AFURI – RAMEN & DUMPLINGS

Poucos dumplings… e muitas falhas.

Disclaimer inicial: Fomos ao Afuri Ramen & Dumplings a convite, com um grupo de “foodies” que no fundo são só amigos que gostam de comer. Não pagámos a refeição. Perguntámos o máximo possível, pedimos o máximo de acompanhamento. Deram-nos 10 minutos de atenção no início do pedido. No final, não nos perguntaram como correram as coisas, se gostámos, o que sugeríamos que podia ser alterado, nada.

Não pagámos, mas também ninguém estava disponível para ouvir a nossa opinião no final do jantar, mesmo que tenhamos sido convidados para lá ir. E pronto, é a nossa vida…

Isto dos conceitos é uma coisa lixada… e também uma coisa a que quase ninguém liga. Eu, por exemplo, sou gajo de me focar bastante no conceito de um restaurante, e de analisar se o que oferecem se enquadra com o que prometem. Mas a (triste) verdade é que a maioria das pessoas se está a borrifar para isso. Vão a um restaurante pela proximidade, pelo nome ou por recomendação, e pronto. Gostam ou não gostam, mas também não fazem a avaliação sobre se cumpre o conceito que promete. E é assim.

AFURI - RAMEN & DUMPLINGS

Mas eu ligo a isso. Porque acredito que os restaurantes se devem tentar diferenciar dos seus pares, ainda que a base da oferta seja semelhante. Houve um “boom” de restaurantes de ramen no ano anterior ao início da pandemia, alguns muito bons e outros nem por isso, mas a maioria oferecia sempre o mesmo, em espaços mais ou menos parecidos. O que acaba sempre por facilitar muito a comparação e facilita também o percebermos de quais gostamos mais ou menos.

Isto tem tudo a ver com o novo Afuri de Lisboa: o Afuri Ramen & Dumplings, no Parque das Nações. Que promete algumas coisas diferenciadoras do seu outro espaço em Lisboa (o Afuri Ramen & Izakaya), o que é sempre bom. Para variar. Aqui há duas promessas diferentes, uma no nome do restaurante e outra que só percebemos quando lá entramos: através do nome temos a informação que estamos num espaço com ramen e dumplings, um passo à frente dos restaurantes só com ramen; e quando entramos no espaço temos dois totens onde podemos fazer os pedidos sem esperar pelos empregados na mesa, tudo digitalmente.

AFURI - RAMEN & DUMPLINGS

Esta ideia do fazer o pedido numa máquina e interagir com o mínimo de pessoas possível é uma coisa completamente incorporada na cultura japonesa, principalmente em Tóquio. As “ramen joints” são espaços pequenos onde entramos, fazemos o pedido e o pagamento numa máquina, sentamo-nos ao balcão, recebemos o ramen, sorvemos tudo… e vamos embora. Não há cá conversas, almoços demorados… nada. É comer e seguir. E a verdade é que, em Tóquio, porque isso é completamente assumido, aceitamos e alinhamos nisso. Mas isso não quer dizer que o conceito funcione fora desse contexto…

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O primeiro problema do Afuri Ramen & Dumplings é exactamente esse: a ideia de partida não funciona para o tipo de restaurante em questão. Duas máquinas de pedidos para um restaurante com uns 60 lugares (pelo menos) significa que uma percentagem muito pequena dos clientes vai aceitar o conceito. E uma ementa gigante, com várias páginas e muitas variantes, que obriga a que o pedido demore vários minutos só a analisar pratos prejudica ainda mais a experiência, porque acabamos por nos cansar.

E depois… a cena dos “dumplings”. Dumplings não são 3 tipos de gyozas e outras 3 sopas onde essas gyozas entram. Há dezenas de variedades de dumplings e – digo eu – se isso é suficientemente importante para o restaurante para entrar no próprio nome do espaço… devia haver mais cuidado a incluir o máximo de dumplings na ementa. Sei lá, é só uma ideia minha, posso estar completamente errado…

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Até porque… se 2 dessas gyozas existem no outro restaurante da cadeia (no Chiado, que também já visitámos), a diferenciação não é assim tão grande, pois não? É só assim um bocadinho “mais do mesmo”, mas com o nome na fachada.

Mas vá, estou a divagar. Sobre aquilo que provámos, e começando pelas entradas, destaque óbvio para as Miso Cashew Gyozas (vegetarianas e bem boas) e o Spicy Karaage (que, simplificado, é uma espécie de frango frito japonês). São as duas melhores entradas, ou pelo menos as que ficaram na memória. Porque ainda provámos as Crispy Pork Gyozas, o Crispy Egg (que é basicamente o ovo ajitama que conhecemos no ramen, mas aqui com uma cobertura panada) e ainda o Soft Shell Crab Bun, com o bicho bem panado mas a precisar de um pouco mais de sabor.

Depois, e em relação às variantes de ramen… honestamente, acho que são demasiadas. Percebo a ideia de ter todo o tipo de opções, mas não só se torna muito difícil de escolher numa das duas máquinas (porque temos de percorrer várias “páginas”, ler as descrições, voltar atrás, analisar as imagens…) como também é complicado de escolher na ementa impressa, por ser muita informação. Talvez menos variedades simplificassem a vida ao cliente… dizemos nós.

Sendo um grupo grande, provámos vários, e a opinião foi mais ou menos unânime sobre aqueles que gostámos mais. O Tonkotsu Tantanmen é bom, com o caldo saboroso e espesso, bem apurado, mas o Hazelnut Tantanmen é ainda melhor. Mesmo sendo vegetariano, há aqui uma densidade nos sabores muito boa, além de ser o que apresenta mais texturas de todos os que provámos. No geral são todos muito bons, mas estes foram os melhores.

AFURI - RAMEN & DUMPLINGS
AFURI - RAMEN & DUMPLINGS

Provámos ainda o Yuzu Shio, o Yuzo Shoyu e o Yuzu Ratan, três variantes de um caldo com uma base cítrica (o yuzu é uma espécie de lemongrass japonês), e aqui cada variante tinha um caldo mais picante ou com ênfase num ou noutro sabor. Novamente, percebo o ter tantas variações, para que quem conhece bem os diversos ramen possa efectivamente escolher o seu preferido. Mas para o cliente “normal”, para quem ramen é ramen, estas variantes todas acabam por se tornar confusas e não facilitar nada a escolha.

Outro ainda que provámos no Afuri Ramen & Dumplings foi o Asari Shio, provavelmente o mais diferente de todos os outros, com um caldo de galinha apurado – houve vários comentários na mesa sobre parecer uma bela canjinha – e com amêijoas, o que lhe dá uma frescura interessante. Faz lembrar as canjas de amêijoas algarvias, porque é a referência que temos mais próxima.

AFURI - RAMEN & DUMPLINGS

Terminamos esta degustação… com a degustação dos vários Moochi da carta. Os japoneses não têm nas sobremesas o seu forte, percebemos isso durante a nossa viagem por lá, e o que acontece muitas vezes é que os restaurantes inventam sobremesas de fusão que nem sempre resultam. Por isso, o Moochi é uma escolha simples e segura, além de tradicional. Provámos os de Yuzu, Matcha, Cacau e Morango, com destaque para o primeiro, mas onde todos cumprem muito bem o seu papel.

mochi

No final, adorava ter gostado mais do Afuri Ramen & Dumplings, e nem é por ter sido convidado para lá ir. Adorava ter gostado porque estas “ramen joints” foram uma das coisas que mais gostámos no Japão. Lá está, o conceito seduziu-nos. Mas depois a concretização falha redondamente, ainda que alguns dos ramens sejam bons. É a concretização do conceito, é o complicar coisas que são simples, é ter uma ementa demasiado extensa e complexa, é a falta de acompanhamento e explicações. Um conceito diferente exige um acompanhamento muito maior, pelo menos no início. E aqui esse acompanhamento foi quase inexistente.

cozinha

Disclaimer final: E não, não me agrada nada escrever menos bem sobre restaurantes. Mas acredito que, se aquilo que fazemos no Onde Vamos Jantar? é relatar experiências, temos de o fazer para o bem e para o mal. Porque também acreditamos que toda a gente merece estar bem informada antes de escolher um restaurante… o que, para muita gente, é uma decisão importante, porque é aquela refeição da semana (ou do mês) que vai ser feita fora de casa e que vai representar um investimento financeiro maior. Além disso – e sem grandes rodeios – um restaurante que está aberto ao público deve SEMPRE proporcionar a melhor experiência a qualquer cliente, porque pode ser a única oportunidade de o fidelizar. É tão simples como isso.

Preço Médio: 22€ pessoa (ramen, entrada e vinho)
Informações & Contactos:

Av. Dom João II, 45 | 1990-088 Lisboa | 961 066 279

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