Uma viagem (PERFEITA) a um Brasil tão próximo de nós!
Começando pelo fim: o Aromas e Temperos foi, a par da Cevicheria e do Delícias de Goa, um dos restaurantes que mais nos surpreendeu este ano (até agora!). Não pelo facto de não haverem muitos restaurantes brasileiros em Lisboa (e não estou a falar dos rodízios de carne), o que leva a algum desconhecimento acerca da gastronomia do chamado “país irmão”, mas muito porque aquilo que podemos encontrar no Aromas e Temperos é um fusão perfeita entre as duas gastronomias. Tão diferentes mas com tantos pontos em comum.
E mais do que isso! O jantar no Aromas e Temperos é uma experiência que ultrapassa a própria comida, porque a simpatia do atendimento e principalmente a vontade da Chef Juliana em querer explicar-nos os pratos e a sua razão, mostram que o que podemos encontrar neste pequeno restaurante é aquilo que devíamos encontrar em todos: paixão pela cozinha e em partilhar isso com os outros.
O restaurante está assim meio escondido e menos de 20 lugares. Se calhar é melhor assim, porque torna a experiência mais intimista. Somos recebidos com um sorriso e muita simpatia. A ementa, escrita na parede em ardósia, mostra muita coisa que parecemos reconhecer pelo nome… mas com algumas diferenças. Mas nem precisamos de perguntar, porque aqui fala-se com as pessoas e explicam-se os pratos, como são feitos e como as influências brasileiras se cruzam com toques portugueses (principalmente a nível de ingredientes). A própria Chef Juliana faz questão de vir à sala cumprimentar os clientes e falar com eles acerca dos pratos. Explica, sugere, aguça-nos o apetite.
Explicam-nos que são doses para partilhar, por isso partilhamos algumas coisas, por sugestão.
O couvert traz-nos as lascas de polvilho com pão de queijo, um começo interessante para a refeição. Depois, ao mesmo tempo, chegam à mesa o crocante da ilha e o pastel de bacalhau da casa: o primeiro são umas bolinhas crocantes de queijo da ilha, fritura perfeita e geleia picante viciante, e o segundo uma espécie do nosso pastel de bacalhau mas com uma massa super fina e folhada (inspirada no pastel de vento brasileiro) e o recheio sem batata, o que faz ressaltar o bacalhau numa conjugação de sabores fabulosos.
O único prato que escolhemos sem sugestão foi o caldinho de peixe… e para mim foi o prato da noite. Um caldo límpido e fino, com um sabor a peixe excelente, que se despeja num copo onde já está um robalo marinado excelente. A melhor sopa de peixe que comemos desde há muito tempo! E com uma apresentação fora de série! Era difícil seguir este caldinho, mas ainda assim fechámos os pratos com o escondidinho de carne seca e batata doce, um dos pratos mais pedidos da casa: um tachinho com uma espécie de empadão, com carne seca e batata doce, que se percebe que seja o prato mais pedido, porque também é o mais próximo de nós.
Para terminar, duas sobremesas: o sagu ao Porto, com uma textura que se estranha um pouco mas com bom contraste entre doce e ácido… e uma sobremesa que merece uma estátua, os bolinhos de tapioca com doce de leite caseiro. Os bolinhos são perfeitos, com um sabor incrível, e o doce de leite é melhor do que todos os outros doces de leite que já comemos na vida todos juntos. Esta sobremesa é uma coisa do outro mundo.
Acompanhámos com caipirinhas, feitas à brasileira de verdade, ou seja, muito bem feitas.
Não foi uma refeição, foi uma viagem perfeita de um lado para o outro do oceano.
O Aromas e Temperos é tudo aquilo que se pode querer num restaurante. Ok, podia ser maior, ter mais mesas, estar melhor localizado, mas tudo isso é completamente secundário. As pessoas tornam este restaurante numa referência para quem gosta de comida brasileira e para quem gosta de comida em geral. Porque os restaurantes são isso mesmo, são pessoas, apaixonadas pelo que fazem, com vontade de o partilhar com quem queira.
Numa palavra: PERFEIÇÃO.
Preço Médio: 18€ pessoa (com 3 pratos para dividir e sobremesa, com caipirinha)
Informações & Contactos:
Travessa Rebelo da Silva, 2 | 1000-102 Lisboa | 21 3620119
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