IZANAGI

Um japonês (que quer ser) diferente…

O problema de ir a qualquer restaurante japonês em Lisboa depois de ter voltado de uma viagem ao Japão é demasiado óbvio: dificilmente algum prato nos vai surpreender, ou pelo menos ser melhor do que o que comemos por lá. E se quando falamos de sushi de fusão isso não é um problema porque no Japão não se come sushi de fusão, o factor comparação torna-se mais acentuado quando falamos de outros pratos. E ainda pior quando falamos de pratos que aparecem pela primeira vez em Portugal.

Será o Izanagi só mais um japonês?…

Serve este enquadramento todo para justificar que já sabíamos que a expectativa em relação ao Izanagi ia ser enorme. Ir a um restaurante que apresenta uma ementa “japonesa” mais abrangente do que o simples sushi apenas 3 semanas depois de voltarmos de uma viagem ao Japão, era muito arriscado. Mas lemos várias vezes a ementa e pratos como o Okonomiyaki convenceram-nos à visita. Mesmo que depois não nos tenham convencido completamente quando provados… Mas já lá vamos.

A primeira dificuldade com a qual o Izanagi tem de “lutar” é a localização. Para estrangeiros, as Docas são uma zona bem gira, com o Tejo ali ao lado e todos aqueles barcos a criar cenário. Mas para os lisboetas, as Docas são sinónimo de miúdos em discotecas bimbas. É uma zona que, por mais que esteja a mudar a sua oferta principalmente a nível de restauração – e agora com a compra da Cappricciosa pelo Avillez, vai mudar de certeza – ainda continua sob um estigma difícil de contornar.

A fachada do Izanagi… como todas as outras do lado.

E a localização do Izanagi até pede mais uma visita à hora de almoço do que ao jantar, para aproveitar a luz do dia. Por isso mesmo, o restaurante tem um Menu de Almoço que inclui um prato (que varia todos os dias) bebida e café, a 12€. Pode ser uma boa solução para experimentar coisas diferentes.

Mas seguindo em frente. A verdade é que por fora o Izanagi não consegue fugir à arquitectura de todos os outros restaurantes desta correnteza. A mesma esplanada, o mesmo edifício, o mesmo tipo de iluminação… é assim que as coisas são. Felizmente, ao entrar no espaço, as coisa mudam bastante. O restaurante não é muito grande mas está bem seccionado, com as mesas bem separadas e vários recantos criados de propósito para jantares mais intimistas. A sala é dominada pela cozinha aberta, onde podemos ver os cozinheiros a trabalhar.

O espaço é dominado pela cozinha aberta, onde podemos ver a confecção de alguns pratos.

Serviço jovem e simpático, como se quer. Talvez não tão conhecedor dos pratos como devia ser, mas já lá vamos. A realidade é que olhamos para a ementa tendo já em conta que há algumas coisas que queremos de certeza. Por isso, perguntamos o tamanho das doses, e quando nos dizem que quase tudo é para partilhar, avançamos com vários pedidos de coisas diferentes. Para provar clássicos e outros que nos parecem mais diferenciadores.

Uma carta com algumas surpresas… mas menos do que esperávamos.

Há pratos que estão na carta porque têm de estar na carta, são daqueles que toda a gente gosta e pede. Como as Gyozas, aqui de frango com molho “spicy” (o que quer que isso queira dizer…). Ora, começando já por aqui, comemos gyozas fantásticas no Japão, tanto por causa do recheio como por causa da massa e ainda por causa do tempo que ficam na chapa. As do Izanagi são razoáveis, mas estão muito longe do que por lá se faz…

As gyozas…

A outra entrada que pedimos foi o Soft Shell, que pela descrição nos pareceu interessante: Tempura de Caranguejo com Salada e Maionese de La Yu. Ora, para quem não sabe, o la yu é uma espécie de óleo de chilli, usado em muito pratos japoneses e especialmente em alguns tipos de ramen. Esta maionese soube-nos a maionese, ponto. E como se isso não bastasse, a proporção de alface em relação ao resto dos ingredientes é demasiado alta, o que quer dizer que acabamos por comer os pedaços de tempura (bons) e o rabanete e deixar a alface toda na tigela.

… e o soft shell, com mais alface do que era esperado.

A nossa incursão ao sushi no Izanagi foi curta, e só porque queríamos ter uma noção da técnica dos cozinheiros. Até porque a ideia do restaurante é não ser apenas um japonês com sushi (e é uma ideia muito boa!), por isso fez todo o sentido não entrar muito nesse campo. O Izanagi Maki é um rolo com corvina marinada em D-ponzu, abacate braseado, sésamo e kabayaki (que fomos pesquisar o que era antes do prato chegar e lemos que é uma forma de prepara o peixe, especialmente as enguias… e não um ingrediente… estranho…). O rolo é bom, ainda que não seja cortado de forma uniforme, com algumas peças demasiado grandes e outras normais.

Izanaki Maki: rolo com corvina marinada em ponzu, abacate braseado e sésamo.

Os dois pratos seguintes mostraram-nos que o serviço precisa claramente de alguma afinação. Ou, como escrevemos em cima, de conhecimento daquilo que está na carta, o que ainda é mais grave. Porque perguntámos logo no início o tamanho das doses, para decidir a quantidade de pratos a pedir. E praticamente tudo – com excepção do Okonomyiaki – foi descrito como doses pequenas, para partilhar. Ora, nem o Robatayaki Ribeye nem o Teppanyaki Gyu são doses pequenas, para partilhar. São pratos completos, aliás, bastante bem servidos. 

Teppanyaki Gyu: carne grelhada na chapa, legumes, chips de alho e chips de batata doce.

E como se não bastasse a questão das doses, estamos a falar de dois pratos de carne, que mesmo não sendo iguais, são do mais semelhante que há na carta. Ou seja, esperávamos que quem nos atende nos alertasse para esse facto, e mesmo sugerisse alterar um dos dois, para provar coisas diferentes. Pode ser um grau de exigência demasiado alto, mas num restaurante que se assume como diferenciador, é importante que o staff seja mais… conhecedor.

Robatayaki Ribeye: ribeye grelhado, com chips de lotus e wasabi fresco.

De qualquer forma, temos aqui dois pratos muito bons! O teppanyaki com tanto a carne como os legumes bem passados na chapa, tudo no ponto certo e tudo muito saboroso. O ribeye também estava bom, sem dúvida, mas como o acompanhamento eram só as chips de lótus, não tinha tanto contrastes de sabor como o outro prato. Em ambos, outra coisa maravilhosa que aprendemos no Japão: o wasabi (especialmente o fresco) funciona na perfeição com carnes! E aqui no Izanagi aproveitam isso. Bem pensado!

Ora, a verdade é que já estávamos cheios e ainda nem tinha chegado aquilo que queríamos mesmo provar na carta do Izanagi: o célebre Okonomiyaki! Está descrito na carta como uma panqueca japonesa, mas quando a provámos no Japão (repetidas vezes, por sinal), nem foi isso que nos pareceu. Porque se é verdade que tem a forma de uma panqueca alta, também é verdade que a base é feita de noodles ou soba ou outra massa qualquer, misturada com inúmeros ingredientes,que depois levam por cima uma camada fina e uma massa de ovos – daí a ideia da panqueca. No Japão provámos vários estilos, com vários tipos de massa na base e muitos ingredientes diferentes… e a do Izanagi peca principalmente por um “pormenor” base: não tem massa. Nem noodles nem soba nem nada. Tem sim uma camada dessa massa tipo panqueca, mas misturada com queijo, o que a torna um pouco enjoativa. E os próprio ingredientes da versão Ebi Cheese (legumes, camarão, queijo, bacon, tonkastu, ao nori e um topping de flakes de bonito completamente desnecessários) são pouco contrastantes. No Japão são usadas muito mais verduras, o que cria texturas e sabores diferentes neste prato.

Okonomiyaki, a tal espécie de panqueca japonesa.

Mas lá está, sabíamos que isto podia acontecer… Porque não temos cá o mesmo tipo de produtos nem apurámos receitas há décadas. O Izanagi tem todo o crédito por trazer para Lisboa um prato que ainda ninguém tinha trazido! Nós é que tivemos o azar de provar o original há muito pouco tempo…

Mas pronto, vamos continuar. Para sobremesas pedimos recomendações ao staff. E, mesmo sendo recomendações prontas, as duas sobremesas que provámos tinham muito pouco (ou quase nada, é uma questão de semântica) de japonês.

Miso Cheesecake e Freaky Asian Banana.

O Miso Cheesecake promete pelo nome, mas só isso.  É um cheesecake normal coberto por um caramelo de miso que sabe só a caramelo, com maçã verde cozinhada em Favaios e ainda noz. É uma boa sobremesa, mas pouco japonesa. E a outra taça enorme que vêm na fotografia é o Freaky Asian Banana, a primeira sobremesa a ser recomendada: tempura de banana (pessoalmente, pareceu-me a banana frita dos restaurantes chineses), gelado de baunilha, caramelo de miso (com o mesmo problema), chantilly e M&Ms. Ou seja, é mais uma interpretação de um banana split do que propriamente uma sobremesa japonesa. E dá perfeitamente para duas pessoas, pelo que novamente deviam ter-nos avisado disso, para não ir metade para trás. Ainda assim, numa nova visita experimentamos as outras sobremesas da carta, onde algumas são mais próximas do que vimos pelo Japão.

No final de contas, o Izanagi não é assim tão diferente de alguns outros restaurantes japoneses que existem em Lisboa. É muito diferente da maioria, mas há um grupo pequeno de restaurantes que nos têm vindo a trazer pratos ou métodos de confecção japoneses mais desconhecidos. O teppanyaki ou a robata já não são novidade (vejam os casos do Yakuza First Floor ou do Soão – Taberna Asiática, por exemplo), e a generalidade dos outros pratos são mais ou menos nossos conhecidos. O okonomiyaki é uma novidade, é verdade (independentemente se é igual ao original ou não), mas isso por si só não justifica a assinatura ou o posicionamento do restaurante. Era preciso mais.

izanagi restaurante japonês
“Cut the Obvious”? Ainda não… mas para lá caminha! 😉

Mas também sabemos que o Izanagi tem apenas três meses, e que o seu posicionamento tem de ser construído, por isso não vamos “desesperar” já! 🙂 A ideia de trazer para Portugal uma gastronomia japonesa mais abrangente é muito interessante, por isso o Izanagi tem um potencial enorme!

Preço Médio: 28€ pessoa (com vinho)
Informações & Contactos:

Doca de Santo Amaro | 1350-353 Lisboa | 910 851 920

4 comentários em “IZANAGI”

  1. Tenho visto as vossas críticas a restaurantes. Sejam boas ou más são sempre construtivas e eu acho que isso é a regra número um. Eu amo cozinhar, aliás, é isso que quero fazer da vida, eu também como fora e escrevo criticas, mas não publico com o intuito de melhorar-me, tanto como cozinheiro, como apreciador de comida. Eu não leio as vossas críticas com o objetivo de escolher onde vou comer amanhã, eu leio porque aprendo muito com elas e começo a construir as minhas críticas baseada na forma como vocês constroem as vossas. Muitos parabéns e não parem!

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  2. Isto é do mais biased que pode haver. Claro que nada se faz cá se vai comparar com o de lá. A comparação constante torna este texto ímpossivel de engolir. Talvez seja melhor não irem mais a restaurantes japoneses com o intuito de escreverem reviews se e para serem extremamente biased como estes.

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