Um restaurante… apaixonante.
Demorámos muito tempo a pensar naquilo que íamos escrever sobre o Ciclo. E depois de pensar bastante, a conclusão a que chegámos é clara, e faz sentido na nossa cabeça, especialmente pelo contexto que fomos desenvolvendo em relação ao restaurante: às vezes os restaurantes não têm de ser perfeitos… basta que sejam apaixonantes. Curiosos? Então vamos a isso!

O Ciclo entrou no nosso radar há uns tempos, depois de vermos stories de algumas pessoas que respeitamos muito no meio dos influenciadores de restaurantes. Foi para a lista de restaurantes a visitar, e com urgência. Não necessariamente pelo conceito relacionado com a sustentabilidade, e com o aproveitamento do produto para criar todos os pratos… mas porque esses mesmos pratos nos pareceram muito apetecíveis e criativos.

E a verdade é que saímos do Ciclo a pensar que, se a nossa experiência fosse simplesmente limitada ao que comemos, então teríamos ficado decepcionados. As expectativas eram muito altas, é verdade, e daquilo que provámos do menu que existia no dia do nosso jantar, apenas metade dos pratos nos fizeram dizer “Uau!!!”. Mas é depois que entra o outro factor, aquele que nos faz usar o termo “apaixonante” para descrever o Ciclo.


Porque o dia em que realmente nos apaixonámos pelo Ciclo não foi quando lá fomos jantar, nem quando ouvimos maravilhas de pessoas nossa amigas. Foi na cerimónia de prémios do Mesa Marcada, onde o Ciclo recebeu o prémio de Restaurante Novo do Ano. E quando o Chef José Neves e a Cláudia Abreu subiram a palco, de forma muito emocionada, mostraram toda a paixão que têm por este projeto, e também um pelo outro 🙂 Foi nesse momento que nós – e acredito muita gente mais – nos apaixonámos pelo Ciclo. Por causa daquelas duas pessoas e pela forma como vivem o seu restaurante.

E depois disso? Depois disso, fomos jantar ao Ciclo. Ora, falando ainda de paixão, a verdade é que não ficámos apaixonados pela comida em geral. Há criatividade, há uma clara ideia daquilo que se pretende com cada prato, mas às vezes sentimos falta de sabor, e isso é sempre mais importante que tudo o resto. Há pratos cujas descrições nos fazem crescer água na boca – Berbigão “À Alentejana”, `Nduja de Javali, Barriga de Borrego, Nabos, Mostarda ou Cavatelli, Ragù de Choco, Espargos Verdes – e que são realmente bem executados… mas que não ficam na memória.

E depois há outros pratos que superam as expectativas, como os Croquetes de Borrego com Ketchup de Tamarilhos, a Tempura de Cebolas Novas e Tosazu, a Barriga de Borrego, Nabos, Mostarda, ou a Batata Doce, Funcho, Espinafres e Caril Verde, um prato fabuloso, que entra para a lista restrita dos melhores pratos que comemos este ano!
Ora, onde é que esta descrição até agora nos leva ao título do review, sobre o Ciclo ser um restaurante apaixonante? Simples: é durante a sobremesa – Bolo de Limão Preservado, Frangipane de Amêndoa e Suspiro, que é o prato que menos nos agrada de todo o jantar – que o Chef José Neves vem até à nossa mesa, saber a nossa opinião sobre os pratos (como fez com o resto da sala).

É neste momento que explicamos aquilo que gostámos mais e menos em cada prato, mas mais do que isso: que aquilo que sentimos é que o serviço nos devia ajudar com a experiência, explicar que o Ciclo aposta numa política de sazonalidade, de sustentabilidade, de reaproveitamento de ingredientes. Isto é algo que nós sabíamos previamente mas que não nos foi explicado no restaurante, e esse “pequeno” pormenor faz com que a nossa experiência seja logo menos completa.
E também é nesta altura que temos uma enorme surpresa: à nossa frente está uma pessoa que realmente quer saber aquilo que pensamos, que consegue ouvir o nosso feedback e construir em cima disso. Esta longa conversa pós-jantar mostra-nos novamente aquilo que sentimos na cerimónia da Mesa Marcada: a paixão que o Chef José Neves tem pelo projeto do Ciclo, e a forma como encara a ideia de fazer uma cozinha sustentável, mas ainda assim criativa e com sabor.

É isso mesmo que lhe dizemos, no final da conversa e da refeição: podemos não ter adorado todos os pratos, mas ficámos apaixonados pela história por detrás do restaurante… e mais do que isso, ficámos apaixonados pela paixão que o Chef José Neves demonstra por aquilo que faz no Ciclo. Por isso é que, quando saímos porta fora no final do jantar, comentamos um com o outro que queremos regressar ao Ciclo, para provar outros pratos – já que o menu está em constante mutação, devido ao posicionamento sustentável do restaurante. E comentamos ainda que, às vezes, um restaurante não precisa de ser perfeito. Precisa sim de ser apaixonante, ou de nos apaixonar.
Preço Médio: 40€ pessoa (com vinho a copo, sem menu de degustação)
Informações & Contactos:
Largo das Olarias, 42 | 1100-376 Lisboa | 963 691 234