PANORÂMICO by CHEF MARLENE VIEIRA

Um restaurante de Chef… descomplicado.

Para quem gosta deste tipo de assuntos, é engraçado ver o percurso dos Chefs nacionais ao longo do tempo. Não estou a falar dos Chefs mais “antigos”, mas sim desta nova geração da qual se começou a falar desde há uns 4 ou 5 anos atrás. Quando, nessa altura, se deu o grande “boom” dos Chefs cá no nosso país, surgiram vários nomes a encabeçar esse movimento, nomes esses que se foram afirmando primeiro nos seus restaurantes, depois na televisão e finalmente em projectos paralelos. Mas o engraçado é que, passado esse momento, a grande maioria desses Chefs resolveu “abandonar” os restaurantes onde estavam para criar projectos mais pessoais, onde o seu cunho fosse maior, onde não tivessem restrições.

A Chef Marlene Vieira foi um desses casos. Quando começou a ter projecção mediática liderava a cozinha do Avenue, onde tivemos um jantar muito bom (podem ler aqui o que escrevemos na altura, sendo que o restaurante já fechou). Depois seguiu-se a participação em programas de TV relacionados com a cozinha, a abertura de um foodcorner no Time Out Market – Mercado da Ribeira e ainda a presença em vários eventos gastronómicos. A sua saída do Avenue foi uma surpresa e depois houve um tempo em que esteve “desaparecida”, sem que se soubesse qual seria o seu novo projecto…

… até que, há menos de um ano atrás, começaram a aparecer as notícias da abertura do Panorâmico!

Onde andava a Chef Marlene Vieira? A criar o Panorâmico!

Mas essas notícias começaram com uma surpresa, que continua a ser a principal surpresa quando se fala deste novo projecto da Chef Marlene Vieira: a localização. Porque o Panorâmico fica no Núcleo Central do TagusPark, em Oeiras. Seria de esperar uma zona forte no centro da cidade, tendo em conta a notoriedade da Chef, mas não. Outra surpresa segue-se à primeira: o Panorâmico só abre aos dias de semana… e para almoços! Pois…

Independentemente da sua localização ou horário, o Panorâmico é um restaurante muito interessante. Situado no último piso de um dos edifícios do Núcleo Central, uma coisa percebe-se assim que se entra porta adentro: a vista é fenomenal. Conseguimos ver extensões de muitos quilómetros, até ao mar. Daí o nome. O próprio setup do restaurante potencia a vista, com a grande maioria das mesas encostadas às janelas. Isto também faz com que o restaurante tenha imensa luz natural, que ajuda a destacar o mobiliário e decoração sóbrios e sofisticados.

A vista do Panorâmico é (quase) 360º e vai até ao mar.

Por falar em sofisticado, aqui estamos num registo diferente do que acontecia no Avenue. Este é um sofisticado mais informal, não tão “elitista”. E isso nota-se tanto no espaço como no tipo de clientes… e, acima de tudo, nota-se no serviço e, consequentemente, nos preços. Ou seja, o serviço está longe de ter a atenção que existia no Avenue, mas também temos de ter em questão que os preços são muito mais “em conta”.

Ora, o Panorâmico, como já escrevemos em cima, funciona só aos almoços. E durante os dias de semana. Excepcionalmente abre ao jantar, para grupos, mas esse não é claramente o core do restaurante. Numa zona como esta, com muitas empresas, faz algum sentido ter um restaurante mais “executivo”. E isso nota-se na clientela do Panorâmico, logo mal entramos na sala. Mas, curiosamente, o menu de almoço do restaurante é bastante acessível a todas as carteiras – especialmente se tivermos em conta que estamos num restaurante com assinatura de Chef. Por 18€ temos direito a entrada, prato e sobremesa, sendo que há 3 opções para cada um destes momentos (e, no caso do prato principal, ainda temos a opção do “especial do dia”, um prato principal que muda diariamente).

Mas esta questão do Menu Executivo tem muito que se lhe diga… Porque fizemos 2 visitas ao Panorâmico, uma primeira em grupo e optando por este menu (onde deu para provar todos os pratos disponíveis)… que não correu assim muito bem; e outra, com um grupo mais pequeno, onde decidimos pedir à carta… e que foi completamente diferente e altamente recomendável! E, só para tirar já isso da frente, apenas ligeiramente mais cara do que optando pelo menu de almoço.

O “Menu Executivo” tem um preço de 18€ e inclui entrada, prato e sobremesa.

As Entradas
Na nossa primeira experiência tivemos com entradas um excelente Creme de Cogumelos (ligeiramente trufado) com Ovo Frito, com óptimo sabor e textura, um prato que aparece regularmente no menu; mas, por outro lado, a outra opção era uma Salada de Camarão com Endívias (quase nenhumas) e Amendoins (2 ou 3), sem nenhum tempero, sem nada que unisse todos os elementos. Ou seja, nas entradas ficámos empatados.

Creme de Cogumelos trufado e Ovo Frito
Camarão Alourado, Endívias e Amendoins

Mas se a opção recair nos pratos à carta, aqui já temos mais opções, e mais coerentes a nível de confecção e sabores. Por exemplo, as Moelas de Pato caramelizadas, com Porto e Pêras, um prato de conforto, bem apurado e com bons contrastes de sabores; ou as Lascas de Bacalhau com maionese de coentrada e picadinho algarvio, que pensamos ser uma espécie de salada mas que se revelam ser uma espécie de pataniscas, uma massa fina e estaladiça, recheada com as tais lascas, sobre uma excelente maionese. Uma bela surpresa!

Moelas de Pato caramelizadas, Porto e Pêra
Lascas de Bacalhau com Maionese de Coentrada e Picadinho Algarvio

A experiência com pratos à carta é muito melhor do que com os pratos do Menu Executivo.

Os Pratos Principais
Aqui voltam a existir grandes diferenças entre os pratos servidos dentro do Menu Executivo e aqueles que fazem parte da carta principal. É uma opinião um bocado generalizada, mas há diferenças – e atenção, sei perfeitamente que têm de existir essas diferenças, mas que não seja por uma questão monetária. Mas ainda assim…
De entre as opções do menu, temos por exemplo o Bacalhau à Gomes de Sá (especial do dia, geralmente às quintas-feiras), que mesmo vindo bem empratado é apenas um bacalhau à Gomes de Sá, como comemos em casa. Nada de mal, mas longe de ser extraordinário.

Bacalhau à Gomes de Sá

Outras alternativas na semana em que fomos ao Panorâmico a primeira vez eram o Tamboril com sabores de Caldeirada (uma espécie de caldeirada, servida como uma cataplana) e o Magret de Pato, Mirtilos, Aipo e Grelos. O primeiro com sabores que nos fazem lembrar o Verão e o Algarve, bem apurado; o segundo muito fraco, com o pato fatiado demasiado grosso e muito seco, novamente sem que exista nada no prato que una todos os ingredientes, que parecem simplesmente desconexos.

Tamboril com sabores de Caldeirada
Magret de Pato, Mirtilos, Aipo e Grelos

Felizmente – mais uma vez – a experiência com pratos regulares da carta foi muito mas muito melhor! 
Dos pratos de carne provámos a Perna de Perú com Abóbora e Pak Choi, excelente a carne, ainda crocante na parte exterior, muito saborosa, com excelentes legumes também. Mais uma vez, um prato de conforto.

Perna de Perú com Abóbora e Pak Choi

E também o Medalhão de Lombo de Novilho, com Gnocchis de Batata Doce, Cogumelos e Queijo da Ilha, carne saborosa e no ponto perfeito, gnocchis do outro mundo e o queijo da ilha a dar um toque de intensidade ao prato. Uma maravilha!

Medalhão de Lombo de Novilho, Gnocchis de Batata Doce, Cogumelos e Queijo da Ilha

Mas se pensávamos que os pratos de carne eram excelentes, o de peixe ultrapassou-os assim de longe! Um dos pratos emblemáticos da Chef, que já teve uma variante no seu foodcorner do Time Out Market: o Arroz Cremoso de Berbigão à Bulhão Pato com Espadarte Rosa. Não só o prato tem um aspecto apetitoso como o arroz é fabuloso, com sabor a mar, e o espadarte faz com ele um par perfeito. Provavelmente dos melhores pratos de peixe que comemos este ano, e ainda assim um prato tão… “familiar”.

Arroz Cremoso de Berbigão à Bulhão Pato com Espadarte Rosa

O Arroz Cremoso de Berbigão à Bulhão Pato com Espadarte Rosa é provavelmente dos melhores pratos de peixe que comemos este ano!

As Sobremesas
Curiosamente, é nas sobremesas que as contas se equilibram, ou seja, que há menos discrepância entre as disponíveis no Menu Executivo e as da carta regular. Não são as mesmas, mas do que provámos tudo está num nível de qualidade bastante acima da média.

Sorvete de Ruibarbo com Crumble de Chocolate

Desde o Sorvete de Ruibarbo com Crumble de Chocolate a servir-lhe de base, uma sobremesa simples mas onde ambos os elementos se conjugam muito bem, até ao clássico Abade de Priscos, aqui delicioso, intenso, de lamber a colher e o prato (quase, quase…). Ou ainda a Tarde de Requeijão (servida com sorvete cujo sabor vai variando), outra sobremesa extremamente simples para o que seria de esperar num restaurante de Chef, mas que basta ser bem feita para ser excelente. Como esta é.

Pudim Abade de Priscos
Tarte de Requeijão

As sobremesas são simples, mas deliciosas!

Voltando à “comparação” entre o Menu Executivo e a versão à carta, a verdade é que a diferença de preço das nossas duas visitas rondou os 7€. Ou seja, por mais aliciante que possa parecer o menu, a nossa sugestão é que arrisquem nos pratos da carta, porque vão ficar mais surpreendidos.

Se o Panorâmico é exactamente o projecto que esperávamos da Chef Marlene Vieira depois da sua passagem pelo Avenue? Não, pelo menos para nós foi uma surpresa. A diferença é substancial, porque o conceito do restaurante é efectivamente diferente. Nem se trata de ser melhor ou pior, é simplesmente diferente. Nós estaríamos à espera que o percurso da Chef mantivesse a mesma linha e se calhar caminhasse em direcção às Estrelas, por exemplo. Mas isso era apenas a nossa expectativa. 😉
A verdade é que o Panorâmico tem coisas muito boas e outras mais normais, mas cumpre quase na perfeição aquilo que é o objectivo de um restaurante com este conceito: ser uma alternativa mais sofisticada ao target mais formal e empresarial da zona, para um almoço de negócios ou que simplesmente se quer diferente dos habituais. A vista é realmente boa, o espaço é simpático e o serviço não compromete. A comida, essa, mesmo com as diferenças entre o que é servido no Menu Executivo e os pratos à carta, é muito boa a nível geral. E os preços são relativamente acessíveis, tendo em conta todo o enquadramento do restaurante.
Ou seja, o Panorâmico pode não ser tão surpreendente como era o Avenue. Mas é um restaurante que espelha o momento actual da Chef Marlene Vieira, onde pode fazer o que quer e servir o que gosta. E não há nada de errado com isso. Antes pelo contrário!

Preço Médio: 25€ pessoa (com vinho a copo, sendo que pode ficar mais barato na versão Menu Executivo)
Informações & Contactos:
Tagus Park | Espaço Panorâmico, Núcleo Central, 4º, nº100 | 2740-122 Oeiras | 21 424 0005

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