Já desde que estive em Nova Iorque que achei que os EUA são exactamente aquilo que estamos à espera. Isso não significa que não gostemos e que não tenhamos surpresas, mas, se olharmos com atenção, acabamos por encontrar todos os clichés que estamos habituados a ver em filmes, séries e reality shows. Clichés a nível das próprias cidades mas, acima de tudo, a nível das pessoas. E em Miami Beach (ou Miami, em geral) isso é ainda mais notório. É visível a influência hispânica pelas ruas, onde durante o dia temos malta “bombada” vestida com calções e t-shirts de alças (e sempre com um boné, claro), para à noite trocarem para os jeans, a camisa aberta até ao umbigo e os fios de ouro. Não, não estou a gozar. Agora é fazer o mesmo paralelismo para os espécimes do sexo feminino. É exactamente o tipo de malta que vemos nos reality shows da MTV, ou seja, não são personagens.
Mas não são só as pessoas que sentimos serem um cliché. Os restaurantes, os bares, as ruas, a praia ou, se formos mais para dentro de Miami, as zonas quase tipo guettos, onde vamos a malta hispânica a passear nos Lowriders. Tudo em Miami Beach parece tirado de um filme. Mas isso nem é mau, porque assim já vamos à espera. E conseguem-se passar uns 3 ou 4 dias porreiros por lá, antes de seguir para outro destino culturalmente mais interessante… ou simplesmente com melhor praia.
De seguida deixamos algumas sugestões para 4 dias em Miami Beach, sem nenhum roteiro predefinido. Sítios, restaurantes, coisas para fazer. Divirtam-se! 🙂
Um passeio na Ocean Drive… e marisco do bom!
Miami Beach é, se quisermos ser simplistas, a avenida Ocean Drive, que acompanha a praia em si. Tudo nasce da praia, e esta longa avenida segue paralela a ela, até terminar no pontão. Palmeiras e praia de um lado, edifícios do outro, durante alguns quilómetros. Um passeio pela Ocean Drive permite-nos logo perceber aquela que é uma das características mais marcantes de Miami Beach: o estilo Art Deco espelhado na arquitectura. Sucedem-se edifícios que apetecem fotografar, edifícios que parecemos já conhecer, ou reconhecer de filmes.
Do lado oposto, as palmeiras e a extensão gigante de praia. Temos as típicas casas dos nadadores-salvadores (que são típicas para nós porque nos entraram casa adentro via tv), temos malta toda “bombada” a fazer exercício, enfim, temos o esperado. E, no final da avenida, temos o South Pointe Park Pier, um pontão de onde temos uma vista maravilhosa para a praia (de um lado) e a marina (do outro).
Segundo pela zona da Marina, percebemos porque é que Miami Beach é considerada um destino de luxo. Os barcos (e iates) ali parados são todos impressionantes, assim como toda a envolvente. Sente-se no ar, é quase palpável, acreditem. É um bom passeio para percebermos como o “outro lado” vive 😉
E esta passagem pela Marina serve de enquadramento perfeito para ir almoçar a um dos restaurantes mais conhecidos (e turísticos) de Miami Beach. O Joe’s Stone Crab é tipo o Ramiro lá da zona, mas com marisco menos bom e um serviço muito mais formal. Várias salas, completamente cheio, com um misto de turistas e locais, toda a gente a optar pelos combinados de marisco variado. O marisco é bom, ainda que não tenha tanta variedade como nós temos por cá, e se baseia muito no caranguejo (daí o nome) e derivados. De qualquer forma, é uma experiência obrigatória quando em Miami Beach, e nem é tão caro como parece de início.
Wynwood: street art… e tacos!
Damos agora um salto até fora de Miami Beach, já mais na zona central da cidade, onde temos o Miami Design District, uma zona mais nova, cheia de comércio, mas daquele de topo. Lojas caras, de design, de criadores de todo o Mundo… para gente com dinheiro, claro. É giro para ir passear e ver lojas, mas é só mesmo pelas lojas, porque o ambiente em volta é quase dormitório.
Felizmente, a zona de Wynwood está a uns 15 minutos de distância a pé. E aqui já se vão sentir mais integrados, porque é uma zona artística na mesma, mas mais virada para a street art e para tendências mais alternativas. As ruas são amplas, os edifícios baixos e quase todos estão grafitados, mas com verdadeiras obras de arte! O simples passeio pelas ruas é extremamente engraçado, porque vamos vendo pormenores diferentes nas paredes, entrando em galerias de arte, lojas vintage, enfim, coisas muito giras.
E o ex-libris desta zona é um espaço fechado, mesmo no meio do bairro: Wynwood Walls, uma espécie de galeria de arte ao ar livre, com vários edifícios grafitados por artistas de rua conhecidos internacionalmente. Há lojas, galerias, instalações, muita coisa para fotografar… e lá pelo meio até há uma parede com um Vhils e uma instalação do Bordallo II! É uma paragem obrigatória numa viagem até Miami.
Até porque, não muito longe do Wynwood Walls, temos um daqueles restaurantes que estava em todos os guias e publicações, mas também que nos foi aconselhado por outras pessoas que já tinham estado em Miami antes. O Coyo Taco – cadeia que já podem encontrar em Lisboa, e sobre a qual escrevemos aqui – tema os seus restaurantes mais emblemáticos aqui em Miami e este é um deles.
Tudo acontece à volta do balcão onde pedimos o que queremos e vemos os tacos a serem feitos (com os pedidos a serem atirados de um lado para o outro através de um estendal). Muito barulho, muita confusão, mas daquela confusão boa. E por falar em coisas boas, os tacos são “fucking awsome”!!! Bem servidos e condimentados, assim como o guacamole e mesmo as saladas ou o milho frito. Pena que o restaurante de Lisboa não tenha conseguido trazer para cá o espírito do espaço de Miami, porque acreditem que vale mesmo a pena!
A noite de Miami Beach…
Na introdução já falei um pouco acerca das pessoas de Miami Beach, e da forma como se transformam da noite para o dia. Mas a verdade é que há muitas zonas diferentes e muita coisa que se pode fazer. Desde coisas mais “bimbas” até outras mais despretensiosas e divertidas.
Há zonas completamente dedicadas a restaurantes e bares, como a Española Way, onde encontramos de tudo um pouco a nível de restauração. Aliás, não só essa rua, mas toda esta zona mais central da Washington Avenue está repleta de opções de animação noturna (restaurantes, bares, discotecas, de todos os géneros… todos, mesmo!).
É nesta zona que podemos encontrar a “melhor pizza de Miami” (podem ler um pouco mais à frente) e também um daqueles restaurantes que nos foi referenciado como um dos melhores de Miami Beach: o SushiSamba. Que, como o nome indica, é assim uma mistura de brasileiro (de toda a América do Sul, vá…) e oriental (maioritariamente sushi, claro), onde depois ainda aparecem pratos africanos saiba-se lá porquê.
E isto resume-se a uma ementa cara, com sushi demasiado normal, ceviches mal “anjorcadas”, e uma picanha que comemos melhor por cá no Chimarrão. E, claro, com um serviço a roçar o arrogante e nada competente. Foi a pior experiência de restauração que tivemos em Miami Beach.
Mas depois há outro registo. Porque Miami parece ser o birthplace daquele tipo de restaurantes todos a atirar para o sofisticado que se transformam em discotecas a partir de determinada hora. Empregados saídos de um catálogo de moda, música alta, gente muito bimba mas com roupas e acessórios muito caros, garrafas de champanhe com fogo preso. Estão a ver o filme, certo?
Um desses restaurantes – um dos mais procurados na zona de Miami Beach – é o Bâoli, onde temos uma sala interior cheia de pinta, toda a atirar para o sofisticado, e depois uma zona exterior que se transforma numa enorme pista de dança (com direito a empregados a dançar em cima do balcão do bar, confettis, canhões de CO2 e pirotecnia… sim, isso tudo!).
E o que é que se come no Bâoli, se é que isso interessa? Come-se sushi, cheio de fusão; comem-se coisas com influência sul-americana (tacos, ceviches e outros afins); come-se carne, bifes vários, servidos em tábuas (porque as modas são modas em todo o mundo). Come-se caro para a qualidade, mas Miami Beach é mesmo assim: uma fachada cara para conteúdo mediano.
Street Food e coisas assim.
Mas há muito mais para comer em Miami, especialmente na rua. Desde restaurantes de cadeias fastfood até pequenos espaços com tanta notoriedade que levam a filas imensas, aqui temos vindas de todo o Mundo, mas com especial destaque para a América Latina.
Por exemplo: um dos sítios que tínhamos mesmo referenciado ir é o La Sandwicherie. Que, pelo nome, até pode dar impressão de ter influência francesa. Só que não… Sandes XXL, daquelas que se comem em Cuba, bem recheadas com tudo e mais alguma coisa, daquelas que a maioria das pessoas não consegue acabar sozinha.
Mas se estiverem mais virados para um simples burger, então a melhor opção é mesmo o Five Guys. Malta, isto é daqueles hambúrgueres mesmo gulosos, cheios de molhanga, carne tenra e no ponto, pão sem se desfazer, tudo delicioso. Até o raio das batatas são viciantes! E, tendo em conta os preços praticados em Miami Beach, fica bastante barato.
A melhor Pizza de Miami!
Pelo menos, é o que está escrito na sinaléctica na porta, que é o que nos faz entrar. o La Leggenda é a casa do Giovanni, o dono e pizaiolo do restaurante, que fala com orgulho nas distinções que tem ganho ao longo dos anos, com uma simpatia contagiante.
Há várias coisas boas nesta ementa, mas o destaque são mesmo as pizzas, com massa alta e fofa, poucos ingredientes mas muito saborosos. São, sem dúvida, as melhores pizzas que comemos em Miami… mas também só comemos estas! 😉 Mas sim, são muito boas, e o ambiente e simpatia acabam por fazer o resto, que é transformar este jantar numa das melhores experiência que tivemos nestes 4 dias em Miami Beach.
E, como se não bastassem as pizzas e tudo o resto, há ainda uma sobremesa que é uma espécie de calzone aberta, cheia de Nutella e pedaços de massa. Uma sobremesa que nos fez voltar lá no dia seguinte, depois de outro jantar. Pois!
Na praia é que se está bem…?
Pois que… é um “nim”. Areia branca, sim, grande extensão também. O landscape são os hotéis e arranha-céus, o que lhe dá assim um ar de Quarteira. A água não é especialmente quente mas o mar é mais ou menos calmo. Devido à sua extensão, não haverão grandes multidões, de certo. Mas como quem vai a Miami Beach fica num hotel – e todos os hotéis têm piscinas – pareceu-me que a praia era mais para os locais do que para os turistas. Ainda assim, é bom saber que temos essa opção.
Bayfront, Bayside e um jogo da NBA!
Saindo novamente da zona de Miami Beach, temos a zona costeira chamada Bayfront Area. Uma zona mais moderna, mais executiva, dominada pelo Bayfront Park, onde se pode passear durante várias horas. Outro destaque desta zona é a Freedom Tower, um local histórico para a cidade e que, ao cair da noite, ganha cores que o fazem destacar-se do restante ambiente cinzento dos prédios.
Também nesta zona temos o Bayside Marketplace, uma enorme galeria comercial semi aberta, com todo o tipo de lojas e restaurantes. É bom para ir passear ao final da tarde, a fazer tempo…
… para um jogo dos Miami Heat! Os EUA são a casa da NBA, e é quase um sacrilégio ir até qualquer uma destas cidades e ir ver um jogo (ou tentar, pelo menos). O jogo em si nunca é tão dinâmico como vemos na televisão, mas a experiência vale pelo ambiente: animação constante, malta a fazer cânticos, brindes, enfim, é uma festa!
E uma festa onde também há comida! No deambulatório da Arena temos imensas bancas com comida, maioritariamente fast food, como não podia deixar de ser neste contexto. Algumas coisas mais americanizadas, como este burger de pulled pork que podem ver na foto em baixo. É escolher, pagar e voltar para o jogo… ou antes, para a festa!
Mas também há coisas mais sérias…
Sim, é verdade, Miami Beach não é necessariamente só festa, também há coisas sérias. Como por exemplo, o Memorial ao Holocausto . Uma estrutura imponente, uma homenagem às vítimas, um local de reflexão, que vale a pena visitar. Mais que não seja para quebrar com o resto da cidade.
Mas há mais. Há galerias de arte, museus, bibliotecas. Miami Beach é maioritariamente festa e praia, é verdade, mas também tem alguma cultura. Por isso, há um pouco para todos os gostos.
Everglades: o sítio dos crocodilos… amestrados.
Outra das coisas que queríamos imenso fazer era ir à zona dos Everglades… para ver os crocodilos! Ou assim mais ou menos, vá. Porque a experiência está montada de forma a fazer uma tour de hoovercraft durante o início da manhã, onde podemos – sim, podemos – conseguir ver os crocodilos nos pântanos, o seu habitat natural. O nosso barco vê um, muito ao longe, os outros nem por isso. É pena, mas é verdade que não nos dão garantias absolutas que isso aconteça.
Ainda assim, e por mais que lhe queira chamar “tourist trap”, a verdade é que faz parte da experiência turística de Miami. Sim, só vamos ver crocodilos amestrados, em zonas artificiais, ou em espectáculos programados. Onde podemos ver truques com os bichos e até pegar neles.
Vale o que vale, mas eu passei uma manhã nisto na mesma. É como ir a Roma e não ir ao Vaticano… é o que dizem, não é? Vão tirar fotos engraçadas, vão andar de hoovercraft (que por si só já é uma experiência gira), vão conhecer um pouco mais sobre a cultura indígena americana.
Ou seja, e para terminar, há muita coisa para fazer em Miami Beach, mas apenas por uns poucos dias, porque depois começa a ficar repetitivo. É um sítio para ir viver uns dias divertidos, gastar dinheiro, sair à noite e, se der tempo para isso, aproveitar a praia.