Da Ásia só mesmo o nome dos pratos…
As modas vão e vêm. Isso é uma verdade absoluta, tanto no campo da restauração/gastronomia como noutro qualquer. Aquilo que agora está na moda acaba por se tornar demasiado comercial e por isso deixa de ter interesse, sendo que é quando surge uma tendência nova. E, no campo da restauração em Lisboa, a tendência recente mais forte tem sido a dos restaurantes asiáticos – restaurantes cuja ementa não se foca apenas num país da Ásia, mas em pratos emblemáticos de todo o continente.
Uma tendência com muito adeptos… mas para a qual restaurantes como este Udon podem tornar-se o princípio do fim.
E o que irrita mais do que tudo no Udon é que nem está tudo errado no restaurante! O espaço tem pinta, a localização é boa, a ementa é completa e variada… mas depois falha um pouco no serviço. E, claro, falha redondamente na comida.
A noite era de Sábado e a ideia era comer ramen. Não voltámos a comer desde que regressámos do Japão – ainda que tenhamos ido a outros restaurantes asiáticos – e aquele bichinho estava a crescer. Tentámos dois outros restaurantes, cheios ou fechados, até chegar ao Udon, que era o terceiro da lista. Não esperávamos muito, é verdade, mas esperávamos alguma coisa.
O Udon intitula-se um “noodle bar & restaurant” e fica na Duque de Ávila (perto do Saldanha), onde antes era uma Telepizza. Pois… Ainda assim, temos uma boa surpresa quando entramos pela porta, por que o espaço é bastante engraçado. A sala principal é dominada por uma comprida mesa comum e várias mesas de parede, com um ar moderno e bastante simpático. E melhora bastante quando somos conduzidos a outra área com mesas para quatro pessoas numa espécie de cubículos semi-fechados, o que nos permite alguma privacidade mesmo com o restaurante cheio. Giro!
Mas o “antigo inquilino” afectou de certeza o serviço, que está claramente pré-formatado para despachar. Ou aviar pedidos, se quiserem. Ainda mal tínhamos olhado para a ementa e já tínhamos alguém ao nosso lado a perguntar o que queríamos, e quando dissemos que estávamos à espera de mais alguém, o ar de chatice nem foi escondido. Pouca simpatia e muita pressa em despachar-nos. Que belo começo!
Ainda assim, o pior problema do Udon é mesmo a comida. Porque rapidamente percebemos que estamos numa espécie de cadeia de fast food só que fora de um centro comercial. E o “rapidamente” nem é uma metáfora, é a (triste) realidade. Os pratos vão chegando à mesa a uma velocidade absurda, mas absurda ao ponto de não haver tempo para terem sido cozinhados ao momento. Muito menos num restaurante praticamente cheio. E depois ainda vem a questão da qualidade…
A primeira entrada que nos chegou à mesa foi o Pork Bun, que ganha desde já o prémio do pior bun que já comemos. Demorou 5 minutos a chegar à mesa, o que definiu os timings para todo o jantar, mas o pior era mesmo a qualidade. Não só já não estava quente como a textura do bun estava longe de ser a ideal, e literalmente não sabia a nada. A carne de porco no interior (que era basicamente uma fatia grossa com dois molhos manhosos em cima e uma fatia fina de pimento verde, mais nada) simplesmente não sabia bem, parecia cozinhada há alguns dias. Péssimo.
E não melhoramos muito com o Mix de Gyozas, que nem sequer se safam na apresentação. Claramente não foram feitas ao momento, porque nem estão quentes nem minimamente estaladiças na parte que devia ter ido à chapa. Além de uma consistência péssima (uma até já estava aberta), o mix teoricamente tinha porco, frango ao curry, legumes e gambas com alho fresco… mas sabia tudo ao mesmo. Isto vai tornar-se repetitivo ao longo do texto, mas a falta de sabor nas gyozas é gritante, ao ponto de nem conseguirmos perceber qual é qual (mesmo com os apontamentos ridículos em cima).
Ora, talvez fosse o Tuna Taco a salvar o início da noite! Só que não. Para já, de taco não tem rigorosamente nada, porque é basicamente uma tortilla partida em quatro e por isso funciona como um nacho com topping. E esse topping tem um atum que terá sido fresco um dia (mas não aquele em que o comemos), um pico de gallo que mete dó, uma alga que não está lá a fazer nada e depois uma maionese japonesa. Uma entrada que tem 2 ícones de picante na ementa… mas que não saem da ementa para o prato, porque não tem picante nenhum. Uma entrada que não faz jus à cozinha japonesa, nem asiática, nem mexicana… Enfim.
Felizmente estávamos à espera de companhia e não pedimos logo os pratos principais, o que nos deu uns minutos para respirar depois das entradas. E também para repensar um bocadinho nas escolhas que tínhamos feito, porque a amostra das entradas não convenceu nada. E o resto também não…
Dois dos três pratos que pedimos não são complexos, mas precisam de tempo de preparação, um tempo mínimo. E se na ementa fazem questão de destacar que os noodles são salteados ao momento, espero que eles demorem um bocado mais do que 4 minutos a chegar à mesa. Literalmente 4 minutos desde que o empregado sai da nossa mesa e regressa com este prato. Pá, até no Wok to Walk demoram mais tempo! E por isso é normal que se perceba claramente que este Corral Chicken Yaki Udon tenha apenas levado um “apertão” na frigideira. O frango panado não é claramente acabado de panar, assim como o restos dos ingredientes que acompanham o udon. O prato não tem sabor rigorosamente nenhum, por isso é espetar com molhos (daqueles de pacote, claro) para cima e ver se melhora um bocado. Só um bocado mesmo.
Mas o prémio de pior prato da noite estava reservado para o prato que chegou ao mesmo tempo dos noodles. Quando percebemos no tipo de restaurante que estávamos, optámos por não pedir o ramen, porque não queríamos “destruir” 2 semanas de comida excelente com um ramen fast food. Por isso optámos por outro caldo, o Corral Chicken Curry Udon. Na descrição, udon com tiras de frango panado (as mesmas do prato ao lado), cebola, cenoura, bróculos, espinafres, cogumelos shitake, ovo, lima e dashi com curry (caril, só para que saibam). Aquilo que nos serviram foi o pior caldo que já alguma vez comemos. Tinha muita coisa lá dentro, é verdade, mas as “tiras crocantes de frango do campo” não estavam crocantes em nenhum dos outros pratos e ali naquele caldo muito menos, os legumes estavam para lá do ponto ideal da cozedura e o caldo só sabia a caldo Knorr. Não havia nada de natural naquele caldo, não havia nenhum sabor sem ser aquele artificial que infelizmente há em tantos restaurantes por aí. Para terem uma noção, só provámos o caldo, foi todo para trás. Comemos alguns noodles, duas tiras de frango e o ovo, de resto voltou tudo para a cozinha. E alguém nos perguntou se estava alguma coisa de errado? Não, claro que não, o que importa é despachar mesas.
O prato que demora mais a chegar à mesa é o aparentemente mais fácil e rápido: o Oyako Don é basicamente uma base de arroz tipo sushi com tiras de frango panado (as mesmas dos dois outros pratos), ovo mexido, cebolinho e uma quantidade de molhos que só existem na ementa. Comemos algo muito parecido no Japão também num registo de fast food, mas muito melhor. Ainda assim, foi o único prato principal que não tinha nada mal confeccionado. Apenas não sabia a Japão.
E esta viagem asiática ainda não terminou, porque agora queríamos mesmo provar as sobremesas. Curiosamente, uma das sobremesas é dos pratos que demora mais tempo a chegar à mesa, enquanto outra é dos mais rápidos.
O Mochi é uma espécie de pequeno biscoito feito de arroz meio gelatinoso, que no Japão tem recheios como feijão preto, ovo, amêndoa, matcha… Estes do Udon chegam à mesa em 3 minutos e um é de chocolate e outro de cheesecake de morango, vá-se lá saber por quê. A pasta em si não é das piores que já comemos, mas os recheios não têm nada de oriental.
A outra sobremesa chega 2 minutos depois e não é totalmente má: Banana Cho-Co. A parte boa é o gelado de côco, que sabe a isso mesmo. Acompanha com uns rolinhos fritos com uma pasta de banana no interior, mas se a pasta é boa os rolinhos estão completamente oleosos. Será que foram feitos no momento?! Gostava de acreditar nisso…
Repetindo o que escrevemos no início, não estávamos à espera de encontrar no Udon o verdadeiro representante da cozinha asiática em Lisboa. Mas também estávamos longe de imaginar que seria tão mau. O espaço e a ementa prometem muito mais, ou pelo menos mereciam algo diferente do que isto. Mereciam comida bem confeccionada, e mesmo que não fosse a coisa mais genuína do Mundo, devia ser comida onde sentíssemos que foi feito algum esforço. E aqui não sentimos rigorosamente nada.
O princípio do fim de todas as modas é quando começam a existir demasiados imitadores do original, mas a fazê-lo mal. No caso da restauração é a mesma coisa: as hamburguerias ou a petiscarias começaram a ter o seu “declínio” quando começaram a aparecer demasiados espaços que simplesmente abriam para aproveitar a onda e por isso eram (e alguns ainda são) francamente maus. E o Udon a nós fez-nos pensar se não estará a começar o declínio da moda dos asiáticos… O que diz tudo sobre este “noodle bar & restaurant”.
Preço Médio: 16€ pessoa (com cerveja e sobremesa)
Informações & Contactos:
Av. Duque d’Ávila, 46 | 1050-048 Lisboa | 21 353 0762