FAMA D’ALFAMA

A tradição já não é o que era.

Alfama… É impossível pensar neste bairro de Lisboa e não nos vir logo à cabeça a palavra “fado”. Alfama é quase como que a casa do fado em Lisboa, e basta andar pelas suas ruas estreitas à noite que ouvimos facilmente vozes a sair das portas de restaurantes ou mesmo casas particulares. Restaurantes quase sempre caros, ou demasiado caros, por causa do dito fado, e além de caros até chegam a ser pouco interessantes a nível da comida. Tourist traps, se quisermos.

Por isso, quando recebemos o convite para a inauguração do Fama D’Alfama, pensámos que ia ser mais do mesmo. Felizmente percebemos que o restaurante quer ser muito mais do que o tradicional restaurante da zona.

O Fama D’Alfama tem algo de tasca moderna, com decoração sóbria e mesas com madeiras e tampo tipo mármore. A luz é demasiado alta e branca, o que prejudica um bocado o ambiente mais “caseiro”, mas pronto. A sala é quase dividida em duas por meia parede, criando uma zona mais exposta perto da porta e outra mais escondida. Nessa segunda área, mesmo no fundo da sala, temos uma pequena plateia montada. Quando chegamos está a ser projectado na parede um filme com a Amália, mas pelo equipamento de som e guitarras percebemos que é ali que se canta o fado.

restaurante fama d'alfama

restaurante fama d'alfama

Rapidamente percebemos que não é só fado. Numa parede temos o programa cultural semanal do restaurante, com alguma diversidade: às quartas há stand-up comedy, às quintas canta-se o fado, sextas estão reservadas para mornas ou ritmos mais latinos e aos sábados temos blues. E está ainda em preparação uma noite especial por mês com uma sessão de cinema e um menu elaborado consoante o filme. Muita diversidade para fugir à “monotonia” dos outros restaurantes de Alfama. Resta ver se as pessoas aderem…

Na mesa, assim que nos sentamos, estão já um conjunto de petiscos com muito bom aspecto. Aliás, ao ver a carta percebemos que há uma enorme lista de petiscos e depois alguns pratos, sempre num registo completamente tradicional. Comida de conforto, digamos.

restaurante fama d'alfama

Pães vários, queijos, um excelente presunto de porco preto, tremoços e azeitonas. Saladas várias: grão com bacalhau, mexilhão e ainda feijão frade com sardinhas, esta última mais surpreendente que as anteriores. Acompanhamos com um cocktail de assinatura da casa chamado Alfavaco (parece um pisco sour), bem interessante.

restaurante fama d'alfama

Estamos tão entretidos a petiscar e a conversar que só damos pelo passar do tempo quando nos vêm levantar os pratos porque vão começar a servir os principais. E começamos pelo peixe, um prato que tem tudo de clássico: polvo à lagareiro. O bicho em si estava bastante tenro, ainda que lhe faltasse um bocado de tempero, assim como aos grelos que o acompanham. Bem regado de azeite, como se quer. Dispensável a cebola caramelizada e o limão, mas é mais efeito visual que outra coisa qualquer.

restaurante fama d'alfama

Má gestão de timings, porque assim que nos servem o polvo são apagadas a luz da sala, para começar o primeiro momento musical. E, como é tradição, enquanto se canta fado não se come nem faz barulho com talheres, o que significou que nem toda a gente comeu o polvo ainda quente.

Em relação ao fado em si, interessante. Bons músicos, uma das cantoras melhor que a outra. Não estamos num registo profissional, nem é isso que se pretende no Fama D’Alfama, onde se tenta que tudo seja mais familiar. Por isso, pela amostra que tivemos, o fado cumpre bem o seu objectivo.

restaurante fama de alfama

Voltando aos pratos e à questão do efeito visual, sai de cena o polvo e chegam à mesa as bochechas de porco estufadas… acompanhadas de batatas cortadas em formato de cogumelos! Foi a primeira vez que vi tal coisa, e não é fácil ser surpreendido. A carne está tenra, sem dúvida, mas o molho tem um bocado de sal a mais e acaba por se tornar demasiado forte. Curiosamente, o problema nos restaurantes costuma ser pouco sal e não o contrário.

restaurante fama de alfama

Para o fim, depois de mais um pequeno momento de fado (este já sem pratos na mesa), as sobremesas. O fondant de chocolate não tem o interior líquido e a escorrer como esperávamos, mas ganha muito com o gelado de menta que o acompanha. Por outro lado, temos o bolo de noz, bastante guloso, uma sobremesa mais tradicional.

restaurante fama de alfama

restaurante fama de alfama

Podemos dizer que em Alfama a tradição já não é o que era. Não só há cada vez mais restaurantes que não têm fado, como começam a surgir conceitos diferentes, com uma oferta cultural mais abrangente. Como é o caso deste Fama D’Alfama. Há aqui uma ideia definida: servir comida de conforto de forma despretensiosa, e receber toda a gente como se fossem de família. E depois apresentar uma oferta cultural diferente do habitual, para surpreender em relação à concorrência.

Só com o passar do tempo vai ser possível perceber se este conceito mais diferenciador funciona na zona onde está inserido. E se realmente este restaurante vai ter Fama em Alfama 😉

Preço Médio: 18€ pessoa (com vinho da casa)

Informações & Contactos:
Rua do Terreiro do Trigo, 80 | 1100-172 Lisboa | 21 886 2628

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