Muito à justa mesmo…
Escrevemos recorrentemente sobre expectativas. Ou sobre como é lixado ter expectativas sobre um restaurante, por causa de experiências passadas relacionadas com ele, e depois ter uma experiência negativa. É das piores coisas que nos pode acontecer.
No caso da Chef Justa Nobre, fomos surpreendidos logo na primeira vez que visitámos o seu restaurante O Nobre, no Campo Pequeno. Pelo serviço e principalmente pela comida. Daí que tenhamos voltado algumas vezes. E por isso mesmo, quando soubemos que a Chef tinha aberto um novo restaurante na Ajuda, ficámos logo com expectativas. Muitas!
No À Justa, o registo é mais intimista e sofisticado do que n’O Nobre. O espaço é mais pequeno e a decoração mais interessante, com destaque para as ripas no tecto e para a parede de azulejos, que depois também passam para as mesas. Bom gosto, acima de tudo, o que causa um impacto inicial muito bom.
A carta tem alguns “velhos conhecidos”, pratos emblemáticos da Chef Justa Nobre, como a clássica Sopa de Santola. No entanto, tem também outras propostas diferentes, seguindo sempre a linha mais tradicional da Chef, uma cozinha portuguesa com pormenores mais sofisticados, mas com uma base apoiada no receituário nacional. À partida, tudo bem!
Estamos no restaurante há cerca de 20 minutos e já estamos a ficar um bocadinho incomodados com o serviço. Não pela forma como nos servem mas sim pelo facto de, num espaço tão pequeno, não se coibirem de falar informalmente uns com os outros. Ouvimos combinações para o final do turno, reclamações pelas horas de trabalho e até alguns piropos leves, sendo que nada disto é feito em surdina atrás do balcão. Nada disso, é no meio da sala. Porque se calhar estamos em casa e não num restaurante onde pagamos um preço médio de 40€ por pessoa…
Seguindo em frente. Ainda antes da entrada que pedimos ou dos pratos principais, é-nos oferecido um amuse bouche com salmão fumado e um molho a tocar no guacamole, que serve só mesmo para entreter. E desviar finalmente a atenção das conversas dos empregados.
Passados uns minutos, chega finalmente à mesa a entrada que pedimos, os Ovos Cremosos com Espargos Verdes e um topping de Presunto crocante. Na lista diz “rúcula” também, mas deve ter ficado na cozinha. A verdade é que não há nada de mal com esta entrada, mas também está longe de ser surpreendente, é apenas normal. É certo que a Chef Justa Nobre é fiel às bases da cozinha tradicional portuguesa, mas ainda assim esperávamos um bocadinho mais.
E se a entrada não surpreendeu, então os pratos principais também não reúnem consenso. Das quatro pessoas na mesa, duas pedem o mesmo prato e outras duas pratos diferentes. Um deles é o Filete de Pregado crocante com Arroz Carolino cremoso de Courgete e Manjericão roxo. Parece um nome demasiado pomposo para o que é o prato, e é o melhor prato da noite. O peixe está no ponto, tanto que a crosta não lhe acrescenta nada senão o elemento crocante. O arroz é muito bom e está cremoso como prometido, e com um toque a courgete muito bem conseguido.
Por outro lado, temos a Vazia dos Açores grelhada, com Bearnés de Chocolate Branco e Cogumelos do Bosque. A carne é boa mas não vamos aos céus, os cogumelos estão saborosos, mas o molho – ainda que seja interessante – não serve para unificar o conjunto, ficando tudo um bocadinho “solto”.
Mas o “melhor” estava para vir, com os Lombinhos de Porco Bísaro grelhado, com Puré de Batata Doce, Beterraba e Pêssego (o prato pedido por duas das pessoas na mesa). Ora, à primeira vista, boa apresentação. Mas também à primeira vista, a carne parece-nos um pouco seca, mesmo com o molho por cima. E essa ideia confirma-se assim que começamos a cortar e depois a comer o primeiro pedaço… A carne está efectivamente demasiado dura, muito difícil de mastigar e sem sabor rigorosamente nenhum. O molho que tem por cima ajuda um pouco, mas só a nível do sabor. O puré é muito bom e desaparece num ápice, mas a carne vai ficando para trás. Vamos experimentando partes diferentes e todas têm o mesmo problema…
Os dois pratos voltam para trás como podem ver na fotografia, o que motiva a pergunta sobre se não tínhamos gostado. Felizmente no À Justa, quando explicamos o que estava mal com a carne, quem nos atende não fica com um olhar aterrorizado, antes ouve o que temos a dizer e diz-nos que vai informar a cozinha. Nessa altura não esperávamos outra coisa, sendo que do prato em si esperávamos muito mais.
Um pouco decepcionados até ao momento, vamos na mesma às sobremesas. Porque até se pode dar o caso de serem tão boas que nos façam esquecer o resto! No geral, as três que pedimos são mais consistentes que os pratos principais, estão mais alinhadas a nível de qualidade. Uma delas é a Panna Cotta de Chocolate e Avelã acompanhada de Gelado de Café, onde só o último é menos interessante. A panna cotta é muito boa, tem um sabor excelente e a textura exactamente como deve ser. Mesmo não sendo uma sobremesa portuguesa, é uma sobremesa muito boa.
A Tarte de Limão Quebrada também é extremamente interessante, uma espécie de tarte de limão merengada desconstruída. Bom equilíbrio entre o doce e o ácido, boa apresentação, enfim, outra boa sobremesa. O elo mais fraco talvez seja a Mousse de Avelã com Bolo de Chocolate e Banana. Não que tenha alguma coisa errada, mas o bolo de chocolate é um bocadinho mais desinteressante do que a mousse, essa sim muito boa.
Não ficamos surpreendidos com o À Justa como ficámos na nossa primeira visita ao O Nobre, porque houve demasiados pormenores a correr menos bem para termos uma experiência globalmente positiva. E, no final, quando nos trazem a conta, dizem-nos orgulhosamente que, por causa do problema com a carne, nos fizeram uma “atenção” na conta: tiraram o couvert e as águas. Sim, mandamos para trás a carne de dois pratos que custam quase 22€ cada um e oferecem-nos o couvert e as águas. Ainda mais as águas, quando durante todo o jantar vimos a empregada atrás do balão a encher as garrafas de vidro Luso que nos foram servidas com garrafas de plástico! Não estávamos à espera de “atenção” nenhuma, mas se era para fazer, faziam como deve ser! Assim “roça” só o ridículo…
Enfim, foi uma experiência para esquecer. Ou para não esquecer, tendo em conta a consideração que tenho pela Chef Justa Nobre e tendo em conta experiências passadas noutros restaurantes. Pode ter sido uma má noite, podemos ter tido todo o azar do Mundo, sei lá… Mas quando vamos a um restaurante com um preço médio por pessoa tão elevado, esperamos que tudo corra na perfeição, sempre. E no À Justa isso não aconteceu.
Preço Médio: 40€ pessoa (com vinho)
Informações & Contactos:
Calçada da Ajuda, 107 | 1300-450 Lisboa | 213 630 993
[codepeople-post-map]