Não era precisa tanta fusão…
… porque demasiada fusão resulta inevitavelmente numa confusão tremenda. E é com essa sensação que saímos do Mazahar Sushi Experience, um pequeno espaço em Alcabideche (Manique, para ser mais preciso) onde amigos nos levaram debaixo da promessa irresistível de “é pá, aquilo é dos melhores sushis que já comemos!” Pois que fomos… e não achámos nada.
Mas claro que compreendemos que isto é tudo uma questão de expectativas e, acima de tudo, de experiências. Sem querer ser “cagões”, a verdade é que estamos habituados a restaurantes japoneses mais complexos e com ofertas mais genuínas, e também é verdade que termos estado quase um mês inteiro no Japão mudou a nossa perspectiva em relação a muita coisa, especialmente ao sushi. Acima de tudo porque essas experiências todas mostraram-nos claramente que o sushi é muito diferente daquilo que se faz pelo mundo fora: é produto, é simplicidade, e definitivamente não é fusão. Ou pelo menos fusão “à bruta”.
Ora, a grande questão é: o Mazahar Sushi Experience é um mau restaurante de sushi? Não, não é. Também não é um restaurante japonês, mas isso são outras histórias. A verdade é que já estivemos em restaurantes de sushi muito piores, com menos qualidade no produto e na execução das peças. O Chef Marcos Araújo é habilidoso, sabe o que faz com as peças e usa bom produto. Mas… depois começamos a ver demasiada fusão em coisas simples, e isso para nós estraga tudo. São opiniões, é verdade. Mas aqui neste fórum nós escrevemos a nossa.
Vamos ao Mazahar Sushi Experience em grupo, e com amigos que já conhecem o restaurante e o Chef, por isso não temos de pedir nada. “É o Chef que escolhe”, dizem-nos. E aceitamos porque estamos ali mais pela companhia do que propriamente para ter uma grande experiência gastronómica, algo que se comprova durante todas as mais de duas horas que dura o jantar.
Fazemos algo que se aproxima do Sushi Experience, um dos menus de degustação do Chef, mas que é praticamente todo baseado em peças de fusão. Há um momento braseado, outro marinado e ainda um momento com algum sashimi, mas a grande maioria das peças que vão chegando à mesa são de fusão, sem deixarem viver a matéria-prima. O que irrita um bocado, para ser honesto. Porque sabem quando percebem claramente que o produto é bom… mas depois há muita coisa ali à volta a impedir que te concentres no que é essencial? Pois, é isso mesmo.
Aliás, nem vamos descrever muita coisa, porque as fotografias são mais ilustrativas. Uma espécie de nuggets com salada de pacote e molhos em cima? É pá, nem por isso… Depois lá vêm os braseados e marinados e tal, que resultam bem porque ainda estamos no início do jantar e não sabemos bem o que vem a seguir. E ainda um petisco fantástico – das melhores coisas da noite, mas assim de longe! – os Chips de Peixe Branco, com uma espécie de ceviche de um peixe branco também. E se passarmos por cima do facto de aqui se continuar a usar a expressão “peixe branco” para classificar qualquer peixe que não seja atum nem salmão, isto é um petisco mesmo bom. Os chips têm um gostinho a peixe, são crocantes, tudo é bom. Mas depois vem a fusão.
Temos fatias de salmão braseado servidas num prato com uma pequena chama (alô 2017, estás por aí?!), temos toro servido cru ou novamente braseado, mas cheios de molho em cima para que não se consiga sentir o peixe… Ou uramakis uns a seguir aos outros, cada um com o seu molho diferente também. É verdade que somos um grupo grande, mas não há uma apresentação das peças que chegam à mesa, é simplesmente deixar o prato e está feito.
Mas independentemente da forma como é servido, o que mais nos irrita mesmo durante este longo jantar é que não sentimos que as peças que nos são servidas estejam a valorizar minimamente a matéria-prima. E isso é a regra base do sushi, aliás, da comida japonesa: valorizar o produto, dar-lhe destaque. Mas aqui recebemos uramakis que destacavam o queijo creme, uma ou outra fruta… enfim, muito diferente daquilo que esperávamos. E isso se calhar foi erro nosso.
A determinado momento no jantar, depois de muitas peças (e muitas garrafas de vinho branco, porque às vezes é preciso beber para esquecer), chegam então as coisas que nos levaram ao Mazahar Sushi Experience: as ostras e o ouriço. Em português, claro. Ora, a ostra é boa, mas não precisava de ter mais nada do que a ostra, esqueçam lá o molho. E o ouriço… seria muito mais interessante se não fosse servido apenas como topping num gunkan de salmão normalíssimo. Vem empratado, é verdade, mas ouriço mesmo só no topo do gunkan, e isso não destaca minimamente o produto. Aliás, é só parvo…
Quase a chegar ao final, temos um momento com sashimi. E aqui sim, estamos muito mais próximos daquilo que esperávamos. Ainda que saibamos que podemos ter graus de comparação diferentes em relação a muitas outras pessoas – e malta, é o que é, é a realidade, aceitem se quiserem. Mas no sashimi é difícil falhar, e aqui no Mazahar Sushi Experience é o único momento em que não se inventa nada: peixe fresco, bem fatiado, alguma variedade. Simples e eficaz, não é verdade? Agora… custava muito que o resto fosse assim?
E sim, sabemos que gostos são gostos. Nós somos menos de fusão e mais de boa matéria-prima, mas sabemos que há muita gente que gosta é de sushi de fusão e por isso os restaurantes têm de agradar a todos. Ou não, na verdade não têm… o que têm é de definir o seu território e só lá vai quem quer. Mas aqui sentimos que há uma pequena tentativa de apanhar fãs de sushi mais “hardcore”, só que na realidade a grande maioria do que se serve é “mainstream”.
O Mazahar Sushi Experience não é um mau restaurante de sushi, aliás, está muito longe disso! Há aqui técnica e, mais importante, bom produto. Conhecemos – infelizmente – muito restaurantes de sushi onde a fusão é a forma fácil de tentar esconder mau produto. No Mazahar Sushi Experience não é esse o caso, definitivamente. O bom produto existe, só que aparece-nos na mesa esporadicamente, e pior do que isso, sem ter o destaque suficiente. Se tens bom toro (atum), serve-o sem invenções! Se tens bom uni (ouriço), serve-o sem ser apenas um topping! É tão simples como isso…
Preço Médio: 35€ pessoa (se optarem por um menu, com vinho)
Informações & Contactos:
Calçada Vital, 21 | 2645-487 Alcabideche | 934 005 926