Onde a cultura se cruza com a gastronomia.
Decidimos ir ao México por exclusão de partes. Tínhamos estado na Riviera Maya em Setembro de 2021 mais numa óptica de aproveitar a praia, mas a verdade é que gostámos tanto das outras coisas que fizemos fora do resort que, quando nos apercebemos que o México era dos poucos países sem restrições Covid-19 para viajantes, decidimos fazer um roteiro completo, comprar o voo e partir à descoberta!
Por isso, neste artigo vamos falar um pouco de aspectos globais da nossa viagem de duas semanas e pouco pelo México. Vamos deixar informações gerais, uma ideia do roteiro que fizemos, como tratámos de tudo e outras coisas importantes. Se quiserem informações mais detalhadas, temos também artigos para a Cidade do México, Oaxaca (disponível em breve), a região de Chiapas (disponível em breve) e a zona da Riviera Maya.
O ROTEIRO COMPLETO
Da primeira vez que fomos ao México estivemos 8 dias na Riviera Maya, em regime de resort (num pacote comprado via agência). Desta vez, o roteiro que planeámos foi bastante diferente, assim como o próprio registo da viagem: procurámos mais zonas de cidades, explorando 3 regiões diferentes, sendo que também muito motivados pelas zonas arqueológicas que pretendíamos visitar durante estes 15 dias.
Estivemos na Cidade do México durante 5 dias, onde o mais longe que fomos foi a Teotihuacan. Depois fomos para Oaxaca e por lá andámos 4 dias, entre a própria cidade, as zonas arqueológicas em volta e alguns pontos de interesse de registo de Natureza. E, por fim, seguimos para a região de Chiapas, onde passámos 5 dias mais movimentados entre cidades (San Cristobal de Las Casas, Palenque, Tuxtla Gutierrez, etc.) e zonas arqueológicas (Tónina, Yaxthilán, etc.). Sendo que “perdemos” quase 2 dias inteiros em viagem de ida e regresso.
É verdade que limitámos a nossa viagem à zona sul, mas o tempo disponível não deu para ir ao Norte, daí que tenhamos seleccionado as zonas sobre as quais tínhamos mais curiosidade. O México é um país enorme e, mesmo que as deslocações entre províncias sejam feitas de avião, é complicado… os voos não são frequentes, as viagens são longas… O melhor é mesmo pesquisar bem e simplificar.
OS VOOS NA IBERIA
Parece algo sem importância e, para nós habitualmente era… até agora. Viajamos na pior companhia aérea com que já fizemos viagens de longo curso: a Iberia. Em tempos de Covid-19 isto pode ser a diferença entre ter uma viagem tranquila ou apanhar o vírus, simplesmente por causa da tripulação e das políticas da companhia (ou falta delas).
E se o voo de ida já tinha sido atribulado porque deixaram entrar no avião dois passageiros claramente embriagados, que causaram problemas durante as duas primeiras horas de voo (sem sem máscara, ameaçaram de morte algumas pessoas e, para terminar em beleza, vomitaram no avião), o voo de regresso foi surreal. Neste caso, como o avião não ia completamente cheio no último terço, a Iberia decidiu trancar as últimas 4 filas da parte traseira do avião. Razões técnicas, foi o motivo que nos disseram. O nosso problema é que tivemos azar e o passageiro no banco à nossa frente tinha todos os sintomas de estar infectado e passou as 9 horas de voo a tossir, a espirrar e a assoar-se… e muitas vezes sem máscara. Reportámos a situação a 3 assistentes de bordo diferentes, questionando sobre o que podiam fazer sobre o assunto e não tivemos qualquer tipo de resposta. Pedimos inclusivamente para mudar para uma das filas livres atrás da nossa (nem que fosse só uma) e foi-nos dito que não, novamente sem qualquer explicação. Resultado? Três dias depois de estar em Lisboa (e sem ter ido a lado nenhum), testamos positivo à Covid-19. No meio de tudo, a nossa sorte foi ter sido na viagem de regresso… Enfim.
O SEGURO DE VIAGEM & A CONSULTA DO VIAJANTE
Especialmente nesta altura de pandemia (mas na realidade é sempre importante) a primeira dica que damos é fazer um bom seguro de viagem. É ainda mais relevante quando vamos para destinos que têm zonas com climas mais ou menos tropicais, porque nunca sabemos bem o que podemos encontrar. E enquanto a pandemia não passar, o melhor é que o seguro de viagem tenha cobertura Covid-19. Ainda que o mezcal ajude a curar tudo… 😉
Para este tipo de destinos faz também todo o sentido fazer a Consulta do Viajante (pode ser feita online) que, mesmo não nos dando grandes novidades sobre o que esperar nas zonas para onde fomos, dá sempre jeito porque nos passam receitas para todo o tipo de medicamentos e mesmo vacinas que tenhamos em falta (no nosso caso foram a Febre Amarela e a Hepatite A).
A SEGURANÇA
O México é um pais que estamos habituados a relacionar com narcotráfico e violência. Então a Cidade do México nem se fala, com relatos constantes sobre ser das cidades mais perigosas do Mundo! Ora… não foi nada disso que sentimos 🙂
As zonas mais turísticas e interessantes da Cidade do México são completamente seguras, podemos andar à vontade, há imensa polícia na rua, há sistema de vigilância vídeo, há botões de pânico nos postes. Tanto no Centro Histórico como nos principais bairros da cidade (La Condessa, Roma, Coyoacan, etc…) fartámo-nos de andar a pé de dia e de noite, sem qualquer problema. Provavelmente haverá bairros periféricos mais perigosos, mas isso há em qualquer cidade, e nem são os bairros onde há coisas para ver.
Em Oaxaca então ainda menos há para dizer sobre este assunto, porque se trata de uma cidade completamente turística e, por isso mesmo, extremamente segura. Aqui nem sequer se sente tanta polícia na rua, mas também se pode andar de dia e de noite a pé para todo o lado, porque ninguém nos chateia.
A província de Chiapas já tem alguns contrastes… Enquanto San Cristobal de Las Casas é completamente seguro, depois há outras cidades onde já se recomenda que não se ande muito à noite, ou que não saiamos da zona do centro. E, no que toca a conduzir, é muito importante definir bem os roteiros e tentar estar sempre informados com habitantes das zonas sobre os melhores percursos (não só porque as estradas são más, mas especialmente porque há zonas problemáticas). Podem ler tudo sobre isto no nosso artigo sobre a região de Chiapas (disponível em breve).
AS MEDIDAS DE PREVENÇÃO COVID-19
É impressionante. Achamos sempre que na Europa somos os maiores e estamos à frente de países como o México mas a verdade é que nos sentimos extremamente seguros em terras mexicanas. Toda a gente usa máscara na rua (às vezes há um turista ou outro que não respeita, mas é só isso) e nas artérias principais da cidade existem colaboradores do Governo a distribuir máscaras e gel gratuitamente. As grandes artérias pedonais têm inclusivamente sentidos de circulação, como acontece cá nos centros comerciais. E estamos a falar de um País com uma taxa de vacinação acima dos 80%. Não há condutores de Uber sem máscara, empregados de restaurantes com máscaras pela boca, nada disso. Nem sequer quem está ao fogão tira a máscara. Toda a gente cumpre, pela sua segurança e, acreditamos nós, em prol do turismo.
Precisámos de fazer um teste antigénico para regressar a Portugal e também isso foi muito fácil. Em qualquer farmácia os fazem, é uma questão de pagar cerca de 15€, esperar um pouco e em 15m têm o vosso resultado.
O que é mesmo importante é informarem-se ao máximo sobre os restrições impostas pela pandemia a locais que queiram visitar, tanto a nível de horários como de acessos: museus, zonas arqueológicas, palácios… há alguns que fecham um dia por semana, outros que têm horários reduzidos, outros que funcionam por marcação para limitar o número de acessos. Pesquisem antes, para não baterem com o nariz na porta.
O DINHEIRO (E O RAIO DAS “PROPINAS”!)
Bom, este é um tema… sensível. No México é normal que qualquer serviço de atendimento ao público – um restaurante, um bar, um condutor de uma carrinha, um guia etc… – pedir “propina” (a nossa gorjeta). Independentemente da opinião de cada um em relação a deixar gorjeta sistematicamente (e não só quando o serviço em questão o justifica), no México a situação é ainda mais exagerada por causa do montante: enquanto em Portugal nós “arredondamos”, no México tudo está pré-formatado para um mínimo de 10% sobre a conta total (sendo que os terminais de pagamento têm mesmo 4 opções, de 10% a 40%).
Se não deixam “propina” ou se apontam para um valor abaixo dos 10%… bom, pelo menos levam com uma má cara e uma pergunta. Depois há empregados que reclamam, outros que fazem choradinho, enfim, de tudo um pouco. Mas tenham atenção, porque muitas das vezes, quando vos entregam os terminais de pagamento multibanco, já lá está pré-selecionado o valor de 10% extra. Se não quiserem deixar esse valor, tem de dizer para rectificarem.
Percebemos durante a viagem que, na maioria dos sítios, os empregados ganham valores muito baixos e sãos as “propinas” que lhes dão um extra. Mas na verdade isso não significa que o serviço seja melhor, percebem? E a questão é que não estamos a falar de preços baixos, a restauração no México tem preços muito parecidos aos nossos aqui em Portugall (excepto no vinho que é MUITO mais caro).
O que aconselhamos é a pagar o máximo possível em dinheiro vivo (como eles dizem, “efectivo”, e sempre em pesos mexicanos, nada em Euros nem Dólares), porque desta forma podem arredondar a conta se quiserem e já não pressionam tanto com o deixar a “propina”.
AS DESLOCAÇÕES
Em relação a como nos deslocarmos no México, depende muito do lugar onde nos encontramos.
Uber/Taxi
Na Cidade do México o melhor é andar sempre de Uber. Os valores são muito acessíveis (viagens de 40m a menos de 10€), os carros são bons e os motoristas a grande maioria das vezes também, e compensa muito pela rapidez e disponibilidade de carros.
Em Oaxaca já não é bem assim, é mais para andar de Taxi. Apesar de a aplicação estar disponível, nenhum dos motoristas aceita as viagens sem pedir mais dinheiro. Mas como os taxis têm valores de tabela – e, novamente, são muito aceitáveis – é chamar um, perguntar o valor para determinado sítio, fazer as contas… e siga viagem.
Autocarros
Na Riviera Maya andámos praticamente sempre de autocarro por causa das tours mas também nos “colectivos” que passam à frente dos hotéis e que se podem apanhar sem qualquer problema (e são bastante baratos).
Para viagens de longa distância aconselhamos a empresa ADO e especialmente que invistam na vertente “luxo” dos seus autocarros, que dá para dormir perfeitamente porque a cadeira reclina quase como uma cama (e até temos entretenimento a bordo). Fomos da Cidade do México para Oaxaca nestes autocarros, uma viagem noturna, e fez-se muito bem.
Alugar Carro
Geralmente é a melhor opção se queremos ir a zonas para as quais não há transportes públicos recorrentes… mas no México a situação é um pouco mais complexa, porque as estradas não são assim tão boas para conduzir e porque há problemas em algumas populações, o que pode resultar em bloqueios de estrada (e ainda se lê coisas sobre roubos e sequestros…). Nós alugámos carro para nos deslocarmos de Oaxaca até Palenque e regressar até Tuxtla Gutiérrez, ou seja, andámos de carro basicamente por toda a zona de Chiapas. Como escrevemos em cima, as estradas nem sempre são as melhores (demorámos 3h a fazer um percurso de 90km, por exemplo) e é preciso ir tentando saber sempre quais são as mais seguras… mas sem carro, dificilmente se vai conseguir ver tudo o que nós vimos, porque temos muita mais liberdade do que em excursões.
O IDIOMA (OU A IMPORTÂNCIA DE FALAR ESPANHOL)
Se na Riviera Maya esta questão não seja assim tão relevante (porque estamos a falar de uma zona extremamente turística e o inglês é quase a primeira língua), quando falamos de outros locais longe de Cancun começa a ser muito importante dominar o espanhol. A maioria das pessoas não fala inglês, com a excepção de alguns guias turísticos. Pior do que isso: os preços duplicam se não falarem em espanhol (ou “portunhol”, se quiserem) e em situações problemáticas pode ser mesmo complicado não perceber o idioma – especialmente em Chiapas, onde é preciso ter mais informações da parte das populações. Nessa zona recomendamos mesmo tentar falar sempre em espanhol.
AS TOURS
Não comprámos nenhuma tour a zonas arqueológicas ou seja o que for antecipadamente. Nem sequer andámos à procura na net e arriscámos. Fomos sempre por recomendações de amigos (foi o caso da Exploratours na Riviera Maya), dos Hotéis onde ficávamos ou de pessoas que fomos conhecendo ao longo da viagem. Não tivemos qualquer problema, sentimos que era mais seguro e também ficou mais barato do que muita coisa que vimos online 😉
AS CONDIÇÕES ATMOSFÉRICAS
O México é gigante e, como tal, tem todos os tipos de clima. Na Riviera Maya está sempre um calor abrasador e uma humidade acima da média. Mas quando falamos da Cidade do México (2240m de altitude) ou Oaxaca (1 555m de altitude) a manhã e a noite são bem frias! Não se deixem enganar. Além disso, e especialmente na Cidade do México, a questão da altitude sente-se mesmo um pouco, porque parece que nos cansamos mais a andar. Não se assustem 🙂
Outro local que nos surpreendeu por ser G-E-L-A-D-O foi San Cristobal de Las Casas (2 200m). Durante o dia algum calor, à noite baixa para 4 graus. Porra! Chiapas é a região mais quente mas também chove muito, especialmente na zona da selva. Por isso é melhor levar um impermeável.
A COMIDA E AS BEBIDAS
O primeiro conselho é mais fácil do que parece e relativamente óbvio para quem está mais habituado a viajar para fora da Europa: nunca beber água que não seja engarrafada. Em alguns locais, como em San Cristobal de Las Casas, aconselham inclusivamente a não lavar os dentes com água da torneira. Isto parece fácil de fazer assim à partida, mas durante a viagem há uma quantidade enorme de bebidas, frutas e pratos que podem estar contaminados por água (ou gelo).
Isto quer dizer que não bebemos nada na rua? Nem por isso… bebemos várias vezes águas de sabores (água misturada com ananás, hibisco ou horchata) ou outras bebidas com gelo. Também comemos fruta descascada ou cocktails em banquinhas de rua. Normalmente o que temos sempre em atenção é ao aspecto da “loja” e também se tem mais clientes ou não. Outra solução é pedir que façam no momento (no caso do sumo de laranja por exemplo).
A observação sobre “ter mais clientes” também se aplica às bancadas de street food que se encontram por todo o lado, especialmente na Cidade do México. À partida, é de evitar bancas que estejam completamente vazias. Pode não acontecer nada… mas se não está lá ninguém e as outras estão cheios de habitantes locais, alguma será a razão.
Relativamente à comida, se têm estômago sensível… preparem-se para uma viagem desagradável. No México, qualquer comida é gordurosa, picante, com sabores fortes e cheia de molhos. E, claro, a base de toda a comida mexicana é o trigo. Ora, esta combinação faz com que os vossos intestinos trabalhem… e muito. Levem medicamentos para “emergências” e tentem intercalar com fruta (porque é bastante raro encontrar vegetais “normais” como acompanhamento de pratos) ou comida grelhada.
Tacos, tamales, memelas, moles e etc. são tudo coisas deliciosas e muito estimulantes de provar… mas podemos garantir (por experiência própria) que depois dos primeiros 5 dias já estão a salivar por sabores mais normais e menos intensos. Ou menos aproximados uns dos outros, se quiserem. A nossa comida portuguesa é realmente fantástica <3
Em resumo, isto é a base do que precisam de saber para fazer uma viagem ao México. Algumas coisas não não muito diferentes do que acontece noutros países, outras são específicas para este caso. O importante é que as coisas sejam bem planeadas e que se informem bem sobre os vários pormenores da viagem. Porque o México pode ser uma experiência fantástica e divertida, isso é indiscutível! 🙂
Se quiserem saber mais sobre os roteiros específicos dos sítios por onde andámos, estejam atentos que em breve saiem os roteiros de cada zona. Boa Viagem!