Uma nova tasca… igual à antiga!
O tema das tascas é recorrente naquilo que fazemos no âmbito do Onde Vamos Jantar? Quem nos conhece sabe que adoramos uma boa tasca, e acreditamos realmente que não há nada mais representativo do nosso património gastronómico e mesmo cultural do que uma boa tasca. O ambiente, os preços, a comida e, claro, acima de tudo, as pessoas. Porque uma tasca é isto tudo, é a representação da vida daquela comunidade, o local onde donos e clientes se tornaram amigos ao longo dos anos. E isso é algo que se tem perdido gradualmente, especialmente nas grandes cidades, onde estas tascas ou vão fechando… ou então dão lugar a espaços mais modernos e com um mood diferente. Sim, porque uma taberna moderna não é uma tasca a sério. Tenta recuperar esse espírito, mas fá-lo de forma mais modernaça e internacional. Uma tasca… é uma tasca!
Ora… o Vida de Tasca era a antiga Casa do Alberto, uma das tascas mais emblemáticas de Alvalade, com 40 anos de existência. E quando o Sr. Alberto decidiu fechar a casa, eis que a Leonor Godinho se chegou à frente para pegar no espaço! Mas, ao contrário do que se pudesse pensar, não o transformou numa “tasca moderna” – isto porque a Leonor pertenceu ao coletivo “New Kids On The Block”, um grupo de malta nova que apostou em mudar o cenário da restauração lisboeta há uns anos (e onde se encaixam nomes como o Zé Paulo Rocha do Velho Eurico ou o Pedro Monteiro da Tasca Baldracca). O que a Leonor Godinho fez foi manter o espírito da antiga Casa do Alberto, uma tasca verdadeira. Não há aqui rock ‘n roll. Há aqui vida de tasca à antiga!
O espaço está exactamente igual, com a mudança apenas visível no toldo. De resto, todos os sinais clássicos de uma tasca: mesas cobertas com toalha de papel, ementa que muda diariamente, vinho da casa a jarro, serviço a despachar mas com simpatia, preços muito acessíveis. E comida portuguesa tradicional, sem invenções nenhumas. As tascas não inventam, são o que são.
Somos um grupo grande e por isso ficamos na esplanada, e também por causa disso podemos fazer aquilo que gostamos mais: pedir um prato de cada, para ir petiscando e partilhando. Porque a vida de tasca também passa muito por isto: não há aqui individualidades, há efetivamente o conceito de partilha – que já existia ainda antes do termos “o nosso conceito é a partilha” se ter tornado o lema de dezenas de tabernas modernas.
Os pratos vão chegando à mesa quando estão prontos, mas como a conversa está boa – e o vinho não falta – eles tornam-se quase num acessório. Partilhamos pratos, trocamos travessas de inox de um lado para o outro da mesa, perguntamos quem é que ainda não provou o quê e vamos dizendo o que achámos deste ou do outro prato, mas aqui de uma forma completamente coloquial. Porque estamos bem, porque estamos divertidos. Ou seja, estamos numa tasca.
Ainda assim, alguns destaques claros deste nosso jantar, mesmo que sejam pratos que podemos não encontrar numa próxima visita à Vida de Tasca: muito bons os Croquetes (de Carne, claro), os Filetes de Polvo com Arroz de Polvo, o Lombo de Atum, os Chocos Grelhados. E ainda uma surpreendente opção vegetariana, o Bitoque de Cogumelos Ostra – curiosamente, muito melhor que o Bitoque com Ovo A Cavalo, onde o molho estava um pouco aguado demais.
É assim em todas as tascas: há pratos menos bem conseguidos que outros. Mas isso é normal, porque estamos realmente a falar de comida tradicional, muitas vezes de aproveitamento. E mais do que isso, aqui o importante é mesmo o ambiente e o preço baixo. Dois pontos em que a Vida de Tasca consegue realmente fazer jus ao seu nome.
Não há muitas sobremesas na ementa, mas há as necessárias. E como seria de esperar, são sobremesas de tasca! E boas, ainda por cima! Por exemplo, o Doce da Casa – sim, o tradicional e imortal Doce da Casa – é simplesmente maravilhoso! E a Mousse de Chocolate ou a Baba de Camelo não lhe ficam muito atrás. Sobremesa tradicionais e caseiras, para terminar um jantar que passou sem darmos por isso. E isto aconteceu porque estávamos mesmo muito à vontade… como acontece nas tascas.
Terminamos com um café e um bagaço, claro. O bagaço não é exclusivo das tascas, mas faz parte da sua mística. E quando nos levantamos da mesa, damos nota daquilo que prova que estivemos mesmo numa tasca: as toalhas de papel brancas cheias de marcas de copos, pratos e travessas. Marcas de vida, de uma vida que aconteceu ali à mesa, como acontece nas mesas de qualquer tasca. E é esta vida – a Vida de Tasca – que tem mesmo de ser preservada, sem invenções nem mobiliário vintage. Esta Vida de Tasca é uma das grandes surpresas do ano, simplesmente porque fez aquilo que devia ser feito: preservar um património que é nosso.
Preço Médio: 15€ pessoa (com vinho da casa)
Informações & Contactos:
Rua Moniz Barreto, 7, | 1700-047 Lisboa | 21 849 0855