Um restaurante indiano de eleição… e a curiosa história de um forno tandoori.
É sempre complicado falar sobre restaurantes temáticos de uma ou outra gastronomia, especialmente porque temos sempre pontos de comparação, que são os nossos favoritos. E podem sê-lo porque foi onde comemos melhor, onde o ambiente foi mais especial ou simplesmente porque fazem parte de memórias, de momentos que lá foram partilhados. Têm “contexto”, se quiserem.
Isso acontece-nos em alguns restaurantes, mas em nenhum indiano. E não há nenhuma razão especial para isso, porque até gostamos muito de comida indiana. Mas a verdade é que nunca pensamos num indiano para uma ocasião especial, é sempre numa óptica de proximidade ou porque apetecem as melhores chamuças, o melhor naan ou algum prato em especial.
Mas podemos estar prestes a mudar de opinião… e tudo por causa do Oven, restaurante indiano (e afins) que abriu durante a pandemia ali na zona da Baixa. Um restaurante que é, no mínimo, diferente da grande maioria dos outros indianos em Lisboa. E é diferente em tudo!
Em primeiro lugar, no ambiente, que é muito mais sofisticado do que o normal – ainda que com pormenores étnicos muito bem pensados – com excelente iluminação e decoração minimalista mas assertiva; depois, no serviço, que é muito mais explicativo do que seria de esperar, e por isso conduz-nos pelos diferentes pratos da lista e nos momentos certos está lá para nos ajudar a decidir; e, finalmente, como não podia deixar de ser… pela comida, que conjuga pratos conhecidos com outros completamente novos, sempre com um cuidado extremo na apresentação e nos sabores.
Basta um primeiro olhar para a ementa e percebemos que queremos provar muito mais do que aquilo que conseguimos efectivamente comer. Há clássicos que não podem faltar, mas depois há outros pratos mais criativos e diferenciadores que soam mesmo bem à leitura. Começamos pelo princípio, pelo menos para nós ocidentais, que pedimos o Naan como entrada, quando se deve pedir para acompanhar os pratos. O Garlic Cheese Naan do Oven é bom, bastante bom, sem dúvida… e melhor do que as Chicken Samosas (chamuças), que ainda que tenha uma massa mais estaladiça e muito diferente daquilo a que estamos habituados, pecam pelo recheio ser demasiado seco e compacto.
Felizmente chega à mesa ao mesmo tempo o primeiro prato que vemos claramente ser cozinhado no forno tandoori à vista da sala: o Chicken Safari são pedaços de frango marinados com iogurte, hortelã fresca e ervas nepalesas diversas, e depois grelhado no tal forno. O resultado é um frango grelhado mas com um sabor fresco e intenso, que nos transporta realmente para uma Índia que ainda não conhecemos mas que estamos em ganas para visitar.
É neste momento do review que fazemos uma pequena pausa, como fizemos no próprio jantar no Oven, para vos contar a curiosa e aventurosa história do forno tandoori que está na divisão entre a cozinha e a sala, à vista de todos os clientes, e onde são cozinhados parte dos pratos que nos são servidos – outra coisa que nunca tínhamos visto em mais nenhum indiano, o forno à vista de toda a gente, que acaba por funcionar como o forno de pizzas nos italianos, não só cozinha como cria a sugestão a quem está na sala. Ora, este forno veio diretamente da Índia, onde foi comprado pelo Chef e dono do restaurante… apenas para ficar preso na alfândega em Inglaterra e depois voltar para a Índia. Mas já estava comprado e pago, por isso voltaram a tentar trazê-lo, desta vez de forma menos direta, levando este forno tandoori a fazer uma viagem de 5 meses pela Europa até, finalmente, chegar a Lisboa. Ufa!
Terminado este pequeno interlúdio, voltamos ao jantar, e os pratos vão chegando à mesa sempre com explicações simples e diretas, mas que nos final da refeição são complementadas por uma conversa mais profunda com o Chef Hari Chapagain, nepalês de origem.
A última entrada que pedimos é algo de que nunca tínhamos ouvido falar… porque as surpresas são sempre o mais interessante nos restaurantes! O Momo é uma espécie de dumpling, tradicional do Nepal, recheado com frango laminado e todas as especiarias e mais alguma. Um prato que parece pertencer mais a um restaurante chinês, mas no qual o sabor não tem nada a ver com esses dumplings chineses, muito por causa das especiarias. E ainda é servido com um molho à base de tomate que acrescenta acidez ao recheio fresco e aromático. Fantástico!
A nossa ideia foi mesmo pedir várias entradas diferentes, para depois partilhar apenas um prato principal (e assim provar mais coisas). O escolhido foi o Special Goat Curry, que é descrito como “cabra cozinhada lentamente em lume brando, acompanhada com molho de caril nepalês caseiro”… mas que podia ser descrito com um caril do car@*#o!!! Não só o caril é brutal, com a carne é tenra e muito saborosa, e ainda temos a surpresa de ter pequenos pedaços de tutano lá pelo meio, a dar ainda mais sabor ao conjunto! Um dos melhores pratos indianos que já comemos!
E depois disto tudo… sabíamos que as sobremesas não iam estar ao mesmo nível. Não porque não fossem boas, mas porque o Chef Hari já nos tinha explicado antes que a carta de sobremesas estava ainda a ser trabalhada, para incluir sabores mais próximos daqueles que se comem na Índia e no Nepal, mas também com elementos ocidentais, técnicas apuradas e sempre uma apresentação fantástica, como aconteceu em todos os pratos que nos chegaram à mesa. Ainda assim, o Kulfi de Pistachio (um gelado indiano tradicional) que pedimos é muito bom, muito saboroso, servido com um molho de frutos vermelhos que devia ser mais porque funciona muito bem com o pistachio.
Uma sobremesa clássica mas que é muito boa e continua a seguir a linha orientadora dos pratos do Oven: destaque claro ao sabor, sem descuidar a apresentação, tentando sempre surpreender.
Como escrevemos em cima, o Oven é um indiano diferente da grande maioria dos indianos de Lisboa. E não o é só por causa de ser mais sofisticado e pelo toque de requinte, nem pelo tal forno tandoori muito viajado. A principal razão é mesmo a qualidade da comida, que surpreende em quase todos os pratos. Uma comida que nos apresenta pratos diferentes, mais elaborados, mas sempre com os sabores característicos da gastronomia desta zona do Mundo.
O Oven está mesmo no início, mas o que já aqui acontece e as ideias que o Chef Hari tem mostram claramente que este se vai tornar “O” indiano de referência em Lisboa!
Preço Médio: 28€ pessoa (com cervejas)
Informações & Contactos:
Rua dos Fanqueiros, 232 | 1100-232 Lisboa | 21 827 3826