A PALHOTA

Tascas há muitas…

Quem nos segue regularmente sabe que estamos envolvidos numa espécie de “movimento” de incentivo às tascas portuguesas. O #adorotascas começou como uma brincadeira de amigos que partilham o amor por uma boa refeição, até rapidamente se tornar quase um manifesto de apoio às tascas, esse património que tende a ir desaparecendo um pouco por todo o país. Por isso mesmo, ainda que não seja no âmbito desse grupo, fico sempre com um brilhozinho nos olhos quando percebo que vou parar a uma tasca, mesmo sem saber. Como aconteceu num almoço de família, há pouco tempo, quando conheci A Palhota.

Que é uma tasca daquelas… normais. Daquelas que há imensas espalhadas pelo país, e que são o pouso preferido da malta do bairro, para comer comida tradicional a preços muito baratos. Paredes cobertas a azulejos, mesas e cadeiras de madeira com toalhas brancas, “fauna” da zona, entre trabalhadores da construção, famílias e reformados. Todos conhecem os donos pelo nome próprio, todos são tratados como família.

Mais frequentado aos almoços, onde há o típico menu por 7,5€, que inclui sopa, prato e bebida, e que se mantém aos fins-de-semana, ainda que com alguns pratos com preço um pouco mais elevado… tipo mais 1€. Sim, estamos nesse registo de preços, o que raramente se encontra no centro de Lisboa.

Há sempre alguns grelhados e depois os clássicos pratos de tacho, como por exemplo a Cabidela de Galo do Campo, menos apurada do que nos disseram que era, o que é uma pena. Ou o Arroz de Tamboril, que até passa bem (melhora com picante), mas tem aquele marisco tão nosso conhecido: as delícias do mar. É daquelas coisas que vemos habitualmente nas tascas mais baratuchas, e que na realidade não acrescenta nada ao prato.

No grelhado, experimentámos os Lagartos de Porco, que podiam estar mais tostadinhos, mas ainda assim são bastante bons. Com arroz solto e batata frita caseira, porque aqui não se faz de outra forma. E ainda bem!

Sobremesas caseiras, e por isso com altos e baixos. O Bolo de Coco não tem nada a ver com um quindim (era a minha esperança), é mesmo um bolo de coco, um bocado seco demais; um Pudim de Ovos que, sendo a coisa mais normal do mundo, eleva a fasquia para a última sobremesa; e um Leite Creme que parece ter tudo para correr mal (não é queimado ao momento e em vez de açúcar no topo tem canela)… mas que, pessoalmente, adoro, porque me faz lembrar do leite creme que a minha mãe fazia quando eu era miúdo. Saboroso, docinho, delicioso. E isto é daquelas coisas que as tascas ainda nos conseguem trazer: lembranças.

Bottom line: nem todas as tascas têm de ser uma maravilha. Não têm de ser surpreendentes e ter realmente aquela comida que nos vai marcar para sempre. Nem todas têm de ser perfeitas, quer na comida quer no ambiente. Nada disso. A maioria das tascas que vamos conhecendo (ou revisitando) são simplesmente sítios normais, despretensiosos, que servem comida acessível e, na sua generalidade, bem confeccionada, sem mariquices, a gente que quer isso mesmo. E não há nada de errado nisso, especialmente quando se paga muito pouco. Como nest’A Palhota.

Preço Médio: 10€ pessoa (com vinho da casa)
Informações & Contactos:

Rua Camilo Pessanha, 2 | 2700-139 Amadora | 21 491 0337

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