Uma experiência inesquecível!!!
Isto de escrever sobre restaurantes na perspectiva de quem os visita, sem ter conhecimentos aprofundados sobre ingredientes, técnicas, metodologias de serviço, chefs e todas essas merdas… faz com que seja muito complicado escrever sobre restaurantes onde a a experiência que tivemos foi verdadeiramente inesquecível. Aliás, a questão é mesmo a falta de palavras. Porque há experiências que se conseguem descrever, sejam elas muito boas ou muito más (ou mais ou menos, e essas são as piores). Mas depois há restaurantes que são experiências únicas, que mesmo que lá voltemos muitas vezes, a primeira vez será sempre nada menos do que inesquecível.
E é sobre essas experiências únicas que é quase impossível escrever, experiências como a que vivemos na Garagem 33, em Braga. Porque já me tinham mostrado fotos, já me tinham recomendado, já me tinham tentado descrever o melhor possível, com termos mais ou menos técnicos, com asneiras (daquelas boas!), com sinais de fumo ou linguagem gestual, eu sei lá!
Mas nenhuma descrição, foto ou seja o que for consegue fazer-vos perceber o que é uma refeição na Garagem 33. Uma refeição que é muito mais do que isso, é uma viagem por sabores, pela arte de bem receber, pela sensação de pertença a uma família. São três, quatro ou mais horas – nós passámos as cinco horas… – onde nos esquecemos do tempo, do local, de ir à casa de banho ou fumar, esquecemos tudo o que está à nossa volta. E simplesmente aproveitamos, vivemos a experiência.
E esta experiência da Garagem 33 tem efectivamente muito a ver com a comida, mas começa inevitavelmente com uma pessoa. O David Cunha é o dono deste espaço, assim como já o era do espaço antigo – que era mesmo uma garagem – e ele é uma das pessoas mais genuinamente simpáticas que conhecemos desde que começámos com esta brincadeira do Onde Vamos Jantar?
O David não só é boa pessoa, como é completamente genuíno! Sabemos quando está contente, quando está irritado, conseguimos perceber e sentir tudo. Mas o que sentimos mais é que ele gosta de nos receber, tem genuíno prazer nisso! Conhecemo-nos há 10 minutos e já nos tratávamos como amigos de sempre. E depois de 5 horas de Garagem 33… sentimo-nos parte desta grande família! Que inclui também o Gaspar, o seu filho, claro 🙂
Agora, sobre a comida… Podíamos fazer aqui uma descrição dos pratos, e tentar falar sobre estas 5 horas que estivemos sentados à mesa. Mas não vale mesmo a pensa, e por duas razões: em primeiro lugar, porque os pratos aqui variam consoante o que esta malta quer fazer; e depois – e mais importante – porque as descrições iam ser apenas adjectivos, e nenhum adjectivo substitui aquilo que fomos sentindo ao longo da noite. Por isso é que fomos colocando fotografias ao longo do texto, para verem… e para nós recordarmos!
Há só dois ou três destaques que queremos mesmo fazer, porque são tão marcantes como mais frequentes nas visitas que possam fazer à Garagem 33. O primeiro deles é, sem dúvida nenhuma, a Pá de Porco Assada no Forno a Lenha (assada durante 8 a 10 horas), que novamente não tem descrição, precisa mesmo de ser provada (e toda a preparação antes de ela aparecer na mesa também é digna de ser vista).
Mas há tanto mais… O Arroz de Fumeiro, que acompanha muitos dos pratos, a Costela de Novilho no Forno (assada de 6 a 8 horas), que chega já depois de 2 horas de hostilidades e ainda assim tem de ser terminada porque é fenomenal, a Sardinha que é um dos clássicos da casa, assada de forma a que a pele saia completa e fiquem só os filetes. Ou o Pão de Ló, a única sobremesa da casa, feita em casa, para acompanhar um dos muitos digestivos que aparecem na mesa. Ou para molhar no vinho verde tinto, porque estamos em casa e podemos fazer aquilo que nos apetecer!
Se há uma coisa que vos podemos dizer é que esta não é uma experiência para viver a dois. Nope, isto é para ir em grupo, e com tempo, com muito tempo. É para ir com malta que gosta de comer e estar preparado para ficar por lá umas horas na conversa, enquanto as travessas vão aparecendo em cima da mesa. Sentir os aromas, ver os movimentos do David e do filho, levantar o rabo da cadeira e ir às outras mesas perceber o que se come e o que se bebe. E beber uns copos, claro, porque a comida pede bebida e a comida de excelência pede pinga da boa!
O nosso jantar na Garagem 33 terminou quase às 2h da manhã, e chegámos às 19h e pouco. E terminou na cave do restaurante, na cozinha de serviço, ao lado da arca onde o David nos foi mostrar os cortes de carne… e onde o desafiámos a fazer ali uns nacos na frigideira, àquela hora. Porque não pensávamos que ele fosse alinhar. Mas alinhou, e comemos um “trinchadinho” fantástico de madrugada. Percebem o que quero dizer com o não haver descrição para isto?!
Ficámos a dormir perto do restaurante, porque não havia outra forma de o fazer. Um jantar no Garagem 33 é muito mais do que um jantar, é uma experiência que se quer ter sem qualquer restrição, sem pensar no que vai acontecer quando nos levantarmos da mesa. Come-se e bebe-se muito bem, e esta parte final é também igualmente importante: não se preocupem com a carta de vinhos, deixem-se levar pelas recomendações do David. Entre o verde tinto da casa, o espumante, os brancos e depois os digestivos, também aqui vão ter uma experiência inesquecível.
Reserva obrigatória, especialmente ao jantar e para grupos grandes e se quiserem ter uma experiência verdadeiramente única. Se quiserem sentir-se em casa, vá lá. Porque não há outra forma de descrever a Garagem 33 e aquilo que o David, o Gaspar e o resto da malta nos proporcionam, é mesmo um receber de braços abertos numa casa de família. Mas daquelas que têm um forno a lenha de onde saem coisas fantásticas para a mesa, claro!
Gostava de conseguir ser mais claro, ser mais objectivo, descrever mais coisas… mas não consigo. Aliás, nem quero. A Garagem 33 é verdadeiramente uma experiência, por isso tem de ser vivida, não vale a pena ler e tentar entender. É preciso viver isto, pelo menos uma vez na vida!
Preço Médio: 40€ pessoa (mas varia muito com a quantidade de bebida)
Informações & Contactos:
Rua do Moinho, 17 | Vila Verde | 4730-577 Braga | 938 441 014