SOÃO – TABERNA ASIÁTICA

Uma experiência asiática… de luxo!

A moda dos restaurantes asiáticos vai acabar por passar, como acontece com todas as outras tendências da restauração. Agora são o motivo da procura de toda a gente, mas daqui a uns tempos aparece uma coisa diferente e um conjunto de restaurantes cheios de pinta e mudamos o chip. É cíclico e inevitável. Mas se é verdade que a grande maioria dos restaurantes que abrem só para aproveitar as tendências acabam por fechar, também é verdade que há sempre aqueles poucos que se destacam tanto que acabam por sobreviver. Aliás, mais do que sobreviver: são restaurantes que acabam por se tornar referência para um estilo gastronómico, e que passe o tempo que passar, são sempre uma escolha recorrente. 

O Soão – Taberna Asiática vai ser um desses restaurantes, no que aos asiáticos diz respeito. E isto nem é futurologia, é uma certeza. Porque tudo aqui foi pensado para nos proporcionar uma experiência asiática de luxo, uma experiência que se baseia muito na comida, é verdade, mas que envolve imenso todos os outros pontos do restaurante, desde o serviço ao espaço. E por isso não só o Soão – Taberna Asiática é um dos melhores restaurantes do ano, como vai tornar-se a tal referência para todos os asiáticos.

Esta mesa simples não deixa entender o que aí vem.

Há dois mundos completamente diferentes no Soão, e percebem-se claramente logo à entrada. A primeira sala lembra-nos as izakayas que tantas vezes encontrámos no Japão, pequenas tascas onde se come principalmente ao balcão e em mesas corridas. Há barulho no ar – o restaurante está cheio – como se quer neste tipo de espaço, com os cozinheiros atrás do balcão a prepararem a comida à frentes dos olhos atentos dos clientes. O espaço tem tons quentes e poucos elementos de decoração, mas todos assertivos. Ajuda-nos a começar a viagem que vamos fazer ao Oriente, se quiserem. A única coisa completamente desenquadrada com o espaço é mesmo o aquário com marisco, que mais parece vindo de uma marisqueira comum. 

A primeira sala é mais social…
… e na cave temos as salas privadas.

Mas se a primeira sala é mais “social”, ao descermos as escadas para a cave vemos o ambiente a mudar. Esta cave é um pequeno corredor, dominado de um lado pelo bar, onde podemos ver expostas garrafas de várias bebidas e muitas de saké. Do outro lado do corredor, são 3 pequenas salas, fechadas por cortinados. Salas privadas, para grupos, onde podemos ter uma experiência mais intimista e personalizada, completamente diferente do que temos na sala de cima.

Um ambiente intimista e isolado, ideal para esta viagem à Ásia.

Ficamos numa destas pequenas salas, onde não há novamente quase nenhuma decoração. O espaço é minimalista, porque a viagem que o Soão nos quer proporcionar vive mesmo muito da comida (e bebida). E talvez por isso mesmo, a carta surpreende mais do que seria de esperar. Como é habitual nos restaurantes asiáticos que têm surgido em Lisboa, há muitos pratos conhecidos de vários países (chamuças, pad thai, pho, baos e algum sushi), mas depois há muitas outras coisas que não são assim tão habituais e que nos despertam ainda mais interesse!

A carta tem pratos conhecidos e outros nem por isso!

Diria que o que ainda falta ao Soão – Taberna Asiática é uma espécie de menu de degustação, que percorra as várias influências gastronómicas da carta. Podemos pedir prato a prato – como acabamos por fazer – mas num restaurante com estas pretensões (e especialmente este nível de preços) precisava de nos orientar nas escolhas. Não que o serviço não o faça, porque parece-nos haver um conhecimento muito vasto dos pratos que existem na carta e na forma como se conjugam, para nos aconselhar da melhor forma. E ainda mais consistente é o serviço de bar, que nos acompanha na refeição sempre com a bebida ideal: seja um cocktail, um vinho ou um dos muitos sakés da carta, o Vasco Martins faz questão de tornar a nossa viagem muito mais interessante, muito mais completa. Vamos a isso? 🙂

Um miminho do Chef na forma de ceviche. E um dos vários sakés da carta.

Começamos com um pequeno “miminho” do Chef Luís Cardoso, uma espécie de ceviche com manga, só para abrir o apetite para as entradas que se seguem.. e são muitas e variadas. Sem nenhuma ordem em especial, porque chegam todas mais ou menos ao mesmo tempo, temos por exemplo dois Gua Bao: o Bao de Porco desfiado, molho de feijão preto, coentros, pepino e amendoim, um sabor mais clássico mas num bao perfeito e guloso; e o Bao de Ostras panadas e Pêra asiática, mais fora do comum e muito mais fresco, um bao que realmente nos faz viajar. 

As entradas, de vários países!

Mas não ficamos por aqui, já que ainda nos chegam à mesa as Dakgangjeon, ou seja, as Asinhas de Frango com molho coreano e sementes de sésamo, um daqueles petiscos que funciona sempre bem e aqui cobertas com um molho fantástico (de lamber os dedos!). Ainda provamos uma das variedade de Dim Sum da carta, o de Champanhe, Lavagante e Gambas, bom, mas claramente a entrada menos interessante (ou que menos se destaca, sei lá).

Da China vem um Bao de Porco desfiado e os Dim Sum de Champanhe, Lavagante e Gambas.

Seguimos em frente com uma curta incursão à parte da carta dedicada ao sushi, que felizmente não é muito grande. Não que exista algo de errado com ter sushi na carta, mas num restaurante onde se pretende fazer uma viagem a todo um continente, não faz sentido dar maior destaque a um estilo de comida de um só país. Por isso, o Soão Maki pareceu-nos bem: rolo de enguia coberto com barriga de atum, flor de sal e yukari. O conjunto é excelente, as peças bem trabalhadas, os ingredientes saborosos. Fantástico! E ainda melhor o prato que o acompanha, o Maguro No Tataki Aburi

Depois passamos para o Japão, com o sushi.

Basicamente são fatias não muito finas de atum (podemos escolher entre gordo, meio gordo e magro, e nós ficámos pelo meio gordo) braseado e servido com molho de soja, gengibre e cebolo… Bom, o peixe é assim uma coisa do outro mundo, nem há adjectivos para o descrever! É um prato que vale, por si só, uma visita ao Soão, porque nos faz esquecer que estamos em Alvalade. Maravilhoso! Vamos ver a foto só mais uma vez, ok? 🙂

Maguro No Tataki Aburi… a estrela da noite!

Ora, se o atum foi claramente a estrela da noite, é normal que o prato que o segue (e último desta viagem, pelo menos antes das sobremesas) pareça menos bom, pelo menos por causa da comparação. Uma das recomendações do Chef, Robata Wagyu to Kinoko, que são 200gr de vazia wagyu grelhadas a carvão, com molho ponzu de wasabi. A carne vem servida numa tábua, ainda acompanhada com batata doce, dois tipos de cogumelos e pimentos padrón, tudo extras que não precisavam de ter aparecido, até porque afastam o prato da forma como é servido tradicionalmente. A carne é excelente, tanto pelo produto em si como pela forma como foi trabalhada na robata, por isso não precisa de todos estes acessórios. Termina muito bem a viagem pela Ásia que fazemos no Soão – Taberna Asiática, sendo que o melhor da noite já tinha acontecido no prato anterior.

Robata Wagyu To Kinoko: vazia wagyu grelhado a carvão com molho ponzu de wasabi

Fazendo só uma pausa na comida, e voltando ainda à questão do espaço e da decoração, outra coisa muito engraçada no Soão são os pormenores que vamos descobrindo à medida que vamos andando pelo restaurante. Por exemplo, a parede em frente às casa de banho tem uma ilustração fabulosa que já vimos parecida em templos na China ou no Japão. São pormenores que nos fazem viajar ainda mais… e que funcionam ainda melhor nas redes sociais! 

Pormenores… que fazem toda a diferença!

Mas a nossa viagem gastronómica ainda não tinha acabado. Na ementa ainda há pratos tailandeses e vietnamitas e outros do género, mas são pratos que deixamos para uma próxima visita, porque já só nos resta o “estômago da sobremesa”. Das poucas que existem na carta, uma destacou-se logo desde o início do jantar, por isso sabíamos que acabaria por vir ter connosco à mesa: o bolo Cremoso de Caril e Côco. Provavelmente – ou quase de certeza – a melhor sobremesa que provámos este ano, em qualquer tipo de restaurante! Um bolo fenomenal, com uma textura fofa e consistente ao mesmo tempo, e com um sabor equilibradíssimo entre o côco e o caril, verdadeiramente surpreendente! Os gelados que o acompanham completam o conjunto muito bem, mas o bolo é uma sobremesa inesquecível sem precisar de mais nada.

Bolo Cremoso de Caril e Côco. Provavelmente a melhor sobremesa que comemos este ano!

Ora, como se a viagem que o Soão nos proporciona não fosse já intensa e imersiva o suficiente, ainda é o primeiro restaurante asiático em Lisboa (pelo menos, dos que conhecemos) a incluir na sua carta a “Cerimónia do Chá”. Esta cerimónia, que deve ser feita antes da sobremesa, parte de uma tradição japonesa de harmonização de chá com whisky. Uma forma de despertar os sentidos para ambas as bebidas, numa conjugação que parece improvável mas que resulta muito bem. Nós escolhemos a cerimónia com o whisky Nikka From the Barrel (do Japão) e o Lapsang dos Açores, um chá fumado, que se relacionado na perfeição com as notas de madeira do whisky. A ideia é ir bebendo alternadamente um pouco de cada bebida, para que os sabores se despertem e complementem. É um momento único, que nos transporta mesmo para um Japão menos urbano.

E terminamos com a Cerimónia do Chá, outro momento único.

O Soão – Taberna Asiática é muito mais do que “mais um” restaurante asiático a aproveitar-se da tendência que se vive por Lisboa. É um espaço pensado para nos proporcionar uma experiência sofisticada e memorável, e que nos leva a querer voltar para provar outras coisas. É uma viagem que fazemos com todos os sentidos, e por onde somos guiados com uma mestria que não se encontra em muitos restaurantes em Lisboa. Há um conhecimento profundo do que nos estão a servir, para que nos possam guiar por um continente cheio de riquezas e contrastes. Para que nos possam guiar numa viagem inesquecível.

A moda dos asiáticos vai terminar, mais cedo ou mais tarde. Assim como todas as outras. Mas aquilo que se mantém permanente são os restaurantes que nos marcam, sejam eles de que género forem. O Soão – Taberna Asiática marcou-nos como há muito não nos acontecia, assim como acreditamos que marca qualquer pessoa que entre por aquelas portas adentro para fazer esta viagem à Ásia. E quando um restaurante faz isso, torna-se muito mais do que uma moda. Torna-se intemporal.

Preço Médio: 38€ pessoa (com saké)
Informações & Contactos:

Av. de Roma, 100 | 1700-037 Lisboa | 21 053 4499

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