (nada de italiano aqui), mas bem seccionados, com iluminação estudada, assim como a própria organização do espaço, que nos leva a passar sempre pelos enormes balcões onde estão a preparar a comida (e, logo, a ganhar apetite). Duas esplanadas exteriores também, na mesma linha.

jamies italian lisboa

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Somos cordialmente recebidos à entrada, e encaminhados para a nossa mesa. Aqui não existe propriamente a lógica de um empregado por mesa, por isso temos de cumprimentar vários empregados à medida que vão aparecendo. Assim como vamos respondendo várias vezes às mesmas perguntas durante toda a refeição. Repetitivo e um bocadinho chato. Mas já voltamos ao serviço, porque a partir daqui só fica mais estranho.

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A ementa é muito parecida com aquilo que já conhecíamos do franchising: inspiração italiana com um toques mediterrânicos (podia ter sido personalizada para que a língua principal fosse o português e não o inglês, mas pronto…). Resolvemos pedir uma pasta e uma pizza, mas não sem antes passar por umas entradas (sendo que deixamos as tábuas para outra altura).

As três entradas que pedimos chegam ao mesmo tempo à mesa e provocam mixed feelings (já que estamos num registo britânico): o Crispy Squid (que são lulas fritas com chilli, alho e salsa, servidas com maionese de alho) é muito bom, equilibrado a nível de sabor; os Pumpkin Arancini (bolinhas crocantes panadas de risotto com abóbora e pecorino) são fenomenais, e deixam-nos com vontade de pedir mais uma dose; e os Crunchy Italian Nachos… não têm nada a ver com nachos. São assim uma espécie de raviolis secos, só massa, sem sabor nenhum. Felizmente o molho de tomate que os acompanha é delicioso.

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Mas voltamos um passo atrás, ao serviço, porque foi a partir desta altura que as coisas começaram a ficar… estranhas. A empregada que nos trouxe as entradas literalmente atirou o prato dos “nachos” para cima da mesa… e alguns saltaram do prato para a mesa. E foi com um “Oh Caraças!!!” que ela pegou nesses nachos caídos e os voltou a pôr dentro do prato! Sim, assim do nada. À nossa frente, a rir. E depois foi embora. E nós ficámos meio embasbacados a olhar um para o outro…

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Ora bem, terminadas as entradas, chegam os pratos principais. Pedimos a Pizza Gennaro’s Spicy Sausage, que tem molho de tomate doce, chilli, salame picante, grelos aromatizados com alho e mozzarella. A base é muito boa, sólida e ao mesmo tempo crocante, assim como são muito bons os toppings. Produtos frescos e uma conjugação vencedora.

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Por outro lado, a Pasta: Crab Spaghetti, que é como quem diz esparguete com carne de sapateira, chilli, funcho, alcaparras, coberto com raspas de limão e azeite. Um bom prato, mas que precisava de muito mais raspas de limão para ter um maior contraste de sabor, que acaba por ser demasiado doce. Ainda assim, um bom prato. Mas custa 16€…

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Ora, durante os pratos principais há todo um “festival” de interacção com a mesma empregada que protagonizou o episódio dos nachos. Não sabemos se faz parte do briefing aos empregados serem demasiado próximos dos clientes, mas aqui entramos no campo do exagero. Porque começa com um “então? estão a gostar, não estão?” e rapidamente passa para um “desculpem lá eu não estar tão bem disposta como é costume, mas hoje estou um bocado cansada”, enquanto levanta as coisas da mesa ao lado da nossa. Ao que se segue o “sabem como é, são muitas horas de seguida aqui, e a gente fica cansada! Mas acreditem, eu gosto muito disto, adoro trabalhar aqui, mas são muitas horas!” Seguido do pedido de desculpas “por isso desculpem lá se parecer menos bem disposta”… Simpatia é uma coisa, mas este é um registo completamente diferente. E estamos apenas a fazer um resumo!

Voltando à comida, estamos quase no fim. Faltam as sobremesas, das quais pedimos o Vin Santo Tiramisú (que não precisa de tradução, é um tiramisú) e o Amalfi Lemon Meringue Cheesecake (cheesecake de limão com merengue). Sobremesas que nos parecem muito apetitosas à primeira vista, quando chegam à mesa…

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… mas que rapidamente percebemos que são só “fachada”. O merengue é um exagero a nível de proporção, e por isso desistimos da sobremesa, mas o pior é o tiramisú, completamente seco e duro, ao ponto de também desistirmos a meio.

Durante as sobremesas, e porque o almoço tardio termina já perto das 17h, podemos ainda ouvir as várias empregadas a falar alto enquanto preparam as mesas para o jantar. Ele são combinações para o que vão fazer depois do turno, discussão sobre quem é que monta esta ou aquela mesa, enfim, tudo à nossa frente. Literalmente à nossa frente. Se calhar com os turistas isto passa mais despercebido…

jamies italian lisboa

Deixamos metade das sobremesas nos pratos, e a mesma empregada desfaz-se em desculpas. Vários pedidos de desculpa, e novamente como se fôssemos amigos de longa data. Demasiado forçado, teatral ou inconveniente, chamem-lhe o que quiserem.

E no final deste almoço tardio, pagámos quase 40€ por pessoa, e bebemos cerveja. Um preço que não só não se ajusta a Lisboa, como não se ajusta a um restaurante italiano, nem a um sítio que parece um pub, nem àquilo que comemos ou ao serviço com que fomos presenteados.

jamies italian lisboa

Ou seja, e voltando ao termo inicial, o Jamie’s Italian Lisboa é mesmo um “melting pot”. Mas não necessariamente no bom sentido. Porque se o conceito em si já é um pouco confuso – comida italiana “genuína” num espaço que parece um pub inglês – então o serviço demasiado “à vontadinha” faz-nos lembrar do preço que vamos pagar pela refeição. Que fica demasiado elevado. No fundo, é um italiano demasiado caro. Mas com nome de Chef.

Se vai continuar a ser um sucesso? Claro que vai! Porque a zona é a ideal, porque o turista sente-se atraído e, principalmente, porque o português gosta de se sentir integrado. Ficamos orgulhosos por este tipo de restaurantes abrirem em Lisboa e por isso vamos lá, recomendamos, etc. etc. Sinceramente, há muitos outros restaurantes italianos em Lisboa que dão 15 a 0 ao do Jamie. E outros tantos de Chef que também o fazem. E todos eles com um serviço menos… “estranho”.

Mas o marketing é uma coisa lixada… 😉

Preço Médio: 35€ pessoa (com cerveja)
Informações & Contactos:
Praça do Príncipe Real, 28 A | 1250-184 Lisboa | 925 301 411

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