A Argentina nas Amoreiras? Mais ou menos…
É sempre difícil encontrar restaurantes completamente genuínos de um país noutro país qualquer. Os produtos podem não ser os mesmos, os instrumentos também não e, mais importante que isso, nem sempre as pessoas querem (ou conseguem) comer coisas tão específicas. Por isso, é sempre complicado falar sobre restaurantes que se dizem genuínos. Ao que acresce o facto de, em alguns casos, até já conhecemos os países de origem, já por lá andámos, já conhecemos a comida genuína. E isso tudo junto pode, como é óbvio, condicionar as experiências.
A verdade é que estávamos com alguma expectativa no novo restaurante argentino de Lisboa, o Tinto & Brasa, porque já algumas pessoas (inclusive argentinos) nos tinham dito que era bom. Mas aqui nem sequer estamos no campo das expectativas altas que não são cumpridas… estamos mesmo no campo de já termos estado na Argentina, conhecermos bem a comida tradicional, e por isso sabermos comparar. E quando se compara, o Tinto & Brasa fica ali no “mais ou menos”…
É verdade que o nosso jantar no Tinto & Brasa não começa muito bem, por causa da última palavra do nome do restaurante. Noite de sexta-feira, com a temperatura a rondar os 35 graus… e o ar condicionado do restaurante está desligado, com as portas abertas. Passados 5 minutos, está insuportável. Não só porque está mesmo muito calor, mas também porque estamos a falar de um restaurante com parrilla, ou seja, ainda fica mais quente. À nossa voltas, nas mesas quase todas ocupadas, vemos gente a abanar-se com os guardanapos, a limpar o suor da testa. Nada agradável, dizemos nós.
Enquanto suamos como se estivéssemos numa sauna – e pedimos várias vezes para ligarem o ar condicionado, que acaba por acontecer, só a sala já está tão quente que acaba por não surtir grande efeito… – aproveitamos para ver a sala e reparar nos quadros, que fazem uma espécie de viagem à Argentina e à sua cultura a vários níveis. É uma decoração simples mas muito eficaz, especialmente sobre as paredes a simular tijolo.
A carta do restaurante não é muito extensa, por isso sabemos mais ou menos o que vamos pedir. Ainda assim ouvimos algumas sugestões e confirmações, sendo que o serviço, ainda que bastante simpático, precisa ainda de ser afinado, especialmente no conhecimento de alguns pratos. E sim, sabemos que o restaurante abriu há pouco tempo, daí o dizermos que precisa de ser “afinado”, porque tem o potencial para se tornar bastante bom.
Para começar, claro, as Empanadas. Neste caso, Empanadas Criolas de Carne, com uma massa muito boa e um recheio que não lhe fica nada atrás. São parecidas com algumas das que provámos na Argentina, sem dúvida, e das melhores que comemos em restaurantes argentinos Portugal. E isso já é dizer muito. Ao mesmo tempo, a Provoleta Fundida, aqui servida com “topping” de tomate cherry confitado, tirinhas de bacon e uma espécie de um pesto, um prato muito menos diferenciador do que as empanadas.
Felizmente, a entrada seguinte foi o ponto alto da noite, assim de longe: as Mollejas na Brasa. Servidas apenas com um molho de limão, fritas no ponto certo, ainda ligeiramente crocantes, estas sim são muito parecidas com as várias que comemos principalmente em Buenos Aires e que nos fizeram ficar fãs. Até a dose é bastante bem servida para o preço, por isso é um petisco obrigatório numa visita ao Tinto & Brasa.
Mas enquanto o calor na sala era constante, a comida continuava com altos e baixos… E o ponto baixo do jantar é o Choripán, um triste choripán. Novamente, até pode ser por termos base de comparação, mas todas as versões de choripán que comemos na Argentina eram mais “elaboradas” que esta. Aqui temos uma baguete com o chouriço argentino dentro… mas mais nada. O chimichurri vem à parte, por isso nunca se vai incorporar bem no pão, e a salsa crioula nem vê-la, temos de pedir. Geralmente o choripán vem já com estes molhos incorporados, para que o conjunto ganhe já um sabor mais complexo e interessante. Mas da forma como nos foi servido, perde tudo isso…
A nossa ideia foi sempre experimentar várias entradas, depois uma sandes e terminar com um dos cortes de carne que há na ementa. E escolhemos a Entraña porque é um corte muito habitual na Argentina e não tão habitual cá pela nossa tuga. Ora… esta Entraña do Tinto & Brasa fica também um pouco aquém daquilo que esperávamos. Não é que a carne não seja boa, mas não parece entraña argentina, em primeiro lugar; e depois, mesmo que tenhamos pedido mal passada, falta-lhe aquele sabor a parrilla. Além de lhe faltar sal, mas de todo, o que torna logo a carne menos interessante. Pedimos sal grosso, usamos o chimichurri, mas ainda assim não passa do registo normal. O que é uma pena, porque devia ter sido o ponto alto do jantar.
Fechamos o jantar com uma sobremesa, e dividimos a Tarte de Queijo com Doce de Leite (que soa muito melhor assim do que como lhe chama o empregado: “cheesecake”). Sobremesa boa, gulosa, que nunca comemos na Argentina mas que nos faz relembrar o Dulce de Leche que lá estava presente em todas as refeições. É um bom final de uma refeição com altos e baixos.
Ok, podemos voltar ao início do texto: é difícil encontrar um restaurante de gastronomia estrangeira verdadeiramente genuíno fora desse país. E quando conhecemos bem a gastronomia em questão, é ainda mais complicado não fazer comparações. E, no caso da comida argentina, continuamos a achar que o Volver de Carne Y Alma é melhor representante em Lisboa. Mesmo que não seja completamente genuína, é o sítio que melhor interpreta receitas e ingredientes e depois os sabe trabalhar para o seu target. O que não acontece aqui no Tinto & Brasa, que procura uma experiência mais… “tradicional”, se quiserem. Mas que falha em muitas coisas. Falha especialmente na concretização de alguns pratos, como o Chouripán ou mesmo a Entraña, que estão longe de ser tão bons como os originais (ou como as reinvenções no Volver).
É claro que, se não tiverem base de comparação, o Tinto & Brasa até cumpre mais ou menos a sua promessa, que é a de comida argentina. Há coisas boas, outras menos boas, mas isso faz parte do percurso de qualquer restaurante. E destacamos as Mollejas, que realmente nos transportam até às ruas de San Telmo, em Buenos Aires. Por isso, ainda que seja uma viagem curta, não deixa de ser uma viagem. Mesmo com o ar condicionado desligado.
Preço Médio: 35€ pessoa (com vinho)
Informações & Contactos:
Rua João Penha, 30 | 1250-096 Lisboa | 21 387 09 39