Praia, Lapas, Espetadas, Miradouros… e Ponchas!
O Porto Santo é muito isto. Sim, sabemos que há quem nos vá acusar de ser limitados e estar a resumir demasiado tudo aquilo que há para fazer nesta ilha. E sim, também lemos aqueles blogs de malta que passou duas ou três semanas no Porto Santo e todos os dias fez e/ou visitou coisas diferentes… mas serão assim tão diferentes? Pois, aqui vamos relatar a nossa experiência: uma semana de férias no Porto Santo. O que fizemos, o que visitámos, o que comemos e em que restaurantes.
Quando ir?
O Porto Santo tem a vantagem de ter um micro clima, o que faz com que a temperatura seja mais ou menos constante todo o ano. Mas o ideal é ir entre Maio e Outubro, sendo que na segunda quinzena de Julho e no mês de Agosto é quando está mais gente. E no final de Outubro os hotéis grandes começam a fechar, e com eles fecham alguns dos serviços da ilha.
Como ir?
Sendo uma ilha, adivinhem. Isso mesmo! Avião ou barco. Há algumas companhias a voar do continente, nomeadamente a EasyJet e a TAP. Os preços não são baratos, especialmente na TAP, por isso escolham bem os voos e comprem com antecedência. Se, por outro lado, a opção for ir ao Porto Santo depois de passar uns dias na Madeira, podem novamente ir de avião ou então apanhar o ferry, que faz uma ou duas viagens por dia (consoante os meses). O ferry custa cerca de 50€ e a viagem dura 2 horas, é sempre uma boa opção.
Onde ficar?
Grande parte do turista que vai ao Porto Santo é para ficar em resort, em regime de tudo incluído. O Pestana é a maior cadeia hoteleira da ilha, mas há mais hotéis nesse registo. Só que os preços desse tipo de pacotes são tão caros como ir para as Caraíbas. Por isso, na nossa opinião, a melhor alternativa é mesmo tentar alugar uma casa, porque há imensas, e com preços a começar nos 50€ por dia. É mesmo pesquisar um bocado.
Em termos geográficos, faz sentido ficar na zona mais próxima da praia, para andar a pé. Não é necessário ficar mesmo em Vila Baleira (a localidade principal da ilha, onde é o “centro”), porque tem sempre mais gente e a praia é mais confusa. Nós ficámos na zona do Campo de Baixo, a 5 minutos a pé da Praia do Ribeiro Cochino – com muito menos gente – e a 25 minutos a pé do centro, o que dava para uma caminhada simpática depois de jantar. Longe da confusão, perto da praia… querem coisa melhor?
Como andar de um lado para o outro?
Porto Santo não é uma ilha grande, mas ainda assim há sítios para os quais não se vai a pé, por causa da distância. Não vos podemos dizer muito sobre os transportes públicos da ilha, mas a nossa recomendação é alugar um carro durante uns dias e organizar as deslocações que querem fazer para os dias em que têm carro: idas ao supermercado, visitas aos pontos de interesse mais afastados, etc. Há várias opções de empresas de aluguer de carros ou motos ou veículos de todos os tipos, é pesquisar na net e escolher. E atenção que a ilha tem subidas e descidas acentuadas, escolham um veículo com força.
Como são os preços?
Sendo uma ilha e, principalmente, sendo uma ilha profundamente turística, os preços são um pouco mais altos do que é normal. Estão ao nível da Madeira, se quiserem. Mas depende muito do que fizerem, dos restaurantes que escolherem, dos pratos que pedirem… como acontece em todo o lado. Com a vantagem de que aqui sempre que pedem uma cerveja ou uma poncha, há tremoços e amendoins para acompanhar… ou seja, têm a refeição feita 😉 Se ficarem em alojamentos com cozinha, façam as compras no único supermercado grande da ilha – um Pingo Doce, na Vila Baleira – porque nos mini mercados os preços são um bocado “puxadotes”.
O que fazer?
Não estamos a falar de uma ilha especialmente grande, por isso não há assim tanto para fazer. A volta à ilha dá-se em duas horas de carro, e os pontos de interesse estão mais relacionados com a Natureza. A geografia é diferente da Madeira, porque o Porto Santo é mais árido, por isso também não vão ver paisagens contrastantes. O principal a fazer no Porto Santo é mesmo praia, que é fantástica! A extensão do areal, a areia fina, a água com uma temperatura bem boa. Não é à toa que é considerada das melhores praias da Europa. E é tão extensa que só ficam ao pé de outras pessoas se quiserem mesmo muito. Dois avisos, ainda assim: levar um corta vendo, porque é habitual a praia ser ventosa; e muito protector, porque o vento e as nuvens parece que bloqueiam o calor mas não é bem assim, aquilo queima como o raio!
O centro é a localidade de Vila Baleira, que tem restaurantes, lojas, algumas ruas com comércio, um museu, um pontão… mas pouco mais. Vale a pena ir ao final do dia ou à noite, comer um mítico gelado Lambeca (ou vários, um por dia, porque os sabores mudam várias vezes ao dia). Mas é para ir ao sítio original, que fica no Largo do Pelourinho!
Depois há outros pontos de interesse, entre miradouros, piscinas naturais e praias de acesso mais complicado. No caso destas últimas, temos Porto de Salemas (que forma umas piscinas naturais no meio das rochas) e ainda a Praia do Zimbralinho (uma pequena enseada no meio das escarpas, ideal para ir no período da tarde porque o sol está de frente). Ambas têm acessos complicados, com descidas acentuadas para as quais é melhor levarem bom calçado.
Uma zona da qual gostámos mesmo muito – e cujo acesso é bastante melhor – é a zona de Porto de Frades e as suas piscinas naturais. O cenário é lindo e têm de ir com a maré vazia, para que se formem as bolsas de água no meio das rochas. Depois é deixarem-se estar à vontade 🙂
Se derem a volta à ilha, vão também perceber que há miradouros em todo o lado. Ora… sendo a ilha pequena, alguns deles acabam por se atropelar e terem basicamente a mesma vista. Nós aconselhamos três, que realmente se destacam pelas vistas diferentes. Por exemplo, o Miradouro da Portela fica ligeiramente acima do restaurante Panorama, onde também é habitual estarem os Moinhos de Porto Santo (nesta nossa visita tinham sido retirados para manutenção). Neste miradouro temos uma boa vista sobre a ilha e a sua extensão de praia.
Outros dois destaques nesta categoria são claramente o Miradouro das Flores, numa das extremidades da ilha, que permite uma vista direta para o Ilhéu da Cal, tem um pôr-do-sol incrível e ainda permite tirar aquela que é uma das fotos mais emblemáticas do Porto Santo – sim, também tirámos! – e ainda o Miradouro do Furado Norte, um pouco mais a norte, onde já conseguimos perceber a geografia daquela zona da ilha, com as encostas de rocha e a imensidão de mar azul. São ambos sítios a visitar.
No Porto Santo ainda podem fazer algumas atividades relacionadas com o mar, nomeadamente mergulho ou passeios de barco. Nós fizemos um pequeno passeio de final de tarde com a empresa Underwater Paradise, num catamaran completamente elétrico, e deu para termos vistas muito bonitas da ilha e ainda fazermos snorkeling num sítio com uma diversidade incrível de peixes. Altamente recomendado!
De resto, a Ponta da Calheta é o final da extensão de praia, há alguns trilhos que podem fazer, mais localizados na zona nordeste da ilha, mas pouco mais (pelo menos na nossa opinião). As localidades em si são apenas aglomerados de casas e o resto da ilha é mesmo muito árida, por isso é ir a estes quantos spots num ou dois dias e depois aproveitar a praia.
E Restaurantes (claro!)?
Não podíamos escrever apenas um roteiro turístico, pois não? Claro que temos de escrever sobre restaurantes, sobre as experiências que tivemos na ilha. Nenhuma foi completamente má, algumas foram decepcionantes porque nos tinham dito que seriam restaurantes fantásticos. Mas, felizmente, tivemos algumas boas surpresas! De seguida falamos resumidamente sobre os restaurantes no Porto Santo, sendo que quem quiser saber mais tem os links para a review específica de cada um.
Basta pesquisarem um pouco que a maioria das indicações de restaurantes no Porto Santo levam-nos para um grupo restrito de 5 ou 6 sítios. São os mais conhecidos, os mais frequentados, aqueles que têm maior fama, mesmo que alguns tenham só isso. Mas podemos fazer um disclaimer já para começar: tenham atenção, porque estão numa ilha completamente turística, mas onde a maioria do atendimento nos restaurantes é… pouco simpático. Não esperem muitos sorrisos, não esperem uma competência acima da média, no fundo, baixem as expectativas. E mesmo a nível da comida em si, não vão à espera de ser surpreendidos. Vão comer bem – como nós comemos, na maioria dos sítios – mas não vão ter grandes surpresas nem grande variedade. Espetada, lapas, picadinho, polvo, decorações de pratos com vinagre balsâmico (saiba-se lá porquê)… e poncha, claro.
Ora, sendo uma ilha sem praticamente agricultura, o Porto Santo depende daquilo que se vai encomendado para vir de barco, e às vezes os fornecedores falham. Pelo menos foi essa a desculpa para falta de alguns produtos, como batatas – esta foi a desculpa para nos servirem batata frita congelada no Teodorico, que curiosamente foi a nossa melhor experiência de restauração no Porto Santo. Espetada regional fabulosa, T-Bone fantástico, tábua de queijos e enchidos para entrada, duas sobremesas deliciosas e acabar com um rum caseiro para acompanhar o café. Até a nível de serviço foi o melhor que tivemos durante esta semana.
O Teodorico foi um dos restaurantes mais recomendados por todas as pessoas que nos deram dicas, e efetivamente percebe-se o porquê. A qualidade da carne que comemos foi fantástica, e sentimos que o serviço tem realmente um cuidado acima da média, quando comparado com os restantes restaurantes que visitámos no Porto Santo.
Outro dos restaurantes mais recomendados foi o Panorama, especialmente por causa da vista. A localização no cimo da serra e a sala forrada a janelas permite-nos uma vista privilegiada sobre a ilha e ainda apanhar o pôr-do-sol, o que torna qualquer jantar num momento mágico. O restaurante é um pouco mais sofisticado e a comida é menos típica, se quisermos, mas muito boa na mesma, com especial destaque para os pratos de peixe e as sobremesas.
E a vista… já dissemos que tem uma excelente vista? O ideal é mesmo ir jantar a horas de ver o anoitecer, porque tanto de dia como de noite, é uma maravilha.
O “Calhetas” era um daqueles restaurantes de que me lembrava da primeira visita ao Porto Santo, há mais de 15 anos. Na verdade chama-se Restaurante Ponta da Calheta e fica… adivinhem… exactamente na Calheta. Sala aberta para levar com o ar do mar e para podermos petiscar qualquer coisa depois da praia e antes de jantar, como estas lapas da foto em baixo, as melhores que comemos no Porto Santo!
A carta aqui está mais virada para o peixe, se bem que com as limitações de variedade comuns a todos os restaurantes da ilha. Mas ainda assim comemos um dos melhores pratos da semana, o filete de espada com banana e maracujá, um prato exótico e fantástico. Muito boa também a feijoada de polvo e o bife de atum de cebolada, e até o milho frito a acompanhar era muito bom!
O único restaurante que repetimos durante a semana que estivemos no Porto Santo foi o Pé na Água, o que é curioso porque tínhamos a ideia que era uma espécie de bar de praia e iria ser um bocado “tourist trap”. Mas depois de uma primeira visita ao final da tarde para petiscar umas lapas grelhadas – que foram das melhores que comemos na ilha – acabámos por regressar noutro dia para almoçar. Lapas fantásticas, picadinho regional muito bom, escabeche de polvo, pregos em bolo do caco… enfim, não só estamos em cima da praia como comemos muito bem.
Outra dica fantástica e que ficava no nosso caminho para a praia é o Snack-Bar O Girassol. Ponto de encontro de locais e turistas, para beber cervejas ou ponchas e petiscar qualquer coisa, sendo que a especialidade aqui são as chamuças, que podemos dizer-vos serem fabulosas!! Vale a pena provar todas, e até é um bom snack para levar para a praia.
E para beber poncha? As sugestões dividiam-se entre a Poncha do Agostinho (Bar Fontinha), onde só conseguimos ir já nos últimos dias, porque aquilo só abre às 22h… e é quando querem abrir – ponchas boas, ainda assim, fortes; e a Taberna O Banheiro, no Campo de Cima, a nossa preferida, não só pela qualidade das ponchas mas também pela esplanada muito fixe e pela simpatia dos donos. Acabou por se tornar romaria obrigatória quase todas as noites.
Mas nem todas as dicas nos levaram a restaurantes dos quais gostámos mesmo. E atenção: não houve nenhum restaurante do qual realmente não tenhamos gostado, mas alguns ficaram muito aquém das expectativas… Como por exemplo aquele que todos dizem ser o spot mais concorrido da ilha, especialmente para os petiscos: o João do Cabeço.
Não reservam mesa porque teoricamente estão sempre chios, mas sempre que por lá passámos havia mesas disponíveis. Fizemos lá um almoço tardio, e comemos uma lapas grelhadas que ficaram longe de outras que comemos nesses dias e uma carne em vinha d’alhos boa, mas sem ser surpreendente. E ainda levámos com um serviço mal encarado e nada simpático, que inclusivamente nos serviu uma das cervejas num copo partido – partido mesmo, sem parte do vidro – e não repararam…
Outra decepção foi O Torres (ou Grill Torres, como muitos lhe chamam). O espaço atira um bocadinho para o fino, mas um fino assim clássico, nem sei bem… parece desajustado com o resto da ilha, mas depois começamos a ver as famílias mais tradicionais a chegar e percebemos o posicionamento.
O serviço foi estranho, muito simpático para mesa com pessoas conhecidas da casa, mais neutro para quem era novidade; a comida teve altos e baixos, mas nada se destacou como sendo muito acima da média – talvez com a excepção do prato emblemático da casa, o polvo à moda da Clarinha, que não me pareceu muito diferente de um polvo à galega. E, tendo em conta o tamanho das doses face ao preço, acabou por ser o jantar mais caro que tivemos no Porto Santo.
Só para terminar a leva de restaurantes muito recomendados e dos quais não gostámos assim tanto, eis o Mercado Velho, mesmo no centro de Vila Baleira. É giro o sítio, era o antigo mercado de peixe, mas depois a comida… o chouriço assado foi das piores coisas que comemos na vida, as lapas foram as menos interessantes que comemos durante toda a semana, nem o bolo do caco estava bem torrado. Até pode ser verdade que o forte do espaço é o peixe, mas pela amostra que tivemos, acabámos por não querer voltar para provar. Enfim…
Outro restaurante do qual tinha muito boas recordações da visita anterior ao Porto Santo era a Adega das Levadas, um restaurante tradicional que fica no cimo da serra. Lembrava-me de uma espetada fantástica e de um sítio muito típico, mas aquilo que encontrámos foi um restaurante vazio (num sábado à noite) e uma espetada intragável de salgada. Não me lembrava do restaurante assim…
Finalmente, na noite em que chegámos o voo atrasou, por isso foi preciso encontrar algum sítio aberto até mais tarde. A única opção foi o Terra Minha Sushi Bar, o restaurante de sushi da ilha (penso que o único). Decoração muito gira, com quadros para venda, mas depois poucas opções a nível de ementa e algum descuido na montagem das peças. Não sendo mau, com maior cuidado podia ser muito melhor.
Só uma consideração final em relação aos restaurantes: a grande maioria deles tem serviço de transfer para oferecer, por isso questionem quando fizerem a reserva. Só alguns é que perguntam, a maioria não diz nada até puxarem o assunto.
E pronto, Porto Santo é isto! Um destino fantástico para férias de praia, para quem gosta mesmo de praia e quer estar um bocado isolado do resto do mundo. Há bons restaurantes, há sítios giros para visitar, mas é acima de tudo um destino de praia e descanso. A nossa sugestão é evitar os preços proibitivos dos resorts ou, caso vão nesse registo, optem por meia pensão, para poderem experimentar os restaurantes da ilha. Aproveitem a praia, caminhem, comam e bebam. Porque uma poncha por dia, nem sabem o bem que nos fazia! 😉
Quando voltarem ao Porto Santo têm que experimentar 2 lugares:
Restaurante Vila Miséria: pertence a pescadores e para mim é o melhor lugar para comer peixe, lapas e cracas no Porto Santo. A espetada e o picado também são muito bons. A espetada não fica atrás do Teodorico.
Snack bar o Golfinho: espaço mínimo com muitos anos com óptimos petiscos tradicionais como gaiado (atum seco), sandes de espada e lapas. E tem as minis mais geladas de toda a ilha!
Obrigado, Pedro! Para a próxima vamos experimentar certamente 🙂
Passei férias em Porto Santo de 1994 a 2000 e sempre foi um destino de praia e não gastronómico – no geral pouco variado e caro – mas íamos sempre uma vez à Calheta e outra ao Teodorico (que recomendei no Instagram). Sendo uma ilha em que quase tudo vem de fora, especialmente no centro da vila baleira o que se encontra é muito genéricom
Voltei em 2017 e na altura gostei do Mercado Velho para o petisco, e na altura gostei das lapas, mas há em todo o lado – podia só comer lapas em toda a estadia no Porto Santo. Também fui à adega das Levadas, não tive a má experiência e por isso também recomendei.
Vou voltar este ano em Setembro e com este guia em mente.
Obrigado pela partilha!