THE GREEN AFFAIR (Cascais)

Um vegetariano cheio de altos e baixos…

Começamos por dizer que não somos os mais acérrimos frequentadores de restaurantes vegetarianos. Por nenhuma razão mais do que pelo facto de gostarmos muito de carne e peixe. Pronto. É verdade que há cada vez mais ofertas, e ofertas cada vez mais interessantes e fora do comum neste tipo de cozinha, mas se calhar temos sempre um pé atrás porque, há muito tempo, os restaurantes vegetarianos que iam aparecendo em Lisboa apresentavam quase sempre comida fraca, sem sabor nenhum. Podem ser pancas nossas, é verdade… e por isso é que, quando nos combinaram um jantar de grupo no The Green Affair de Cascais, fomos logo tentar encontrar a ementa online, para perceber ao que íamos. E a simples leitura da ementa conseguiu elevar-nos um bocado as expectativas!

Ora… essas expectativas caem por terra quando nos aproximamos e percebemos que o The Green Affair Cascais é mesmo dentro da galeria comercial do Jumbo. Ou seja, é um restaurante quase de foodcourt. É certo que tem uma zona interior mais ou menos personalizada, com madeiras e tons verdes, mas está completamente aberta para a zona comum de mesas do centro comercial. Ok, não sabíamos, por isso para nós foi um grande “turn-off”. Acontece…

Olhamos de novo para a ementa e as descrições dos pratos voltam a relembrar-nos da esperança que tínhamos no The Green Affair. Algumas inspirações asiáticas – o que até faz todo o sentido uma vez que se trata de comida vegetariana – e pratos mais ou menos conhecidos, com um ou outro twist. E como somos um grupo grande, dá para provar muita coisa. Por isso, seguimos em frente. E começamos com várias entradas, como os Crispy Spring Rolls, normalíssimos, com molho de sweet chili e alga nori por cima a decorar, desnecessária. Melhores as Gyosas de Vegetais, bem recheadas e com algum sabor, acompanhadas com uma maionese de miso que podia ser de outra coisa qualquer. Duas entradas “nin”…

… mas que são seguidas de outras duas entradas muito melhores: as Coxas de Couve Flor são uma espécie de nuggets mas de couve flor, bom polme e bom interior, uns snacks muito engraçados, acompanhados com molho BBQ caseiro e ainda molho tártaro, ambos muito bons; e ainda os Tacos de Cogumelo Ostra, com pico de gallo, lima e coentros, uma incursão à comida mexicana que cumpre muito bem o objetivo, porque os sabores são bastante intensos.

Ora, até aqui estávamos empatados entre as coisas interessantes e outras coisas que nos deixam a pensar que isto foi um erro. Por isso estamos com expectativas em relação aos pratos principais, os quais podemos desde já dizer que têm uma apresentação imaculada e muito colorida. Aliás, temos essa teoria em relação à comida vegetariana: cores bonitas, empratamentos giros… e depois falta de sabor. E é isso mesmo que temos logo no primeiro prato que chega à mesa, o Risotto de Cogumelos com Miso e Pak Choi. Até pensamos que não há como falhar num risotto, mas aqui falta-lhe sal, falta-lhe sabor, falta-lhe alma. É de certeza a falta de tempero, entre sal e pimenta, mas também a falta de queijo já misturado no arroz, que é gritante num risotto. Porque a textura até está certa, o pak choi dá-lhe ali um twist engraçado… mas o conjunto no geral está muito longe daquilo que esperávamos a nível de sabor.

Depois, dois pratos que me fazem lembrar uma das coisas que sempre me irritou com a comida vegetariana: terem de usar nomes de pratos “normais”. Um “bife” de seitan, umas “costeletas” de tofu, mesmo um “burger” de feijão… é pá, sei que é implicação, mas nunca gostei da apropriação. Pronto, tenho dito. Até porque aqui no The Green Affair temos uma coisa que me faz ficar logo com comichões quando leio na ementa: as Seitan Ribs. Sim, isso mesmo. Que de “ribs” têm zero, são simplesmente fatias de seitan assim cortadas mais grossas. O molho barbecue em que estão mais ou menos banhadas é aquilo que as aproxima mais de umas ribs a sério, mas ainda assim ficam a um distância abismal. E depois é a textura… não é carne, pronto, não tentem dar-lhe nomes que identificamos com cortes de carne. Simples!

O mesmo acontece com o Bife de Seitan, ou “bife”, servido com Molho de Pimentas, que no fundo é o que nos remete para um bife, porque o aspecto do seitan em baixo é de uma sola de sapato, e a textura é esponjosa como quase sempre. Ainda assim, acompanhado com uma boa coleslaw e aquela batata doce frita que nunca falha.

Mas vá, não sejamos completamente negativos, porque até houve pratos interessantes a chegar à mesa. Começando por este Caril Katsu, que são panados de abóbora, courgete e tofu bio, servidos com arroz integral, um molho de caril muito bom e uma salada que é só parvo ser servida na mesma taça, porque quando se começa a comer fica cheia de caril e perde completamente a frescura. Ainda assim, todos os elementos panados são muito bons e o caril também. Não é picante como prometido na ementa, mas isso acontece frequentemente.

E, finalmente, o melhor prato da noite. E com o mesmo elemento que a melhor entrada de todas, a couve flor. O prato chama-se isso mesmo – Cauliflower – e estamos a falar de couve flor assada com especiarias, hummus de beterraba, legumes assados e sementes tostadas. Simples, sem invenções, sem apropriações, apenas elementos bem cozinhados, com texturas variadas, um prato excelente tanto a nível de apresentação como principalmente ao nível do sabor.

Somos um grupo grande, por isso ainda pedimos algumas sobremesas. Não que nós estivéssemos especialmente satisfeitos com o jantar, mas o resto do grupo quis. E, só para não variar, altos e baixos… sendo que aqui mais baixos do que altos. A nossa preferida foi o Chesecake de Manga, com tâmaras, caju e nozes caramelizadas, onde os sabores são bons e as texturas estão perfeitas. Mas depois temos o Parfait de Morango e Chia, que não é nada surpreendente, e ainda a Piñacotta, uma panna cotta de coco com abacaxi caramelizado, crumble e hortelã, que nem tem a textura que deve, nem o sabor que se espera, parece tudo industrial, sem alma nenhuma.

Ou seja, não ficámos fãs do The Green Affair. Já calculávamos que o espaço não nos ia seduzir, mas a leitura prévia da ementa ainda nos deu alguma esperança. Só que a execução fica muito aquém em grande parte dos pratos. As cores estão lá, os empratamentos também cumprem, mas depois há falta de sabor e mesmo alguma falta de lógica na combinação dos ingredientes. E sim, é verdade que não somos os maiores adeptos de comida vegetariana, mas há cada vez mais restaurantes vegetarianos fantásticos em Lisboa e não só. Restaurantes onde os ingredientes brilham, onde as técnicas são diferenciadoras, onde não é preciso subterfúgios como molhos ou nomes “dissimulados”. E não sentimos nada disso aqui no The Green Affair…

Preço Médio: 25€ pessoa (com vinho)
Informações & Contactos:
Auchan Cascais, Loja G03.205 | Estrada Nacional 6 | 2754-522 Cascais | 969 001 065