De gordos… mas para todos!
Fico sempre num “excitex” quando entro numa tasca! Mais do que quando vou a restaurantes sofisticados ou sítios da moda, é quando entro numa tasca daquelas mesmo tascas que fico com mais expectativas! Porque são os meus restaurantes preferidos e, acima de tudo, porque é cada vez mais difícil encontrar uma boa tasca. Daquelas com toalhas brancas de papel sobre mesas de alumínio, com folhas A4 com as especialidades coladas nas paredes com fita-cola, com a azáfama dos empregados a correr de um lado para o outro, enquanto os clientes enchem a sala e criam aquele barulho de gente que está bem disposta. Não há nada mais genuíno que isto, e não há tascas modernas que substituam as tradicionais.
Por isso, quando me falaram a primeira vez sobre A Tasca do Gordo e me disseram que era mesmo uma tasca, fiquei com expectativas altas. E não demorei muito tempo a ir até lá experimentar. Felizmente para mim, porque saí maravilhado! Dessa primeira vez… e das outras todas! 😉
A Tasca do Gordo fica numa paralela à rua de Pedrouços, mas uma paralela muito escondida. Curiosamente, quase nem se dá pelo restaurante à passagem, porque tem apenas um pequeno letreiro sobre a porta… mas tem também um enorme parque de estacionamento ao lado. Das vezes que por lá passei sem entrar, achei sempre o estacionamento um bocado desproporcional, porque me parecia que esta era uma tasca de uma sala só. Muito enganado estava.
Já passava das 14h30 de um Sábado quando lá entrámos a primeira vez e, mesmo sendo já tarde, receberam-nos com um sorriso. “Claro que podem almoçar! É só escolherem a sala onde querem ficar!” foi o mote para percebermos que há uma primeira sala, seguida de uma segunda sala, seguida de um espaço exterior e ainda seguido de outro espaço exterior. Aquilo que de fora parece um espaço pequeno afinal não é. E ainda bem, porque nesse almoço, mesmo quase às 15h estava praticamente cheio! E se é verdade que no Inverno os espaços exteriores não são acolhedores ao jantar, com o tempo mais quente são uma escolha fantástica!
Tasca que é tasca não precisa de decorações. Precisa de folhas a indicar o que há naquele dia, de mesas de alumínio com toalhas de papel, de grupos habituais na casa a fazer barulho. E precisa de empregados que, mesmo não nos conhecendo, nos tratam como se nos conhecessem desde sempre. Tudo mulheres, com uma genica que já não se encontra nos restaurantes modernos, e mesmo no meio da rapidez do serviço, alguma brusquidão é compensada com uma simpatia que aparece nos momentos de descompressão… nos faz passar a refeição toda com um sorriso de orelha a orelha por causa de toda a situação.
Refeição essa que pode começar com uns queijinhos secos ou com alguns enchidos base, entre chouriço, morcela ou o que houver nesse dia. Nada de muito elaborado, porque aqui não estamos de todo nesse registo.
Até porque, a nível de entradas, a mais comum a aparecer nas mesas (e podemos dizer-vos que aparece na quase totalidade) é mesmo o pires de Dobrada. Sim, porque podem haver algumas especialidades na Tasca do Gordo, mas a maior é mesmo a Dobrada, que pode ser servida como prato principal ou como entrada, num pires. Sendo que o pires é bastante grande e está cheio até acima. E sendo que esta dobrada é assim uma brutalidade de boa!! Muita carne, molhanga boa, feijão no ponto, comida de conforto no seu melhor. Entre este pires e o pão para ensopar no molho, a refeição ficava feita. Mas gordo que é gordo segue em frente, sem medos! 😉
Há pratos na carta, algumas especialidades, sempre num registo de grelhados. Onde podemos encontrar a fantástica Costeleta de Novilho Grelhada, quase a sair da travessa, por menos de 10€. Pois, é isso mesmo. Carne muito boa, e acima de tudo grelhada no ponto. BRU-TAL!!!
E depois as especialidades, as Espetadas, que vimos passar durante todo o almoço no primeiro dia em que fomos à tasca do Gordo e que, por isso mesmo, nunca faltaram na nossa mesa. O truque é pedir meia dose, porque dá perfeitamente para uma pessoa, sendo que até preferimos a de porco em relação à de vaca, porque é mais… gorda! Aqui não há cá preocupações com o sal e tretas dessas, por isso a carne vem temperada na perfeição, gostosa que nem vos digo! Ainda a pingar da grelha, como se quer, mas a pingar para um pires de feijão vermelho, que serve como acompanhamento, só porque sim. Uma maravilha!
E, claro, menos não seria de esperar do Naco à Gordo. Também servido no espeto, dois belos nacos de porco, uma delícia! Pode nem ser a carne de eleição de muita gente, mas o sabor bate todos os preconceitos. Do Naco e também das simples Febras Grelhadas, que são uma maravilha! Dose bem servida, carne bem grelhada, febras saborosas. Comida de tasca a sério!
Tudo é acompanhado com batata frita caseira, e mais nada. Não é preciso mais nada, porque estamos numa tasca à séria! E porque vamos pagar quase sempre entre 6 e 8€ por esta comida honesta e maravilhosa!
Se há peixe? Sim, há, mas geralmente nos pratos do dia. Já lá comemos um bom Cherne Grelhado, acompanhado de batata bem cozida e de uma salada mista. Se estiverem para aí virados, há opções menos… gordas.
Queremos sobremesa? Sim, claro que sim. E nem sequer é preciso lista, é de boca. Aqui há um Doce de Casa, igual em todas as casas tipo tasca um pouco por Portugal, mas que é um clássico e aqui cumpre bastante bem. Há Baba de Camelo (interessante), Doce da Avó e outras coisas genéricas e que nem parecem caseiras. A Mousse de Chocolate é muito boa e esta sim, caseira. E depois há coisas que vão variando, como por exemplo uma Torta de Claras ou uma Tarte de Limão Merengada. Ou um Bolo de Amêndoa (atenção que não é tarte, avisam-nos logo), demasiado “industrial” para um sítio como este.
No final da refeição, um café com “cheirinho”, claro. Porque faz parte da experiência, porque faz parte de nós como povo. Assim como as próprias tascas fazem.
E se quase tudo nesta tasca é muito bom, a conta é outra maravilha. Porque as tascas têm isto de bom: comer muito bem e pagar muito pouco. E, acima de tudo, sentirmo-nos em casa. Volto a dizer, isto é cada vez mais raro na restauração em Lisboa, o que é uma pena. Podemos ser a cidade mais turística do Mundo, mas se perdemos o contacto com as nossas raízes, perdemos toda a graça.
A Tasca do Gordo entrou directamente para o meu top de tascas e, tendo em conta a proximidade, acabou por se tornar um dos habituais. Porque não há gourmet ou sofisticação que me faça sentir mais em casa do que uma tasca. Verdadeira e genuína.
Preço Médio: 10€ pessoa (com vinho da casa)
Informações & Contactos:
Rua dos Cordoeiros a Predouços, 33 | 1400-071 Lisboa | 213 012 184
Deve ter tido muita sorte,
Tirando a simpatia dos funcionários e da dobrada com bom feijão e pouca dobrada. O restante deixou muito a desejar, batata frita lastimável, espetada de vaca com carne semi congelada, e uns abanicos de porco que apesar de tenros não tiraram aquela pele o que tínhamos em cada pedaço de a tirar da boca depois de mastigar.