SOLMAR CANAS (Encerrado)

Uma marisqueira com marisco congelado… e pratos sem sabor nenhum.

Grande parte do nosso almoço no Solmar Canas é passado a ouvir as descontraídas conversas daquele que parece ser o dono do restaurante com as pessoas que estão nas mesas à nossa volta. E ouvimos porquê? Porque o tema é sempre o mesmo, e também aquele que nos levou até às Caldas da Rainha: a participação no programa Pesadelo na Cozinha. Sim, o Solmar Canas é o restaurante protagonista do segundo episódio desta terceira série do programa com o Chef Ljubomir Stanisic… e pelas conversas que ouvimos à nossa volta, tudo correu muito bem! Aliás, uma frase que nos ficou na memória foi quando o dono disse que o Chef Ljubomir lhe disse “Se isto correr mal, fechas a porta e vais trabalhar comigo!”. A ver vamos se a edição do programa passa esse momento…

De qualquer forma, as conversas são sempre sobre o descansada que foi a semana, sobre ter corrido tudo bem, sobre não ter havido grandes problemas. Algumas baratas na rua, que parecem ser as estrelas desta terceira temporada, mas que o dono do Solmar Canas diz serem perfeitamente normais na zona. Pela descrição, vamos ter um programa sem qualquer drama.

Ora bem… Acho que a maioria destes restaurantes que concorrem ao Pesadelo da Cozinha (podem ler o que achámos do Apple House, restaurante do 1º episódio) não tem a mínima ideia da imagem que o programa faz passar deles. Estamos a falar de um programa de televisão, que se quer dramático, que quer “sangue” e que vai explorar ao máximo tudo aquilo que encontrar de errado. Senão não tem audiências! E este pessoal concorre, aceita todas as condições, pensa que corre tudo bem e que o restaurante vai ser um sucesso depois disso… mas quando o programa os “enxovalha”, ficam muito surpreendidos e acabam a dizer-se arrependidos. Mas concorreram e assinaram contratos… enfim, é um fenómeno curioso, no mínimo.

Mas vamos então falar do nosso almoço de Sábado. O Solmar Canas fica na entrada das Caldas da Rainha, ainda longe do Centro, numa zona mais residencial, numa rua quase de passagem. O enorme letreiro ajuda a perceber onde é, mas parece-nos que as muito poucas pessoas na rua parece-nos ser a razão para o restaurante ter concorrido ao programa: deve estar quase sempre vazio. Neste nosso almoço, temos metade da sala ocupada, e continua sempre assim, mesmo rodando mesas. O espaço é simpático e nota-se perfeitamente a pintura recente, ou seja, coisas que assumimos terem resultado da intervenção do programa. Curioso que existam mesas com dois tipos de toalhas: grande parte com toalhas de plástico, daquelas que se reutilizam e acabam por ficar um pouco peganhentas (como estava a da mesa onde nos sentámos), e depois outras duas mesas, mais afastadas, com toalhas brancas de tecido e marcadores azuis. Mais enquadradas com a pintura do espaço, mais modernas, mais convidativas… dizemos nós.

solmar canas sala

Somos recebidos e atendidos quase sempre pelo mesmo empregado, jovem, que parece inclusivamente novo na casa (vamos ver se o vemos no episódio do Pesadelo na Cozinha). A clara inexperiência é compensada pela simpatia e educação, que é uma coisa rara na grande maioria dos restaurantes dos dias de hoje. Por exemplo, os nossos copos estão sujos e pedimos para trocar, o que acontece com um pedido de desculpas sincero; os novos copos estão sujos também, e quando pedimos novamente, o pedido de desculpas é ainda mais sincero. À terceira estão ok, e vale a intenção. Durante o almoço nota-se alguma desorganização, e até vemos várias vezes o dono a ir para a cozinha agarrar alguns dos pratos e depois voltar para a sala.

O aquário na entrada (com água que já viu melhores dias) ajuda a mostrar-nos que estamos numa marisqueira, que também tem pratos tradicionais. As especialidades de marisco, aliás, não são convidativas por causa do preço – 55€ por um arroz de marisco para 2 pessoas é um preço demasiado elevado para esta zona da cidade, dizemos nós. E esse é o prato mais barato dentro dessas especialidades.

solmar canas ementa

Até porque, quando começamos a comer, percebemos que o “marisco” que temos nos pratos é congelado. Até pode não acontecer o mesmo nas especialidades, mas não pomos as mãos no fogo. Resolvemos pedir uma entrada e dois pratos, ainda que consigamos ver que as doses são bem servidas.

Começamos com os Camarões à Guilho, que até esperamos serem gambas mas não, é camarão. Miolo de camarão, muito pálido, o que estraga logo um bocado o prato, porque o bicho quer-se com cabeça e cauda. Outro aspecto importante é o molho, que não é mau de todo, mas precisa de ser mais puxado, mais intenso. Dá para acabar o pão (torrado, como se quer), mas não nos motiva a pedir mais. E sim, como se percebe na foto, é servido com arroz branco. Saiba-se lá porquê…

solmar canas camarão à guillo

O primeiro prato principal a chegar à mesa é a Açorda de Camarão. Que, logo à primeira vista, conseguimos perceber que está demasiado líquida. Misturada à nossa frente, fica ainda mais líquida depois do ovo rebentado. Falta-lhe a textura que o pão dá a uma açorda, é verdade, mas acima de tudo falta-lhe sabor. Nem é picante de que estamos a falar, é mesmo sabor, tempero. O camarão é o mesmo da entrada, e aqui continua pálido, como que acabado de descongelar.

solmar canas açorda de camarão
açorda de camarão

A dose é muito bem servida, mas fica mais de metade no tacho.

Melhor a Feijoada do Mar… mas não muito. Continuamos no mesmo camarão, usado em todos os pratos, e aqui temos ainda mexilhão (miolo, claro, daquele que também se compra congelado) e outro marisco delicioso: as delícias do mar. Pois... Mas mesmo não querendo ser “picuinhas” com isso, é uma feijoada pouco apurada. Falta-lhe o sabor que os enchidos dão a uma feijoada, falta-lhe um toque qualquer. Acrescentamos picante e melhora, mas só porque fica mais picante. A base continua a ser desinteressante.

solmar canas feijoada do mar

Depois desta overdose de camarão, até temos medo de pedir uma sobremesa, mas arriscamos na mesma. A resposta à pergunta se são caseiras é honesta e negativa, mas mostra novamente que o miúdo ainda não tem muita experiência. Pedimos o Doce de Amêndoa, uma espécie de baba de camelo mas com amêndoa, que é bastante bom. Aliás, o melhor do almoço, sem dúvida. Pena vir acompanhado de um café péssimo de tão queimado. Não se pode ter tudo, não é?

solmar canas sobremesa

No final, não ficamos impressionados, e agora estamos ainda mais curiosos para perceber o que vai dizer o Chef Ljubomir no programa. Porque se a comida é servida com esta falta de sabor depois da sua passagem pelo Solmar Canas, imaginamos como seria antes.

O Solmar Canas até pode ser um restaurante de bairro, com clientela habitual, mas aquilo que tivemos foi uma refeição fraquinha. Se calhar os pratos mais caros têm marisco fresco e de qualidade, se calhar ao jantar o serviço é mais experiente, se calhar noutros dias a comida tem mais sabor. Tudo isto até pode acontecer. E até admitimos que agora possa estar muito melhor do que antes da passagem do Chef por lá. Mas, pelo menos a nível da experiência de cliente, o Solmar Canas continuou a parecer-nos um Pesadelo na Cozinha.

Preço Médio: 22€ pessoa (com vinho, mas sem ir para o marisco)
Informações & Contactos:

Rua Vitorino Frois, 40 – r/c dto | 2500 Caldas da Rainha | 262 823 762

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