A comida. Os vinhos. O ambiente. A vista. Tudo.
Repetimos várias vezes que não é só a comida que faz um restaurante. Nem tão-pouco é o nome do Chef, ou o grupo a que pertence. Nem a decoração ou a sua localização. E muito menos o preço. No fundo, é um conjunto de vários factores, onde estes que escrevemos em cima também estão incluídos, mas onde faltam mais uns quantos. E é por isso que, sempre que vamos a um restaurante, tentamos abstrair-nos de um pormenor em específico e concentrar-nos na experiência global. No caso dos restaurantes de cozinha de autor (de Chef, se preferirem), somos ainda mais atentos aos pormenores, porque geralmente o preço implica uma experiência em que todos os pormenores são pensados e não têm falhas.
Ora, conhecemos a história do Chef Miguel Castro e Silva desde os tempos do Porto (com os míticos Bull & Bear e bbGourmet), mas a verdade é que só o acompanhamos desde que se “mudou” para Lisboa. A começar pelo Largo (sobre o qual já escrevemos aqui, na altura em que o Chef lá estava), e depois nos já fechados De Castro Elias e De Castro Flores. Mais recentemente estivemos no Less, na Embaixada, e adorámos ver aquilo que o Chef Miguel é capaz de fazer – sobre o Less podem ler aqui.
Foi por isso que ficámos muito entusiasmados ao saber que seria ele o responsável pelos dois restaurantes do novo hotel The Lumiares, no centro do Bairro Alto. Um hotel que, por si só, merece uma visita. Mas por mais interessante que seja o hotel, é quando subimos ao último piso que percebemos qual é o principal cartão de visita do Lumni: a vista extraordinária do seu terraço! Vista para o Tejo sim, mas com o enquadramento da cidade, o que a torna ainda mais bonita! E que vai fazer com que seja um dos spots desta próxima Primavera e Verão, sem dúvida nenhuma!
Mas o terraço e a sua extraordinária vista é só um dos aspectos que faz do Lumni um restaurante muito especial. Até porque a cozinha do Chef Miguel sempre nos habituou a surpresas, mas com uma base familiar. Explicamos mais à frente 😉
Até porque podemos nem sair para a esplanada e já vamos sentir que estamos num espaço de alguma forma único. O Lumni está naquele registo sofisticado mas com apontamentos de irreverência, dos quais se calhar não estaríamos à espera. Na entrada, o balcão do bar, onde há cocktails de autor, e no fundo da sala uma parede com quadros… que à primeira vista parecem clássicos, mas que um olhar mais próximo mostra que todos têm óculos escuros. Divertido.
E se o espaço tem o equilíbrio perfeito entre o sofisticado e o irreverente, o serviço anda também num registo de uma informalidade controlada. Ou seja, sentimos o cuidado de um restaurante deste nível, mas ao mesmo tempo uma capacidade de nos deixar à vontade. Muito bom.
A ideia do Chef para este restaurante é muito focada: o Lumni é um espaço de cozinha mais experimental que espaços como o Less. Talvez por isso mesmo a cozinha aberta, como que a mostrar que não há nada a esconder. Um risco, mas um risco calculado quando se pretende uma experiência intimista e fora do comum.
Um olhar para a carta mostra-nos pratos que já conhecemos mais ou menos de outros projectos do Chef, e reforça aquilo que já sabemos da sua cozinha: uma base muito próxima da cozinha tradicional portuguesa, um pouco de todo o País, mas onde se misturam técnicas e elementos mais modernos e internacionais.
Podíamos ter optado pelo menu de degustação, que inclui 7 pratos (por um valor de 55€). Mas resolvemos pedir à carta.
E começamos com uma versão do Trio de Peixes, aqui reduzido a Duo: Salmão curado com vinagreta de framboesa e Atum à Japonesa, vinagreta de balsâmico e soja. Dois peixes completamente diferentes e trabalhados de forma distinta, ambos a transportar-nos para outros lugares. Uma viagem num pequeno prato, e uma viagem maravilhosa.
Depois, um clássico do Chef, e um prato que escolheríamos em qualquer ementa de qualquer tipo de restaurante. O Pregado e legumes com arroz de lingueirão é um prato muito nosso, com sabores muito portugueses, mas onde o funcho, a cebola e a cenoura numa espécie de pickle em cima do peixe fazem lembrar outros sabores mais orientais. Lá está, aquele toque de inovação que o Chef traz a um prato tão tradicional. E o arroz de lingueirão… bom, não há palavras! Faz-nos sentir no Algarve, numa noite de Verão. Fantástico!
E depois do peixe, venha a carne, aqui com outro clássico do Chef, e um daqueles pratos de conforto que, por mais que tenha uma apresentação elegante e uma ou outra técnica mais sofisticada, nunca deixa de ser um prato de conforto: o Porco Ibérico & Alcachofras, com milhos de Paio Alentejano. O porco está perfeito, tenro, saboroso, o puré com alcachofras acompanha-o bem, mas a verdadeira surpresa deste prato é o “milho”, que no fundo é uma espécie de polenta com pedaços de paio. Muito, muito bom!
Esta cozinha de autor é muito diferente daquilo que os Chefs mais novos fazem, mas isso é que destaca o Chef Miguel Castro e Silva (e outros – poucos! – da sua geração). A sua criatividade está na forma de revestir aquilo que conhecemos da casa dos nossos pais e dos nossos avós, no pegar na cozinha portuguesa e mostrar que ela pode ser sofisticada e moderna sem perder a sua alma.
Para sobremesa, dividimos o Mil-folhas de Amêndoa com sorvete de goiaba, sem dúvida o prato menos “tradicional” da noite e, se calhar por isso mesmo, aquele que achámos menos interessante. É uma sobremesa muito boa, sem dúvida, mas num registo diferente do resto do jantar. Enfim, é uma questão de gostos 🙂
Saímos do Lumni mais uma vez rendidos à cozinha do Chef Miguel Castro e Silva. Pela técnica, sim, mas principalmente pela constante procura de trazer uma dose de modernidade e sofisticação a pratos e sabores tão enraizados na nossa cultura.
Os preços não são os mais baixos, mas também estão longe daquilo que seria de esperar num Hotel como este e num restaurante de cozinha de autor. Além disso, agora que os dias começam a ficar menos frios, o almoço no Lumni é sempre uma boa opção: há menus entre 20€ e 28€, que incluem dois, três ou quatro pratos (sopa, entrada, prato e sobremesa), sempre com sugestões da carta. O que significa que podem conhecer bem a cozinha do Chef.
Mas além da cozinha, há uma conjugação perfeita de factores que fazem do Lumni um restaurante a ter em conta no panorama do fine dinning lisboeta. É o serviço 5 estrelas, o espaço cuidado e cheio de pormenores, o bar e, claro, a vista. Porque um restaurante é sempre mais do que apenas um factor, e aqui percebe-se como tudo se consegue conjugar numa experiência fantástica. O Chef Miguel Castro e Silva e este seu Lumni “correm o risco” de se tornarem numa referência incontornável no cenário gastronómico da cidade. Por nós, já lá estão. E num lugar de destaque!
Preço Médio: 38€ pessoa (com vinho a copo)
Informações & Contactos:
Rua do Diário de Notícias 142 | 1200-146 Lisboa | 21 1160210
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