O QUINTAL

Um Quintal que surpreende pela simplicidade!

É engraçado ver aparecer novas “mecas” de restauração à volta do centro de Lisboa, que habitualmente é a zona mais concorrida. E nem estou a falar de áreas tipo Cascais ou Sintra, onde a profusão de restaurantes já é elevada. Estou mesmo a falar de casos como o bairro das Colinas do Cruzeiro (onde abrem novos restaurantes todas as semanas) ou, mais recentemente, o caso da Amadora. Sim, parece estranho, mas a Amadora – onde sempre houve muitos restaurantes mas num registo tradicional – está a começar a tornar-se num pólo interessante por causa de algumas aberturas com projecção “mediática”. Claro que, ao usar o termo “mediática” estou basicamente a referir-me ao Zomato e a blogs onde se fala de restaurantes.

Ali mesmo no centro da Amadora, num espaço de 200 metros, temos o Happy Comida Caseira (sobre o qual escrevemos aqui), o Maria Azeitona (podem ler aqui) e, para completar a trilogia, o Quintal. Forte nas redes sociais e falado entre malta que vai a restaurantes, uma receita que nos desperta logo o interesse. Por isso, estava já na nossa interminável lista há algum tempo. E foi precisa uma recente visita à Amadora para decidirmos “é hoje!”

Demoramos algum tempo a estacionar e, ao chegar ao restaurante, nada de extraordinário de fora. Luminoso como tantos outros, montra para uma sala de espera… e porta fechada. Tocamos à campainha uma, duas, três, quatro vezes, batemos à porta… e nada. Foram menos de 5 minutos na rua, mas não deixa de ser desconfortável. Finalmente vemos alguém a passar lá dentro e batemos outra vez, já com sucesso. Ufa!

O primeiro impacto é francamente positivo! A sala de espera está cheia de mobiliário vintage, ou seja, é altamente instagramável. Não é necessariamente novidade – porque esta linha vintage é utilizada em muitas das “tascas modernas” que surgiram na Grande Lisboa desde 2015 – mas aqui resulta muito melhor porque não são só pequenos apontamentos! É todo um conjunto bem pensado e executado, e que pede mesmo que lhe tirem fotos. E partilhem, claro! 😉

Uns minutos passados e chamam-nos para a sala principal… onde o ambiente muda radicalmente. Primeiro, e porque o restaurante está cheio, passamos do silêncio ao barulho. Alguns grupos e crianças, o que faz com que mesmo as mesas de dois aumentem o volume da voz na conversação. Além disso, o ambiente “vintage” aqui deixa de ser um todo e passa a pormenores, o que é um bocadinho decepcionante. Percebe-se porquê, mas ainda assim, desilude um pouco…

Malta jovem como clientes, malta jovem a atender-nos, com simpatia, como se quer. Um sorriso sempre pronto e explicações na ponta da língua, mesmo no meio do “caos” de um restaurante barulhento e completamente cheio. Até agora, estamos bem!

A ementa tem muitos petiscos – a maior parte deles iguais a todas as outras “tascas modernas” que existem na Grande Lisboa – e depois alguns pratos. Não ficamos completamente surpreendidos, porque realmente já vimos isto em muitos outros sítios, mas focamo-nos nas boas coisas que já tínhamos lido acerca d’O Quintal… e seguimos em frente. Isto enquanto petiscamos um couvert muito inteligente, não só com manteiga e pão, mas também com um doce de abóbora que nos faz abrir o queijinho que está na mesma tábua. E ainda cenouras à Algarvia. Ou seja, “marcha” tudo!

Restaurante O Quintal

Pedimos 4 dos petiscos da carta, e os dois primeiro que chegam à mesa são os Pimentos Padrón (um clássico das tascas modernas) e os Ovos Rotos. Não há nada de surpreendente nestes dois pratos que nos são servidos ao mesmo tempo… a não ser o facto de não lhes podermos apontar rigorosamente nada de mal! Os pimentos vêm cobertos de uma fina camada de flor de sal, o que nos faz trincar alguns grãos enquanto tentamos encontrar um pimento que seja picante (mais uma vez, pela milésima vez, não encontramos nenhum). Também os ovos rotos são algo simples, mas que aqui são deliciosos. As batatas fritas no momento, os ovos bem estrelados e temperados, tudo bom. Sei que são petiscos simples, mas já os comemos em muitos outros restaurantes sem o mínimo interesse. E aqui são bons.

Outra coisa que geralmente pedimos quando há na carta são as Pataniscas de Bacalhau. Neste Quintal não são demasiado finas nem demasiado altas, saborosas no recheio e a massa ligeiramente estaladiça. Diria que são umas pataniscas quase perfeitas, ou pelo menos das melhores que temos comido fora de casa. 

Finalmente, para terminar os petiscos, o Tataki de Novilho. Variante do de atum, que conhecemos e gostamos, aqui cortado mais ou menos da mesma maneira e servido médio mal passado… mas se calhar devia ter vindo só mal. A carne é boa e ainda bem que a flor de sal vem na ardósia, porque precisa mesmo de tempero. O mais diferente e, ao mesmo tempo, o elo mais fraco dos 4 petiscos.

Depois, um prato principal, para dividir, ainda que se ficássemos só pelos petiscos tínhamos ficado bem. Os Lagartinhos (de porco, claro) são excelentes, pela carne e pela preparação, pelo tempero, por tudo. Mais uma vez, batatas fritas caseiras, acompanhadas de uma simples e eficaz maionese. Novamente, coisas simples… que quando bem feitas são sempre excelentes.

Ainda havia “tempo” para sobremesas, que nos são apresentadas numa bandeja para podermos ver antes de decidir. Poucas opções, mas assertivas. E com bom aspecto!

Restaurante O Quintal

No entanto, este não foi um final feliz, porque achámos as sobremesas o menos bem conseguido n’O Quintal. Pedimos a Mousse de Lima, com uma textura demasiado sólida, quando se espera que uma mousse tenha textura de… mousse. O sabor é equilibrado, sem ser demasiado ácido, mas a textura estraga tudo. E por falar em texturas que estragam tudo, aconteceu o mesmo com o Bannoffee, uma sobremesa que resulta sempre bem em tarte, mas que nesta espécie de mousse nem por isso. Até porque ao contrário da outra, esta textura é demasiado líquida, e por isso não se percebem as camadas de sabores (caramelo, banana…), está tudo misturado. É uma pena…

Restaurante O Quintal

Ora, mesmo com este percalço das sobremesas, a verdade é que o nosso jantar n’O Quintal foi bastante bom. Aliás, bastante melhor do que esperávamos, tendo em conta o registo de restaurante em que se insere. Honestamente, estamos um bocado cansados das “tascas modernas”, porque geralmente seguem uma linha pré-formatada e são sempre a mesma treta. No caso d’O Quintal, o que sentimos foi diferente. Sentimos que há gosto por servir as pessoas, e por servir comida feita com carinho. Comida simples, como aquela a que chamamos “comida de conforto”. Mas as coisas simples são, geralmente, as melhores.

O Quintal tem um posicionamento e faz o que quer fazer, muito bem! E numa zona que está a ficar cada vez mais interessante a nível de restauração, O Quintal de certeza que vai ter um papel importante a desempenhar.

Nós vamos voltar de certeza.

Preço Médio: 20€ pessoa (vários petiscos e prato a dividir, com vinho)
Informações & Contactos:
Rua Bernardim Ribeiro, 5 B | 2700-111 Amadora | 21 493 0380

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