KARATER

Da Georgia, com sabor!

O título resume o essencial do nosso almoço no Karater: um restaurante georgiano em Lisboa, com comida cheia de sabor. Mas ainda faltam aqui algumas coisas, nomeadamente o espaço ser muito pitoresco e o serviço ser acima da média para a localização do restaurante. No fundo, é aquele tipo de sítios que cumpre todos os requisitos, percebem? E por isso é que foi uma surpresa tão grande, já que não tínhamos expectativas nenhumas.

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Já seguíamos o Karater no Instagram e já nos tínhamos cruzado com alguns reels de “criadores de conteúdos” lá no restaurante. Daqueles “criadores de conteúdos” para quem todos os restaurantes são excelentes e é tudo sempre fantástico, sabem? Por isso, tínhamos curiosidade QB… até porque a nossa outra experiência num georgiano foi no TreeStory e foi bastante má, não só pelo serviço mas também pela comida sem grande sabor. Mesmo sendo restaurantes completamente diferentes, isso ficou-nos na memória. Por isso, quando um grupo de amigos nos diz que o almoço vai ser no Karater, não ficamos assim completamente entusiasmados. Mas pronto…

A verdade é que começamos a mudar de opinião assim que entramos no restaurante. Em primeiro lugar, o espaço é lindíssimo! Começou por ser uma leitaria e depois uma tasca, por isso ainda temos armários com garrafas nas paredes, o mobiliário vintage, os tectos ornamentados… enfim, sente-se aqui uma história que, mesmo não sendo georgiana, se encaixa bem no conceito de pequeno bistrot que o Karater quer ser.

Outra palavra para o serviço, que é muito bom. Simpatia, capacidade de encaixe (levamos o carrinho de bebé e prontamente nos ajudam a colocá-lo no melhor local, por exemplo), conhecimento da gastronomia georgiana que aqui é servida, sem imposições dos pratos mais caros. Malta jovem, com pinta, que aqui parece mesmo vestir a camisola. Muito bom!

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Uma coisa que nos explicam é que o Karater não quer ser um restaurante georgiano tradicional, mas sim algo mais contemporâneo, com alguma fusão com a comida internacional e também portuguesa. Ora, da comida georgiana, sabemos relativamente pouco, até porque não é daquele tipo de gastronomia que é tipicamente exportada para outros países. O prato mais emblemático parece-nos ser o Adjaruli Khachapuri, originário da região de Adjara, que é um pão com forma de um barco com centro recheado de uma mistura de queijos, manteiga e ovo cru, tudo misturado. Não achámos maravilhoso quando provámos no TreeStory, aqui voltamos a provar e a não ficar fãs. Nada de errado, a não ser o nosso gosto, que não vai para esses lados. E provamos também outro pão, o Imeruli khachapuri, um pão redondo e achatado, recheado com uma mistura de Sulguni e Imeruli (dois queijos georgianos), que é próximo de uma pizza. Foram os pratos menos interessantes do almoço, mas como o grupo era grande e a lógica era a partilha, tínhamos de provar.

Por falar em pão, voltemos ao início do almoço, e à espécie de couvert que é o Tonis Puri : pão georgiano (fantástico!), manteiga de Tusheti (uma zona da Geórgia) temperada com ervas dos Alpes, paté de fígado com ameixa seca. O pão é viciante, e com a manteiga não há como não ficar ainda melhor.

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Pedimos vários pratos das diferentes zonas do menu, para provar o máximo possível, até porque há muitas descrições que nos chamam a atenção (mais do que os nomes dos pratos, que têm demasiadas consoantes). Por exemplo, temos por um lado a Beringela ao Molho Satsivi, que é beringela com uma emulsão de nozes, e ainda a Beringela Crocante, chips de beringela com sal de Svaneti, mel de castanha, romã e vinagre, um daqueles petiscos que apetece que nunca acabe.

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Provamos duas saladas, e aqui temos mixed fellings: por um lado, a Salada Georgiana com Nozes, que tem tomate coração de boi, pepino, cebola, ervas aromáticas e nozes tipo crumble por cima, parece-nos demasiado normal, já que as nozes são mesmo só um crumble, e o resto é uma salada sem grande inovação; por outro lado, a Salada de Beringela, com beringela crocante com fermentado de iogurte, tomate e vinagrete de mel de castanhas, é já bastante mais interessante e composta, com mais sabores e texturas, mais vibrante, se quiserem.

A ordem de chegada dos pratos não foi exactamente esta, mas dá mais jeito escrever sobre temas comuns. E na primeira análise da ementa do Karater, saltaram logo à vista duas especialidades que queríamos mesmo provar: os Croquetes Georgianos e os Khinkali, que são os Dumplings Georgianos. A curiosidade tinha especialmente a ver com as diferenças para os croquetes e os dumplings “normais”… e percebemos que há algumas.

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Especialmente nos croquetes, com uma textura mais próxima das croquetas espanholas. Provamos o Croquete de Frango Shkmeruli, com frango confitado em alho, num molho de natas frescas, flocos de malagueta e salsa, e aqui é o molho que dá sabor ao croquete, que por si só é normalíssimo.

Dos Khinkali, provamos os Mini Khinkali de Vaca DOP, dumplings recheados com carne de vaca, onde também o o molho que faz toda a diferença, porque os dumplings em si não nos parecem nada diferentes de todos os outros que se fazem noutros países.

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Deixamos para o final os melhores pratos, ainda que quase tudo o que provámos tenha surpreendido a nível de sabor. O Odjakhuri de Porco é uma carne de porco frita à georgiana com cogumelos e batatas, que até parece um pouco a nossa carne de porco à portuguesa. Ainda que não tenha nada a ver, é a percepção visual que nos leva a isso, e depois o sabor: a carne de porco frita, tenra, aromática, com a batata frita também, e depois os cogumelos a dar uma textura extra. Enfim, um grande prato.

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Terminamos com dois estufados, algo que percebemos também ser muito típico da cozinha georgiana. Primeiro, o Chakapuli de Borrego, o ensopado georgiano teoricamente mais conhecido. Borrego cozinhado lentamente em vinho branco de ânfora, estragão verde e ervas aromáticas. Um molho incrível a nível de sabor e uma carne super tenra, uma maravilha. Por outro lado temos o Adjapsandali, um estufado de legumes, com creme de nata fermentado em cima, saboroso também. Aqui voltamos a pedir mais pão, e mais pão, porque os molhos são mesmo bons e – acho que já dissemos antes – o pão é fabuloso!

Foi um almoço longo, com muita coisa para provar, e ninguém na mesa estava muito virado para as sobremesas. Mas aqui entra novamente o serviço, que faz força para que provemos o Churchkhela, uma espécie de doce típico da Geórgia. Uma oferta da casa, e uma simpatia que faz toda a diferença. Ora, os georgianos costumam fazer Churchkhela no outono, quando os ingredientes principais, uvas e nozes, são colhidos. Este doce é tipo um cordão de metades de nozes mergulhadas em sumo de uva (chamado Tatara) que é engrossado com farinha e seco ao sol. Não leva nenhum tipo de açúcar mas fica uma massa doce e ácida ao mesmo tempo. Fez-nos lembrar figos, quando se comem com amêndoas. Muito interessante.

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E mesmo no final, pedimos café e, claro, pergunto se há algum digestivo típico. Os georgianos fazem Schnapps, que é uma espécie de aguardente, e aqui no Karater fazem uma infusão com ginja, para tentar remeter para a nossa ginjinha… mas esqueçam, não tem sequer comparação, é uma aguardente ligeiramente aromatizada. Boa aguardente, pelo menos para mim, mas percebo que as restantes pessoas na mesa não tenham ficado fãs.

Não é preciso dizer muito mais, pois não? Ainda que possamos ainda dizer que provámos vinhos georgianos interessantes e a preços acessíveis, assim como que, no registo dos preços, o almoço não tenha ficado muito caro, foi justo para o que comemos. E isto num espaço que está cada vez mais na moda, está no meio do Bairro Alto, e quer ser um dos spots boémios de Lisboa. Nada mau.

Ou seja, o Karater tem um potencial enorme para se tornar um daqueles restaurantes de comida internacional emblemáticos de Lisboa. É o espaço, é o ambiente criado pelas pessoas e pelo staff, é a simpatia, é a carta variada e a qualidade da comida. No fundo, é tudo. Para nós foi uma excelente surpresa, e fez-nos olhar para a comida georgiana de outra forma. Com muito sabor!

Preço Médio: 32€ pessoa (com vinho)
Informações & Contactos:

Rua do Diário de Notícias, 65 | 1200-365 Lisboa | 910 208 418

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