Um chinês sem arroz xau-xau? Sim, por favor!
Não há arroz xau xau na ementa do Ku Wa Zi. É verdade. E sei disso porque procurei, de forma extensiva. Tornou-se quase um desafio, porque é, no mínimo, estranho. Mas também tudo o que tinha ouvido dizer acerca do Ku Wa Zi era exactamente isso: que era um chinês “diferente”. E eu, que de vez em quando tenho apetites de chinês, fiquei logo com aquelas três palavrinhas na cabeça. E quando isso acontece, claro, lá vamos nós!
Mesmo estando ali na zona do Campo Pequeno, entrar no Ku Wa Zi é quase como que ir a um daqueles chineses clandestinos que existiam há muitos anos em Lisboa, especialmente na zona do Martim Moniz e Rua da Palma. Agora temos de entrar dentro do Centro Comercial Colombia que, ainda por cima, na noite em que fomos estava em obras, com o piso todo rebentado; e depois descer à cave, onde a única loja aberta à noite é mesmo o restaurante. No fundo, parece que estamos num centro comercial fantasma… ou, se quiserem, clandestino.
Como fica numa cave o Ku Wa Zi não tem janelas. À entrada temos um balcão e depois segue-se a sala, com uma dezena de mesas e uma parede de fundo com desenhos e caracteres chineses. O tecto é baixo, a iluminação demasiado clara, temos uns candeeiros com forma de nuvem infantil nas paredes… e uma moldura com caixa de luz onde vemos umas portas abertas para uma paisagem. Só para não nos sentirmos numa cave 😛
Nas mesas à nossa volta, um misto de clientes, entre chineses a comer coisas estranhas em taças gigantescas, e estudantes universitários que parecem fazer do Ku Wa Zi a sua cantina. Tudo num convívio harmonioso, mesmo numa cave. Ok, é verdade que o espaço pode não parecer o mais acolhedor, mas na realidade fui lá pela comida. E pela promessa de comida diferente daquilo a que a maioria dos restaurantes chineses nos habituaram. Percebemos isso logo quando começamos a folhear a ementa, com imagens, como se quer.
Tinha lido sobre o Ku Wa Zi servir comida do Nordeste da China, e visto várias publicações sobre as pequenas espetadas, de tudo e mais alguma coisa, condimentadas, que servem como petisco. Por isso, e porque somos três pessoas à mesa com apetites de coisas diferentes, resolvemos atirar um pouco para todo o lado e provar o máximo possível. E começamos logo pelas ditas Espetadas, que percebemos na leitura que são de coisas ligeiramente diferentes das que fazemos por cá…
Nós pedimos três diferentes: Espetadas de Borrego, Espetadas de Coração de Frango e Espetadas de Moelas. Boa carne, sem dúvida, mas o mais engraçado são mesmo os condimentos, que lhes dão um sabor realmente exótico, diferente daquilo a que estamos habituados. Diria que andamos ali entre a China e a India, vá.
Mas não ficámos por ali, pedimos as Espetadas de Tripas Picantes, que podem ver na fotografia em baixo. Um hot pot com um caldo intenso de legumes e bastante picante, onde temos então as espetadas com as tripas, que se deixam comer muito bem. E aquele caldinho acabou passados uns pratos, com o pão chinês frito.
Depois, Unha de Porco. Sim, isso mesmo. Porquê? Porque há e porque queremos. Simples! E posso dizer que foi um dos melhores petiscos da noite, porque a carne não só era muito tenra como tinha um sabor delicioso. E é sempre uma maravilha chegar um prato assim à mesa! 🙂
Seguimos com dois pratos mais “normais”, mas que nos pareceram tão for do contexto que resolvemos pedir. Por um lado, o Hambúrguer Chinês com Carne de Porco, que é carne de porco desfiada com alguns legumes, dentro de um pão tipo chapata, e que se torna divertido por ser inusitado. Por outro lado, a Panqueca Chinesa, que é uma panqueca enrolada e no interior recheada com alface e outros legumes. É assim uma espécie de omelete, mas com uma textura diferente e com temperos que associamos à comida chinesa.
O Pão Chinês Frito (recheado com carne) chegou no meio desta loucura toda, e foi ficando para o final porque o recheio – bem bom – estava demasiado quente. O que não ficou à espera foi um dos pratos consensuais entre todos: o Borrego Frito com Cebolinho (servido também com cebola). Fantástica a fritura do bicho, super condimentado, a carne muito boa, um prato que já nos aproxima de outras coisas que provei em chineses mais “alternativos” como o Hong Kong Grande Palácio ou o Mr. Lu.
A ordem dos pratos não foi exactamente a desta descrição, porque na realidade foi chegando tudo quase ao mesmo tempo e fomos picando um pouco de cada um. Para o final, não por haver fome mas porque havia curiosidade, pedimos só o Lombo de Porco Frito, com técnica e especiarias semelhantes ao borrego, mais simples nos condimentos mas igualmente bom. No fundo, funciona como um snack, quase uns nuggets. Só que sem ter nada a ver.
O Ku Wa Zi não tem sobremesas, até porque coisas como o gelado fritos foram mais ou menos inventadas internacionalmente quando houve a exportação da comida chinesa. Aquilo que têm para oferecer são Mocchis, que não sendo uma sobremesa chinesa, serve para terminar a refeição. Pareceram daqueles de compra, ou seja, devíamos ter ficado pelo lombo de porco frito.
As horas vão passando, até que percebemos que somos os últimos no restaurante, enquanto o staff já está inclusivamente a jantar também. É mau, pedimos desculpa, mas somos tratados com um sorriso e um “está tudo bem!”. Aliás, isso foi recorrente durante a refeição: mesmo no meio da azáfama, há simpatia e gosto em receber.
No final do jantar, ficou imenso por provar. Vi taças enormes a seguir para mesas diferentes e fiquei com aquilo na cabeça. Mas também fiquei com a certeza de que o Ku Wa Zi é um restaurante ao qual vou voltar algumas vezes, para provar coisas diferentes e para me sentir numa espécie de dimensão também diferente. Porque esta cave no meio de um “centro comercial” fantasma tem muito que se lhe diga. Acreditem!
Preço Médio: 25€ pessoa (com alguns petiscos e cerveja)
Informações & Contactos:
Av. Júlio Dinis, 14 – Loja 11 | 1050-063 Lisboa | 927 243 468