Vale a pena esperar para comer aqui!
Adoro tascas!! E adoro ainda mais conhecer tascas por onde nunca passei! Porque cada lisboeta tem a sua preferida, e é quase impossível conhecer todas, mas a cada nova que conheço, ainda consigo ficar maravilhado com esta simplicidade incrível da arte de receber e dar de comer. A Provinciana foi uma destas últimas descobertas, numa noite de sexta-feira bastante fria… mas uma descoberta que me aqueceu o coração. E o resto também, vá… porque o tinto é bem bom!
Saímos da confusão que é a Rua das Portas de Santo Antão para a pequena Travessa do Forno, onde fica A Provinciana. E onde a confusão é ainda maior! A espera para entrar é feita na rua, numa fila, à antiga. Portugueses, turistas, tudo misturado, num sistema de honra – ou seja, toda a gente sabe o seu lugar, ninguém tenta passar à frente. Até porque a espera passa mais rápido se formos buscar umas imperiais ao balcão, que também funcionam por um sistema de confiança: no final dizemos quantas bebemos e pronto.
O misto de estrangeiros e locais habituais acontece também nas mesas no interior do restaurante, onde estamos todos encavalitados em cima uns dos outros, temos de pedir licença para andar pela sala… enfim, aquilo a que deixámos de nos habituar nestes últimos dois anos de pandemia, mas que agora adoramos ainda mais do que antes. Mais que não seja porque representa um regresso à normalidade! Este ambiente de tasca é também propício ao convívio entre quem não se conhece mas está a partilhar mesa, ou a ajudar a chamar a empregada, ou a passar pratos para quem está mais longe. Fantástico!
O destaque na sala, se olharmos para cima do mar de cabeças que enche as mesas, são mesmo os relógios, dezenas deles pendurados nas paredes, de todos os tipos e feitios. É um caos completamente… caótico, mas também aquele tipo de caos que esperamos numa tasca. Porque sim.
A ementa é curta e tem maioritariamente pratos grelhados, entre peixe e carne. E depois olhamos para a minúscula cozinha e vemos que está apenas uma cozinheira lá dentro, por isso percebemos que tem de ser assim. Novamente, estamos numa tasca, por isso é um registo a que estamos habituados. E talvez por isso mesmo é que vamos para os bitoques e as grelhadas mistas, porque são das coisas mais rápidas a sair e com menor probabilidade de falhar.
Ora, a primeira grande surpresa é o tamanho das doses, para o preço que se paga. Depois, a qualidade da carne, especialmente na Grelhada Mista que, mesmo não tendo muita variedade, tem salsicha, febras e entremeada muito bem temperadas e saborosas. E, tanto na grelhada como no Bitoque, batatas fritas caseiras, cortadas à mão… e ainda com pedaços de casca! Que maravilha! Já estive em restaurantes mais a atirar para o fino onde há muito menos cuidado com as batatas fritas. São este tipo de cuidados que fazem de tascas como a Provinciana um verdadeiro achado!
Tudo na Provinciana nos deixa com um sorriso na cara, pela sua simplicidade, aquilo que esperamos de uma tasca lisboeta à séria! E mesmo que a comida não seja toda perfeita (como por exemplo as sobremesas, onde o destaque vai para o Bolo de Bolacha, sendo o resto “só” perfeitamente normal), o ambiente não tem igual. E, mesmo com o frenesim do serviço, tanto a única empregada da sala como quem está atrás do balcão (que presumimos ser o dono) são de uma simpatia contagiante! Há sempre um sorriso, sempre uma “boca”, independentemente do lodo constante em que estão.
O café vem morno, mas também acompanhado de uma bagaceira caseira, não muito intensa, porque tem de agradar a todos. Aliás, nem é preciso que gostem dela, porque a atitude vale mais do que tudo o resto. O jantar na Provinciana termina como começou: somos tratados como amigos, rimos e conversamos com quem está a atender, comemos como se estivéssemos em casa. E só não partilhamos um copo de vinho porque o restaurante está sempre cheio, porque senão tenho a certeza que isso ia acontecer. É isto que as tascas têm de diferente da grande maioria dos outros restaurantes: uma comunhão sem igual.
Preço Médio: 12€ pessoa (com vinho da casa)
Informações & Contactos:
Travessa do Forno, 23 | 1150-193 Lisboa | 21 346 47 04
Adoro este sítio , já vou aqui desde que sou pequenina !!! Havia um cliente habitual que ficava a beber a sua imperial numa das pontas do balcao e a cozinheira costumava lhe atirar uma azeitona diretamente para a boca desse senhor que sempre a apanhava ! Era épico ! 🙂