Pouco genuíno… e muito caro.
Bom, é importante fazer uma nota prévia sobre a nossa “relação” com O Frade. Isto porque aquilo que vão ler de seguida não é completamente positivo, e pelos vistos não se pode não gostar deste restaurante. O buzz em torno do espaço nos últimos anos e especialmente o mediatismo do Chef Carlos Duarte Afonso transformaram O Frade num daqueles sítios onde é preciso ir, adorar, tirar fotos, dizer que lá estivemos e aconselhar a toda a gente. Sabem aquela festa de faculdade em casa de alguém onde todos querem ir, porque senão forem deixam de pertencer ao “grupo dos fixes”? É isto, mas no que respeita a restaurantes.
E atenção: nós queríamos muito gostar d’O Frade. Queríamos mesmo muito, porque não só fica perto de nossa casa, como porque a ideia de comida alentejana é sempre vencedora, mas também porque é um sítio que tem pinta. É daqueles restaurantes de que se quer gostar, não consigo explicar isto melhor. E foi por isso que, depois da decepção da primeira visita, quisemos voltar. Porque queríamos mesmo que corresse tudo bem e que se tornasse num restaurante regular. Só que não…
Voltamos então ao que escrevemos no final do nosso primeiro jantar n’O Frade, sobre como tudo estava a correr bem… até chegar a conta. Sendo que até somos daquele tipo de pessoas que não se importam de gastar dinheiro com um jantar. Mas, claro, se percebermos que o que estamos a gastar é justo, adequado à experiência. E n’O Frade, nessa primeira visita, sentimos que fomos “roubados”! O termo pode parecer demasiado agressivo mas foi com este feeling que de lá saímos.
Foram várias as situações: sugeriram-nos demasiados pratos para as 3 pessoas que éramos, sugeriram-nos vinho a copo (o mais caro da carta, por sinal), fizemos refill do mesmo vinho e cobraram-nos o preço dos copos em vez da garrafa, no final sugerem-nos uma aguardente caseira que é servida abaixo da marca e custa 7,5€. Sentimo-nos turistas, daqueles que vagueiam ali pela zona de Belém e que acabam por entrar num restaurante que tem boa pinta, e que podem ser “enganados” porque nunca mais lá vão voltar.
Foi isto que escrevemos sobre a nossa primeira experiência n’O Frade… e foi isto que motivou o maior número de críticas e ódio gratuito que já alguma vez tivemos desde que começámos a escrever sobre restaurantes. Honestamente não lemos todas as centenas de comentários que recebemos, mas dos que lemos a grande maioria acusava-nos de querermos refeições à borla (LOL) ou de estarmos a mentir (LOL ainda maior). E podemos apostar uma mãozinha, se quiserem, que grande parte das pessoas que comentaram uma experiência que tivemos nunca sequer colocaram os pés n’O Frade. Mas o restaurante tem fama, o Chef aparece nos programas da Cristina Ferreira… e nas redes sociais é mais fácil seguir a “carneirada” do que ter opinião própria. Pronto, é o que é.
A verdade é que O Frade nos ficou “atravessado”, porque muita gente que conhecemos e respeitamos continua a adorar o restaurante. Por isso, sabíamos que tínhamos de voltar, e preferencialmente com outras pessoas, para poder ter opiniões completamente novas sobre o sítio. Foi o que fizemos, com um casal nossa amigo, eles também muito habituados a restaurantes de todos os géneros.
Neste segundo jantar – e ao contrário do que aconteceu no primeiro – nenhum dos dois responsáveis do espaço estava no restaurante. Na primeira vez fomos atendidos pelo Sérgio Frade e o Chef Carlos Duarte Afonso estava na cozinha. Desta vez, nenhum dos dois. Aliás, passamos pelo Frade praticamente todos os dias a caminho de casa… e não vemos lá nenhum dos dois há bastante tempo. Enfim… Talvez por isso, ou simplesmente porque a fama o permite, o serviço foi muito pior do que na primeira visita. Além da constante recomendação dos pratos mais caros da lista e do facto de darem o vinho a provar aos dois homens na mesa (deixando as senhoras a olhar), os empregados pareceram não estar preparados para quem fale em português e faça questões, que questione os preços da ementa, que interaja com eles. São percepções, é verdade, mas sentimo-nos como se fôssemos privilegiados por estar a jantar n’O Frade, quando devia ser o contrário.
Outra coisa que mudou n’O Frade desde a nossa visita inicial foi a apresentação dos pratos, assim como o tamanho das doses. A nível de apresentação, e talvez derivado da fama que o restaurante foi ganhando ao longo do tempo, tudo ficou mais bonito, mais trabalhado, servido em latinhas em vez dos típicos pratos alentejanos, com um empratamento exagerado para algo que se quer o mais misturado possível. Aliás, podem ver nas fotos seguintes a evolução de dois dos petiscos mais pedidos: o Coelho de Coentrada e o Pato de Escabeche.
Não temos nada contra apresentações pomposas para pratos simples. Mas não é preciso, percebem? Não é preciso ter uma gema de ovo curada e sementes de mostarda em petiscos que se querem é apurados e intensos de sabor, e que como são para misturar, não importa muito a apresentação. Na nossa primeira visita, ao olhar para os pratos, lembrámo-nos do Alentejo; agora? Não, de todo. E pior do que a apresentação é o sabor… porque nenhum destes dois petiscos estava tão bom como no primeiro jantar. O escabeche precisava de muito mais acidez e a coentrada não tinha um sabor intenso… a coentros. Pois, não basta colocar uns ramos de coentros em cima do pratos para lhe chamar uma coentrada. E isto digo eu, que não sou cozinheiro.
A questão principal da comida como actualmente é confeccionada n’O Frade… é que tudo sabe mais ou menos ao mesmo. Se usas os mesmos ingredientes para “decorar” os pratos, eles vão saber ao mesmo! Uma gema de ovos curada, pickles de cebola roxa e sementes de mostarda no Pica-Pau vão fazer com que ele saiba mais ou menos ao mesmo que o Pato de Escabeche, infelizmente. E isso não é só absurdo, é mesmo uma vergonha para a comida alentejana tradicional.
Voltando ao que mudou n’O Frade, o tamanho das doses, que encolheu. Os empratamentos estão mais elaborados desnecessariamente (na nossa opinião) mas as doses estão efectivamente mais pequenas. O que significa que um prato como o Sarrajão Marinado com Coentros e Limão, mesmo sendo bom e tendo o sabor que esperávamos, ao ser dividido por 4 pessoas transforma-se em três pedacinhos de peixe a cada um…
Há outros pratos melhor conseguidos no restaurante, é verdade, e alguns que transitaram ao longo do tempo. Por exemplo, a Muxama de Atum com Ovos, onde as proporções podiam ser revistas (são demasiados ovos para tão poucas e tão finas fatias de muxama); ou a Papada de Porco, gulosa, bem puxada ao alho e com um piso de coentros interessante mas que, por ser demasiado, acaba por se sobrepor ao sabor do porco. Papada não é para toda a gente, percebemos isso, mas se querem servi-la, é assumir o sabor.
As Lulas com Grão e a Galinha Acerejada foram dois pratos que entretanto saíram da ementa, o que é uma pena, porque os sabores eram muito interessantes, dois pratos de conforto daqueles que esperamos num restaurante alentejano. Mas, por falar em conforto, temos agora n’O Frade a Empada Especial do Chef, que foi um dos destaques do nosso segundo jantar no restaurante. Recheio de caça muito bom, cheio de sabor, e massa crocante como se quer. Quando percebemos que as doses tinham ficado (ainda) menores, fomos pedindo mais empadas.
A carta de petiscos não se fica por aqui, há ainda mais uns quantos. Por isso, e tendo em conta que o conceito do restaurante é o de partilha, faz sentido que não existam muitos pratos principais. Uma feijoada de polvo e um arroz de pato que não provámos em nenhuma das duas visitas, e depois um especial do dia. No primeiro jantar, o Arroz de Robalo que escolhemos ficou-nos na memória por ter sido o melhor prato da noite. Desta vez foi outro arroz, um Arroz de Corvina, muito apurado e bem servido de peixe, com o arroz no ponto ideal de cozedura. Muito bom mesmo, e só não é o melhor da noite por causa das ditas empadas.
Ainda antes de falar sobre as sobremesas, uma palavra para os vinhos. O Frade só serve vinhos biológicos ou da talha, e com preços um pouco inflaccionados. Sim, sabemos perfeitamente que estes vinhos já são mais caros do que os vinhos correntes, mas uma das nossas companhias à mesa é bem versada em vinhos e chamou imediatamente a atenção para o facto das referências estarem com preços mais altos do que os praticados noutros restaurantes. Estamos em Belém, não é?…
Finalmente, as sobremesas. Que, e correndo o risco de ser repetitivo, aumentaram na complexidade e distanciamento do tradicional, ao mesmo tempo que reduziram no tamanho das doses. Nas fotos em baixo podem ver a Encharcada, o Requeijão e Mel e a Aletria do nosso primeiro jantar…
… e comparar com a Pêra Bêbada, o Toucinho do Céu e o Creme de Leite de Cabra da visita mais recente.
É verdade que chega a certo ponto que já estamos em “velocidade de cruzeiro”… mas porque é que um toucinho do céu precisa de um sorbet a acompanhar (ainda por cima colocado em cima do próprio pudim!) e flores comestíveis a decorar?! Se os petiscos já os faziam, as sobremesas actuais d’O Frade trazem um afastamento ainda maior da realidade da genuína comida alentejana, tanto a nível de apresentação como de sabor. Destas três, a melhor conseguida – também por ser a mais simples e por isso ter sabores mais claros – é o creme de leite de cabra, uma variante engraçada de um leite creme tradicional. As outras duas têm demasiado elementos, e isso faz com que a confusão de sabores se sobreponha a um ou dois em específico. É pena…
No fundo, e mesmo tirando da frente a questão do preço que continua a ser o que mais nos desagrada n’O Frade, especialmente quando o relacionamos com a quantidade servida, aquilo que sentimos agora foi falta de identidade. O restaurante está famoso, então os pratos estão mais chiques, com uma apresentação mais elaborada, mais pequenos… e com sabores muito menos interessantes do que na nossa primeira visita. Até porque a comida alentejana, especialmente neste registo de petiscos, não precisa de gemas de ovo curadas, pickles de cebola roxa ou sementes de mostarda. Tudo isso fica melhor nas fotografias, é verdade… mas será que é isso que realmente importa?
Mais uma vez, isto são opiniões. E sim, sabemos que vamos levar com mais uma quantidade exagerada de comentários negativos, a dizerem que queremos é borlas e que não estamos a ajudar a restauração. Comentários esses que podem vir de pessoas que efectivamente já foram ao Frade e gostaram… ou simplesmente de pessoas que viram o Chef nos programas da Cristina Ferreira e acham-se defensores da honra alheia. Seja como for, a nossa opinião é esta. E O Frade continua a não nos convencer, pronto. Nem pela comida (que já nem é tão genuína como era de início), nem pelo serviço (que piorou bastante), nem pelos preços praticados (especialmente quando temos em conta o tamanho das doses).
E sim, sabemos que vem daí “hate”. Honestamente, é para o lado que dormimos melhor. Somos honestos naquilo que escrevemos, e o nosso conceito sempre foi esse: descrever aquilo que foi a nossa experiência e o que nos fez sentir. Diretamente, sem merdas. Porque só assim é que as pessoas se podem identificar com a situação e decidir se querem ou não ir a um restaurante. Se podem existir opiniões diferentes da nossa? Claro, e ainda bem que as há! Porque é isso mesmo que caracteriza as experiências: poderem ser diferentes de pessoa para pessoa. Estas são as nossas.
Preço Médio: 42€ pessoa (éramos 4, pedimos 6 petiscos + 1 prato principal, 3 sobremesas e 2 garrafas do vinho mais “barato”)
Informações e Contactos:
Calçada da Ajuda, 14 | 1300-598 Lisboa | 939 482 939
Senti o mesmo, ainda que tenha passado mais de 1 ano da vossa review – preços estupidamente inflacionados, qualidade que deixa a desejar, atendimento de “frete”… a não repetir.
Moto – ler os artigos de “ondevamosjantar.com” antes de reservar mesa
Obrigada pela confiança, Ana 🙂
Totalmente de acordo com esta crítica.
Ganha fama e põe te à sombra,
Fui 2 vezes ao Frade, a primeira ligo no início e não me convenceu, e os preços não eram proporcionais, da segunda ainda foi pior, uma barriga de atum que cheirava mal e sabia pior, reclamei, não comemos e veio na conta como se o tivesse comido. Desilusão
“Pentear o cliente”, um clássico da nossa restauração com origem no nosso querido algarve e rapidamente adotado na metrópole com o boom do turismo. Alguém se recorda do almoço de 250€ que 1 casal de turistas pagou na baixa, num restaurante de um ex-carteirista? Basta um pouco de descaramento e o deslumbre faz o resto.
Obrigado pela informação. Assim, tenho bem melhor por aqui! Por exemplo “O Castigo”, em Évora de Alcobaça. Peticos: o Bistrô Alfredo Santos, na Marinha Grande!
Agora apagaram todos os comentários? Ridículos
É um novo review, como quer que transportemos os comentários?
Contem histórias…