Um pedaço de Taiwan em Lisboa.
É cada vez mais difícil sermos surpreendidos por um restaurante. Ou porque as fórmulas estão gastas e repetidas até à exaustão, ou simplesmente porque existe tanta informação disponível nas redes sociais e outros meios digitais sobre tudo, que parece que conhecemos perfeitamente os sítios antes de lá entrarmos pela primeira vez. Por isso, quando ouvimos falar sobre a abertura de um restaurante que nos parece ser muito interessante, tentamos não procurar muito mais e ir lá o mais rapidamente possível, para não sermos condicionados de nenhuma forma. E foi isso que aconteceu com o recém-aberto Formosa, restaurante taiwanês, no Príncipe Real. Soubemos da existência, corremos até lá… e saímos bem impressionados!
O Formosa fica no local onde até há pouco tempo era o Rua, um restaurante de street food asiática assim a atirar para o pretensioso, e agora não podíamos estar num registo mais diferente. Continuamos na comida asiática, mas agora mais especificamente de Taiwan. Pelo que conhecemos, é o primeiro restaurante completamente dedicado à cozinha taiwanesa a abrir em Lisboa, e ainda bem, porque é uma gastronomia com influências chinesas, japonesas e coreanas… mas com nuances próprias. E a outra grande diferença está relacionada com o próprio posicionamento do Formosa: simples e direto. Não há aqui artifícios, empratamentos, pratos complicados. Há comida boa, uma ementa curta e focada, cuidado nos ingredientes, e uma simpatia que cada vez menos se encontra por Lisboa.
O Formosa não dá muito nas vistas para quem passa na rua, pelo menos no exterior. Porque basta chegar à porta do restaurante e olhar… para que os nossos olhos fiquem completamente presos na pintura que ocupa toda uma das laterais do corredor que é o Formosa. Da autoria de Sofia Zoko, serve quase de papel de parede e evoca vários referentes do imaginário que temos das terras da China, mas de forma tão elegante e cheia de pormenor que é impossível não passarmos grande parte da refeição à procura de novos detalhes.
No fundo do corredor do restaurante temos então a cozinha semi-aberta, por isso estamos a falar de um espaço relativamente pequeno. Ainda bem, dizemos nós, porque assim quem está na sala pode perder algum tempo a explicar as diferenças que a gastronomia de Taiwan tem em relação à chinesa. Explicar, acompanhar a refeição sem ser intrusivo, tudo aquilo que um serviço deve ser, além uma enorme vontade genuína de saber se estamos a gostar.
E se gostámos? Sim, a comida e outros pequenos pormenores, como os minúsculos gatos de louça de servem de base para os pauzinhos (infelizmente de metal…) ou o formato da sobremesa que pedimos – mas já lá vamos. Porque numa ementa curta, percebemos logo que vamos provar muita coisa. E começamos com o Frango Frito Taiwanês, que dá todo um novo sentido ao “simples” frango frito! Este está frito na perfeição, pedaços pequenos crocantes no exterior mas ainda húmidos por dentro. Mas, acima de tudo, o que nos faz olhar um para o outro e sorrir é o sabor dos temperos (ou ervas ou especiarias, chamem-lhe o que quiserem) que nos vão surpreendendo a cada dentada. Aqui destacam-se claramente a pimenta preta, um toque de manjericão e a canela – sim, canela! – o que dá a esta entrada quase um toque de sobremesa, o que é simplesmente fantástico!
Esta mistura de temperos acompanha-nos também nas Gyozas Fritas, que pedimos na versão recheada com carne de porco e aipo. Bem fritas, crocantes, douradinhas, bem recheadas, muito saborosas. Pode parecer algo mais simples, mas infelizmente estamos tão habituados a comer más gyozas que, quando nos aparecem uma boas à frente, ficamos mesmo felizes.
O serviço é rápido, mas a verdade é que também somos os primeiros clientes a chegar ao restaurante, por isso tivemos a completa atenção da cozinha. Ainda não tínhamos acabado a primeira TsingTao e já estavam a chegar à mesa os dois pratos principais que pedimos, sendo que só não experimentámos o ramen – Verão, calor, preconceitos. Mas um dos que pedimos foi aquilo que na ementa é indicado como Ramen Formosa. Servido frio e sem caldo, são no fundo noodles com carne, feitos no momento, misturados com molho sésamo, pimenta, cenoura e coentros. É interessante porque esperamos que os noodles estejam quentes, e efectivamente não é assim a receita tradicional: é um prato que se serve frito, porque Taiwan é uma ilha com temperaturas muito elevadas, o que faz com que tradicionalmente se procurem pratos frescos. E sim, este “ramen” é um prato fresco, um prato de Verão, que pode ser “aquecido” com molho picante a gosto. Um prato muito engraçado, cheio de sabor, que nos transporta para a Ásia.
Mas se o ramen frio já nos transportava para a Ásia, a Entremeada de Porco com Arroz então é uma coisa simplesmente deliciosa. Parece simples: base de arroz, entremeada e cogumelos cortados aos pedaços e cozinhados num molho de soja levemente adocicado, ovo ajitama e cebola crocante. Tudo para misturar, porque o molho da carne envolve o arroz e a cebola dá o factor crocante ao prato, e é esta mistura de sabores que nos mostra que mesmo as coisas mais simples se podem transformar em pratos deliciosos. É um prato que nos traz memórias de viagens e, acima de tudo, que nos aquece a alma. Sim, mas fabuloso!
O outro prato da carta é o Ramen de Vaca, este sim mais próximo daquilo a que estamos habituados. O caldo não é tão espesso como o da maioria dos ramen japoneses, é mais um caldinho de carne, ainda assim com bom sabor. Bons noodles, espessos, e fatias finas de carne de vaca, que falham por ser tão finas e acabar por se desfazer. É uma pena.
Entre pratos conversamos com uma das gerentes do espaço, que nos explica o conceito do restaurante, o que esteve na sua géneses e as dificuldades que tem em encontrar staff para ajudar na sala (um problema comum na restauração, e não só em Lisboa). E, acima de tudo, vai reforçando várias vezes que querem dar uma experiência genuína a quem entra pela porta do Formosa, uma experiência gastronómica que faça com que as pessoas percebam as diferenças entre a comida taiwanesa e a chinesa. E, acima de tudo, que regressem.
Terminamos este curto mas interessante almoço com o Pudim de Coco, servido no formato de um pequeno ratinho, um pormenor simplesmente amoroso! Mas mais do que a apresentação, a textura perfeita e o sabor excelente, sem ser exageradamente doce, com o equilíbrio ideal. Perfeito para terminar um almoço que foi das melhores surpresas que tivemos este ano.
O Formosa abriu há pouco mais de 2 meses, por isso ainda é mais ou menos um segredo bem guardado. Mas merece a atenção que está a começar a ter, sem dúvida. Não só por ser o primeiro restaurante completamente taiwanês em Lisboa, mas porque se quer manter fiel a essa genuinidade. E se a isso juntarmos um serviço simpático, preços muito convidativos e, em especial, comida muito boa, o Formosa corre o sério risco de se tornar um caso de sucesso em muito pouco tempo. Nós vamos voltar sempre que possamos, e agora ficámos com aquele “bichinho” para ir a Taiwan… e isso é o melhor efeito que a comida pode ter em nós.
Preço Médio: 16€ pessoa (com cerveja)
Informações & Contactos:
Rua de O Século, 149 A | 1200-434 Lisboa | 915 399 266
Nota: Não tem Multibanco, mas tem MB Way.