Comida de conforto inesquecível!
Sim, vou começar quase pelo fim, porque me apetece. E porque estava a rever as fotografias do jantar no restaurante da Residencial Borges, em Baião, e a lembrar-me deste Arroz de Aba de Vitela que podem ver aqui em baixo. Aliás, é impossível esquecer – foi um dos melhores pratos de arroz que já comi na vida, mas assim de caras! Daí merecer que comece a escrever por aqui. E nem foi o único ponto alto da noite, acreditem… toda esta noite foi um festival de pontos altos, de comida de conforto fenomenal, de simpatia extrema. Foi uma experiência inesquecível!
A Residencial Borges fica em Baião e é dos daqueles espaços emblemáticos na zona e não só. Sente-se o peso da história mas não no mau sentido. É tradição que se respira quando entramos no edifício e depois quando passamos para a sala do restaurante. Vemos famílias, casais, percebemos que são clientes habituais, ouvimos aquele burburinho agradável de gente feliz. A sala vive muito das paredes de pedra e da decoração clássica, pontuada em diversos sítios com quadros com distinções que o restaurante foi recebendo ao longo do tempo e também com pequenas amostras da garrafeira, que é verdadeiramente incrível.
Passamos a sala e vamos espreitar a cozinha, onde a azáfama é menor do que esperamos, porque cada um tem a sua função e isso resulta numa coreografia perfeita entre fogões, tachos e balcões de empratamento. Ainda mais dentro do restaurante, a sala de fumo, onde temos os enchidos a ser fumados e também os fornos, de onde saem algumas das especialidades da casa.
Mas o que nos levou mesmo à Residencial Borges foi o António Queiróz Pinto, responsável pela cozinha do restaurante, um dos chefs mais promissores da sua geração, ainda que já seja uma certeza. Tanto o António como o seu pai (António também) são daquelas pessoas que gostam genuinamente de receber, e fazem-nos como ninguém! Somos recebidos como amigos, como familiares, e por isso o jantar é como se fosse um jantar de família. E malta… o António cozinha como o caraças!!! Cozinha tradicional portuguesa, de respeito às origens, cheia de sabor, cheia de alma. Qualquer dos pratos que nos passou pela mesa nesta noite deixaram toda a gente de boca aberta, e interromperam sempre as conversas para que todos pudéssemos saborear melhor.
E o que é que comemos, então? Começámos por ir recebendo na mesa algumas entradas, para ir abrindo o apetite. O Pastelão de Salpicão é um especialidade do restaurante, que está ali entre uma tortilha e uma bôla de carne, bem recheada de salpicão, fantástica a textura. E por falar em recheio, a Alheira que o António nos apresenta tem galinhola, perdiz, faisão e mais um conjunto de outros bichos, o que lhe dá uma profundidade de sabor incrível.
Seguem-se uns Peixinhos da Horta irrepreensíveis, mas aos quais ligamos menos do que devíamos porque temos outros dois pontos de atenção na mesa, e estes quase não têm explicação! A Carne de Porco em Vinha d’Alhos é exactamente o que é descrito, e nunca tinha comido carne de porco com aquela textura e sabor tão maravilhoso! Sabemos que ainda vamos ter muita comida, mas não conseguimos mesmo resistir a comer tudo. Isso e o Salpicão de Língua, intenso, cheio de sabor, um petiscos fantástico. Como não gostar disto, malta?!
E depois chega então à mesa este panelão de Arroz de Aba de Vitela. Já sabíamos o que ia ser o prato principal, mas nada nos tinha preparado para o que íamos comer. É um dos melhores arrozes que já comemos na vida, um prato perfeito. O arroz no ponto, cremoso, já com algum picante, sabor carnudo, recheado de carne e enchidos. É impossível descrever o sabor deste prato, e não houve ninguém na mesa que não se servisse pelo menos duas vezes. Porque até podíamos estar cheios depois de todas as entradas, mas foi impossível resistir a este arroz.
O jantar foi longo, por isso foram várias as pausas para conversar e fumar um cigarro. E para ir analisando o que nos estava a passar à frente, a qualidade de tudo o que foi servido e a forma ímpar como nos receberam. É tipicamente português estar num restaurante e conversar sobre comida, e geralmente sobre outros pratos de outros restaurantes. E isso não nos aconteceu uma única vez nesta longa noite, simplesmente porque havia sempre tanto a dizer sobre tudo o que nos passou à frente. Faltaram adjetivos, faltaram palavras para descrever a felicidade que sentimos.
O último regresso à mesa foi para receber o Pijaminha de Sobremesas, aliás, um pijamão… desculpem a parvoíce, vá. Mas é verdadeiramente impressionante. Tudo caseiro, tudo cheio de sabor, mas comemos pouco porque o festim tinha sido enorme. Ainda assim, um destaque claro nas sobremesas, mais uma das várias especialidades da Residencial Borges: o Creme de Água de Baião é uma sobremesa típica que parece leite creme, mas este feito com água em vez de leite. Fabuloso o sabor, não tão doce como o leite creme, de uma suavidade fantástica. Foi a única sobremesa que desapareceu completamente do pijaminha.
Vamos dormir na própria residencial, por isso ainda acompanhamos as sobremesas com um Porto antigo. E ainda descemos à cave do edifício, para ficarmos completamente maravilhados com a garrafeira enorme que lá existe e depois provarmos um outro Porto, diretamente da pipa. Mas acima de tudo ficamos a conversar com o António filho e o António pai, porque não queremos que aquele momento termine. Partilhamos experiências, histórias, anedotas, copos de vinho. Partilhamos simpatia, partilhamos amor. Porque foi assim que fomos recebidos.
Não é todos os dias que fazemos quase 400kms para ir a um restaurante. Mas também é verdade que o restaurante da Residencial Borges não é um restaurante qualquer. É uma casa de família, de amigos, de comida de conforto, daquela que nos fica na memória. De gente boa, simpática, que nos trata como se fôssemos da família logo desde o primeiro abraço. Um sítio que nos marca para sempre, que nos deixa saudades assim que entramos no carro para regressar a casa. E um sítio a que vamos de certeza voltar muito em breve. Porque tem de ser.
Preço Médio: 30€ pessoa (com vinho)
Informações & Contactos:
Rua de Camões, 306 | 4640-147 Baião | 255 541 322