Petiscos e Tapas… para turistas.
Lisboa é cada vez mais um destino turístico. Turistas de todo o lado vêm até cá à procura de cultura, história, diversão, bom tempo e, claro, boa comida. Essa é uma das razões para a cidade estar sempre cheia de turistas, assim como uma das principais razões para a oferta a nível de restauração ser cada vez mais abrangente. Há restaurantes de todo o tipo e para todas as carteiras, sendo que em determinadas zonas da cidade estão sempre cheios. Esta é uma tendência que está a ser bem explorada por muitas cadeias e mesmo por alguns chefs. Porque também somos cada vez mais uma cidade (país) de Chefs de cozinha, mediáticos, com mais do que um restaurante na cidade. Estes Chefs vão criando novos conceitos, deixando a sua assinatura em vários espaços, espalhando a sua “marca”.
O Chef Henrique Sá Pessoa é um desses. Um dos primeiros Chefs mediáticos nacionais (desta nova geração), tem neste momento 1 Estrela Michelin e já 4 espaços em Lisboa, todos com conceitos distintos. O Tapisco, aberto antes do Verão no Príncipe Real, é o mais recente espaço com a assinatura Sá Pessoa. Um restaurante que mistura petiscos (e pratos) portugueses com as tapas (e alguns pratos) espanholas. Percebem? Tapa + Petisco = Tapisco. Giro, não é?
Ora, o Tapisco é resultado de mais uma parceria com Grupo Multifood… que está a começar a criar um “pequeno império” na restauração lisboeta. Depois da marca Vitaminas, o Honorato, o DeliDelux, o Sala de Corte (sobre o qual já escrevemos aqui) e ainda o novo projecto do Chef Diogo Noronha (para abrir em Setembro), o grupo Multifood tem uma relação sólida com o Chef Henrique Sá Pessoa, depois da parceria feita no Cais da Pedra (também já escrevemos sobre a nossa experiência) e no Alma. E por isso nem é de estranhar que o Tapisco seja a continuação dessa parceria.
E também por causa disso, percebe-se que no Tapisco tudo está bem pensado e estruturado. O espaço em si, mesmo sendo apenas um corredor, está bem estudado, com mesas de um lado e enorme balcão do outro. No fundo do corredor, um empregado vai cortando presunto à frente dos clientes. Boa iluminação, bom mobiliário, tudo muito modernaço. O serviço segue a mesma linha, gente jovem e bonita, com fardas próprias, fluentes em línguas. Tudo foi pensado ao pormenor para assegurar uma boa experiência… principalmente aos turistas.
Sim, porque a sensação com que ficámos depois de sair do Tapisco é que se trata de um sítio porreiro para petiscar com estilo, mas principalmente para turistas. Em primeiro lugar, porque enquanto estivemos no restaurante (cheio) apenas vimos outra mesa ocupada com um casal português – e toda a gente que ia entrando era igualmente estrangeira. E depois, sendo muito honestos, encontramos muitos dos petiscos disponíveis no Tapisco em muitas outras tascas em Lisboa, a preços muito mais “apetecíveis”.
É a nossa opinião e até pode ser o posicionamento do restaurante, o que nem tem nada de mal. Numa zona como o Príncipe Real, se calhar isso até é o que faz mais sentido… A carta tem alguns pratos portugueses clássicos e muitas tapas espanholas, que possivelmente é aquilo que os clientes nacionais mais vão pedir. Há ainda vermutes e cocktails, o que é sempre uma boa ideia.
Resolvemos pedir alguns pratos, mas lá está, como somos “tugas”, tudo o que pedimos foi mais da vertente mais espanhola da ementa. Ao nosso lado vimos passar vários ovos mexidos com espargos, “bacalhaus” à lagareiro e açordas de gambas, mas honestamente não nos pareceu que a dose fosse ajustada ao preço… nem que tivessem um aspecto tão diferenciador daquilo que conhecemos de outros restaurantes mais tradicionais. Por isso quisemos experimentar coisas diferentes.
Para começar, a La Bomba de Lisboa, inspirada na “bomba” catalã, que é uma bola de puré de batata com um recheio de carne e alheira. Podia chamar-se também “bomba calórica”, mas a verdade é que sabe muito bem! O recheio é guloso e ligeiramente picante, mas sem exagerar. Não é um prato surpreendente, mas come-se com gosto.
A Esqueixada de Bacalao é sem sombra de dúvida o melhor prato da noite. O bacalhau cortado em lascas muito finas, quase carpaccio, sobre uma mistura de tomate e pimento deliciosa, tudo bem regado com azeite mas não ensopado. Um prato extremamente fresco e saboroso, que promete fazer as delícias tanto de portugueses como de turistas.
Os pratos vão aparecendo na mesa de forma aleatória, mas é o normal no registo dos petiscos/tapas. Das opções de ovos, pedimos os Huevos Rotos con Morcilla Ibérica: boa, a morcela, mas é realmente a única coisa do prato que sai do registo da completa normalidade. Os ovos estão bem estrelados e as batatas bem fritas, mas não há nada de especial que faça com que o conjunto todo seja mais do que normal. Mas caro…
Surpreendente é a Paella Negra con Sépia e Alioli. Surpreendente por causa do tamanho da dose (então quando comparada com os outros tachinhos que íamos vendo ser servidos nas outras mesas… não tem mesmo nada a ver) e, principalmente, pelo sabor. O intenso sabor a choco envolve todo o arroz, cozinhado na perfeição, e o alioli a dar-lhe um toque de acidez que traz os contrastes necessários ao prato. Não sei se é exactamente como a fazem em Espanha, mas é uma paella bastante boa!
A dose da paella realmente “rebentou-nos as costuras”, mas já estávamos de olho na sobremesa desde o início, por isso não podíamos vacilar agora. A Mousse de Turrón de Alicante é uma boa sobremesa, com boa textura e sabor, gulosa e decadente… mas, novamente, falta um bocadinho para ser mesmo surpreendente.
Ora, numa fase em que os Chefs mais mediáticos são cada vez menos “cozinheiros” e passaram a ser “homens de negócios”, é normal que modelos de restaurante como este Tapisco continuem a aparecer. Temos a “marca” Sá Pessoa a dar credibilidade ao espaço, mas não é efectivamente o restaurante onde está o Chef – está antes toda uma equipa competente que o representa. Como acontece com outros Chefs em Lisboa (e não só). Pessoalmente, não sou adepto do modelo, mas reconheço que essa é uma tendência em crescimento.
O Tapisco, para nós, ficou um bocadinho abaixo das expectativas. Primeiro, porque realmente não vemos no espaço ou na carta a “assinatura” Sá Pessoa. Depois, porque estávamos à espera de ser surpreendidos com a comida… e isso só aconteceu com um prato. E, finalmente, porque, especialmente no que respeita às opções mais portuguesas da carta, há realmente muitos outros restaurantes em Lisboa a oferecer mais, melhor e mais barato. Se, por outro lado, olharmos para as opções vindas do país de “nuestros hermanos”, aí já há maior variedade.
Preço Médio: 22€ pessoa (com 3 petiscos e cerveja… mas aumenta substancialmente se pedirem “tachinhos”)
Informações & Contactos:
Rua D. Pedro V, 81 | 1250-093 Lisboa | 213 420 681
[codepeople-post-map]