Esqueçam a “comfort food”. Isto é comida de família! 😉
Os restaurantes que têm a vida mais difícil são os que menos inventam. Ou os que não inventam de todo. Quando vamos a um restaurante com cozinha internacional ou comida de fusão ou de técnicas complicadas, podemos gostar ou não, mas damos sempre o benefício da dúvida porque é algo que está fora do nosso registo. Mas quando vamos a um restaurante de comida portuguesa, onde os pratos não têm nomes românticos, onde tudo nos soa a familiar e onde o que nos é servido é exactamente aquilo que estamos habituados a ver em casa, então aí a nossa exigência é maior. Ou, pelo menos, a nossa capacidade de opinar.
É por isso que saímos do recém-aberto Restaurante Raízes a dar os parabéns ao responsável. Pela coragem de ser simples e genuíno, pela simpatia e, claro, pelo óptimo jantar. 🙂
Aberto há pouco mais de uma semana, o nome Raízes diz tudo acerca daquilo que oferece: cozinha portuguesa, confeccionada de forma tradicional, como o fazemos em casa. O espaço, em tons de cinza e madeira escura, podia talvez ser um pouco mais acolhedor, exactamente para transmitir esse feeling caseiro. É talvez o pormenor que mais se afasta da mensagem que nos querem transmitir.
A lista é curta, o que torna a escolha fácil. Poucas entradas, ainda menos pratos de peixe e de carne. Mas é assertiva, com clássicos que resultam e que reconhecemos de imediato.
O couvert chega à mesa rapidamente, o pão acompanhado de um azeite com chouriço e de uma compota caseira, ambos muito interessantes. Pedimos uns peixinhos da horta, que deviam estar mais estaladiços, e também umas moelas com grelos, melhores, bem salteadas, boa textura.
Nos pratos principais, entramos completamente no registo da “comfort food”, uma expressão que está muito na moda mas que aqui faz todo o sentido. A massada de tamboril e camarão é quase igual à que a minha mãe faz aos Domingos (faltava só um bocadinho mais de picante). O bacalhau com crosta de broa, grelos e batatas a murro é de uma simplicidade enorme, mas lembrou-me todos aqueles natais em que esse foi um dos pratos de bacalhau na mesa. As costeletas de borrego com migas ribatejanas, muito bem servidas, excelente a carne e fenomenais as migas. E os filetes com arroz de berbigão transportam-me novamente a memórias de infância em família, principalmente pelo arroz, bem condimentado, com forte sabor a tomate. Não me canso de dizer: tudo muito simples, e é exactamente por causa disso que é tão bom!
Era um aniversário, levámos um bolo, mas ainda houve espaço para provar a excelente torta de laranja, caseira, molhadinha, sem ser demasiado doce.
Coisas simples, coisas boas. Como deviam ser sempre.
Há um sentimento de genuinidade e simpatia que se sente neste Raízes, que começa no Porto que nos oferecem enquanto esperamos pela companhia para jantar e acaba no moscatel que nos servem para brindar no final da refeição, porque se trata de um aniversário. E esse é o registo de todo o jantar, comida excelente e simpatia genuína. Uma simpatia que faz lembrar aqueles restaurantes de bairro onde sempre fomos em família e que acabaram por se tornar quase que uma extensão da nossa casa.
É muito bom perceber que ainda há restaurantes novos a abrir em Lisboa que nos fazem sentir assim. E onde a própria comida é tão simples e sem artifícios que nos faz lembrar um jantar de família em casa. Daqueles bons, muito bons.
Preço Médio: 18€ pessoa (com sobremesa e vinho)
Informações & Contactos:
Rua do Olival, 36 | 1200-179 Lisboa | 21 138 3900
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