Um italiano tão perfeito que devia continuar a ser segredo!
Quem nos conhece sabe que adoramos encontrar restaurantes novos. Especialmente sítios que nem sabíamos que existiam… e onde somos bem recebidos. Sítios descomprometidos, onde há simpatia daquela genuína, onde nos sentimos em casa. Sítios que ainda não estão cheios de gente, onde o atendimento pode ser personalizado. Sítios onde a comida ainda é feita com alma, seja de que estilo for, e onde sentimos estar numa refeição de família. São os meus restaurantes preferidos e cada vez mais difíceis de encontrar. Mas felizmente, ainda vão aparecendo!
O La Bottega Di Gio foi um desses exemplos, quando o conhecemos em 2018, e foi logo amor à primeira vista!
Teoricamente, este pequeno restaurante italiano em Campo de Ourique já tinha muita coisa a seu favor. Por ser italiano, porque o espaço anteriormente estava sobre a alçada dos donos do Il Matriciano (um dos melhores italianos de Lisboa), e ainda porque quem agora ocupa o espaço é o simpático casal que até há um ano atrás era responsável pelo fantástico L’Artusi Ristorante (que era também dos italianos mais interessantes da cidade, entretanto fechado). Muita coisa boa junta podia criar expectativas demasiado altas, mas aqui foram todas superadas!
A enorme montra deixa ver um restaurante pequeno que parece ter pouco de italiano típico, e ainda bem. Aqui não há tentação da utilização da toalhas com padrões vermelhos e branco nem decorações demasiado típicas. Além de alguns quadros nas paredes, tudo o resto é tudo muito simples e quase minimalista, e afasta-nos da ideia de um restaurante italiano… pelo menos até ouvirmos pela primeira vez a voz da Bárbara.
Ou seja, a simplicidade e genuinidade do La Bottega Di Gio não ficam apenas pelo espaço, transparecem também na comida (já lá vamos) e no serviço. Porque se é verdade que o Giovanni fica na cozinha e nos conquista pelo estômago, a Bárbara enche a sala com a sua boa disposição e simpatia! Com um sorriso sempre presente, somos recebidos como se fizéssemos parte da família. Falam-nos dos pratos do dia, que vão mudando consoante aquilo que vem do mercado, dos best-sellers que temos mesmo de provar (já lá vamos, já disse!). E a forma como nos são apresentados é tão apetitosa que queremos provar tudo!
Por isso, vamos lá falar sobre a comida. Que, como toda a comida italiana (ou toda a comida em geral), quer-se simples mas feita com alma! Sem grandes invenções, só ingredientes bons, cozinhados como deve ser e apresentados sem grandes preocupações. Porque estamos numa mesa de amigos! E qualquer mesa de amigos começa com algumas coisas para petiscar, como por exemplo uma Tábua de Enchidos, que aqui tem apenas três variedades mas não precisa de ter mais, porque é tudo excelente!
Ao mesmo tempo, uma daquelas entradas italianas que aprendemos a adorar e que – infelizmente – não se vê tanto como devia nos restaurantes italianos que existem aos molhos em Lisboa. O Vitello Tonnato é uma pasta que mistura de vitela (geralmente língua) com uma pasta de atum, resultando num sabor forte, intenso, salgado, ideal para barrar o pão ou para comer à colher, sei lá… ideal para comer e ponto final! Junto com o Vitello Tonnato, um Carpaccio di Pulpo (polvo) que é delicioso, com um pesto fantástico a acompanhar.
Somos várias pessoas na mesa, por isso as entradas vão-se sucedendo. A seguir temos uma Salada Caprese com Mozarella Bufala, mais um daqueles clássicos italianos tantas vezes esquecidos, mas que se transformam em algo fenomenal quando a matéria-prima é boa! E se a salada é do caraças, então a entrada que chega à mesa ao mesmo tempo é assim para lá de extraordinária! À primeira vista parece-nos um carpaccio normal… só que não! A Bresaola com Rucula e Parmigiano é exactamente aquilo que diz ser: bresaola (uma sarne seca e salgada, cortada em fatias finas, deliciosa) coberta com rúcula e queijo parmigiano, uma combinação simples e perfeita.
Por maior que seja a companhia à mesa, este tipo de entradas deixam-nos já muito satisfeitos. Mas sabemos que aqui não podemos deixar de comer as pastas, que são sempre uma maravilha, nem a Lasagna, que é a melhor que já provámos! Por isso, quando os pratos começam a chegar à mesa, resistimos fortes e seguimos em frente. Com uma opção vegetariana, por exemplo, a Delizie al Carpaccio di Tartufo Nero, que são uns raviolis fantásticos e viciantes. Ou o Paccheri al Ragù di Polpo, a melhor pasta da noite, servida mesmo al dente, com uma espécie de bolonhesa de polvo cheia de sabor e intensidade.
Mas na nossa cabeça estava o prato que mais gostámos desde a nossa primeira visita: a Lasagna do Giovanni. Ainda que a lasanha seja daqueles pratos italianos que sempre achámos não ter grande “ciência”. Ora, estávamos completamente enganados! A Lasagna do La Bottega Di Gio é assim de muito longe a melhor lasanha que já comemos na vida! A textura da massa é fabulosa, a proporção de todos os ingredientes do recheio é perfeita, a carne está no ponto. O topo tem aquela pequena crosta de forno, não tem queijo a mais, enfim, nada a ver com nenhuma lasanha que já tenhamos comido antes. Uma maravilha!
Ficamos por aqui? Não, claro que não… porque tudo o que nos é descrito na carta dá vontade de provar! Nesta última visita ainda faltavam dois pratos na mesa, inesperados e surpreendentes: o Gnochchetti Baccalà com Pesto e Pinoli é uma versão perfeita de um bacalhau à Gomes de Sá, com o mesmo tipo de sabores mas sem ter nada a ver; e para estômagos mais fortes, o Rognone Trifolato, ou seja, rins, com um molho intenso e espesso, tipo as nossas iscas, servidos com uma batatinhas assadas fabulosas.
Cheios? Sim. Maravilhados? Sim!!! Mas nenhum refeição termina sem uma sobremesa… ou mais do que uma. Novamente, coisas simples. Por um lado o Tiramisù, simples, delicioso, com as camadas bem definidas, aquele intenso sabor a café, sem que nada se sobreponha a isso. Por outro, a Panna Cotta do Gio, textura perfeita, sabor imaculado. Não há aqui invenções, são receitas simples e clássicas, porque estamos numa casa de família.
É impossível sair do La Bottega Di Gio sem um copo de Grappa e mais uma troca de piropos com a Bárbara, e por isso mesmo com um enorme sorriso na cara. E isto acontece quando nos sentimos bem, quando temos uma refeição fenomenal. E quando descobrimos um restaurante que merece ser descoberto… mas que ao mesmo tempo merecia ser um segredo só nosso. Um daqueles segredos que só partilhamos com aquelas pessoas de quem mais gostamos.
Nas ruas competitivas de Campo de Ourique, o La Bottega Di Gio tem concorrentes de peso e com muita história. Mas honestamente, não nos pareceu que o Giovanni e a Bárbara estejam assim tão preocupados… Este pequeno espaço permite-lhes fazer aquilo que mais gostam, que é servir comida maravilhosa a quem a quer provar, como se estivessem a abrir as portas de sua casa. E se isto é algo que deve acontecer em todo o tipo de restaurantes, num restaurante italiano faz ainda mais sentido.
Por isso é que é inevitável que o La Bottega Di Gio seja um daqueles restaurantes que nos surpreendeu tanto que entrou imediatamente para os lugares cimeiros do nosso top de italianos em Lisboa! 🙂
Preço Médio: 30€ pessoa (com vinho)
Informações & Contactos:
Rua Tomás da Anunciação, 9 B | 1350-321 Lisboa | 934 632 139
Mais um conselho registado, concretizado hoje. Efetivamente fantástico. Já deixei reserva para a próxima visita. Muito obrigada sempre aos vossos comentários.
Que bom! Eu gostava muito do Artusi (não ia lá mais porque era demasiado caro para o meu bolso), agora tenho de experimentar este.