Para quem gosta de Carne. A sério.
A minha geração não é de talhos. Daqueles de bairro, à antiga, com as peças de carne penduradas e o talhante atrás do balcão a cortar uns belos nacos. A minha geração é a da carne já cortada (e para alguns até já temperada e tudo) e em couvetes de hipermercado. São os tempos… Por isso mesmo, é engraçado que a moda dos restaurantes de cortes de carne, que surgiu há uns 4 anos atrás, se tenha transformado em algo cada vez mais relevante na nossa restauração. Aquele tipo de restaurantes onde entramos e vemos logo a montra de peças de carne penduradas, como se estivéssemos… num talho. Como acontece na Sala de Corte.
Este conceito começou a aparecer quase imediatamente depois da moda das hamburguerias, com restaurantes como O Talho do Chef Kiko Martins ou o Butchers, no Parque das Nações. Com o passar do tempo foram aparecendo cada vez mais restaurantes do género e um deles foi a Sala de Corte. Na sua primeira localização (por trás do Mercado da Ribeira), o espaço era relativamente pequeno, e por isso havia qualquer coisa de especial em entrar no restaurante e ver uma arca com várias peças de carne expostas (como o peixe nos restaurantes de peixe fresco), ao mesmo tempo ouvias o barulho das ditas peças a serem cortadas ao balcão. Se é uma sala de corte, então que se ouça cortar carne.
Mas o espaço realmente era pequeno e, com a fama a aumentar, a Sala de Corte mudou de localização, ficando na mesma zona. As obras demoraram quase 1 ano e, quando voltou a abrir… chegou a pandemia e confinamentos e tal. Um azar nunca vem só. De qualquer forma, com o regresso à normalidade, e talvez também muito pela localização, a “nova” Sala de Corte voltou a ser um dos restaurantes de carne mais procurados na cidade.
O novo espaço é bastante maior que o anterior, mas mantém a mesma lógica, começando logo na entrada, onde temos a tal montra de carnes. Aqui temos todos os cortes disponíveis na ementa, bem iluminados, quase como aquelas montras de peixe a que estamos habituados nos restaurantes junto ao mar. Depois temos o longo balcão que acompanha quase toda a sala, com vários lugares, onde podemos ver ainda mais de perto os fornos Josper onde são preparadas as carnes. No resto da sala, mesas espalhadas, em diversas tipologias, boa iluminação, um ambiente assim a atirar para o sofisticado que ainda assim não nos deixa intimidados.
Os cortes de carne expostos na montra são então cozinhados e servidos em tábuas de madeira, como ser quer neste tipo de restaurantes: desde a picanha até ao chuletón, passando pelo lombo ou entrecôte. Todas peças chegam à mesa já cortadas e acompanhadas por um relish de tomate fumado excelente e ainda vários molhos à escolha (destaque para a maionese trufada e o chimichurri). Os acompanhamentos são à parte e incluem coisas muito interessantes como o Brás de Cogumelos e Espargos Verdes, os Corações de Alface com Mostarda e Mel ou o Esparregado de Espinafres com Queijo da Ilha.
Se a carne é boa? É sim senhor! Mais do que olhar para ementa, é mesmo ir ver a montra e escolher o corte de carne que preferem, porque depois temos efectivamente a sensação que a carne é cortada e cozinhada para nos ser servida de propósito, no momento. Cortes como o Lomo Bajo, na fotografia em cima, uma vazia em esteróides, que não conhecíamos e percebemos que tem a quantidade ideal de gordura e uma textura fantástica. Ou o Chuletón, um corte mais nosso conhecido, mais gordo ainda, o que lhe traz toda uma outra dimensão de sabor. Os pontos são servidos exactamente como pedido, mas acima de tudo o que interessa é a qualidade da carne, que é simplesmente fantástica!
Mas antes de irmos para os cortes de carne temos ainda um conjunto de entradas que, mesmo não sendo completamente originais, surpreendem pela qualidade. Há um amouse-bouche que é um Cone de Tártaro e funciona lindamente desse tamanho, e depois há uns Croquetes de Novilho perfeitos, acompanhados com mostarda Dijon.
Ainda nas entradas, o fenomenal Carpaccio de Lombo de Novilho (com azeite de trufa, pistachios, rúcula e parmesão), um dos melhores carpaccios que comemos desde há muito tempo. Ou, para uma escolha mais premium e segura, o Foie Gras, que é servido envolvido em pistáchio, com Ameixa de Elvas e uma Compota de Cebola Roxa. Sem palavras, malta, sem palavras.
É que até nas sobremesas este nível de qualidade continua altíssimo! Ora vejam a Baba au Rhum, um bolo esponjoso que é regado com rum e depois flambeado, acompanhado com um creme de mascarpone e baunilha, uma combinação que não podia falhar e não falha mesmo. Podem ser poucas as sobremesas da carta, mas depois da quantidade e variedade de carne que comemos até ao final do jantar, só precisamos mesmo daquele pequeno toque doce para terminar.
Carta de vinhos bastante completa, com preços não muito agressivos, ao contrário dos cocktails, estes sim um pouco mais caros. Mas sabemos para onde vamos, temos a noção que a Sala de Corte não é um restaurante barato. E a verdade é que a qualidade continua muito alta nas bebidas.
No entanto… e porque sabem que não falamos só das coisas positivas, é importante referir alguns pormenores do serviço nesta visita recente que fizemos ao restaurante.
Em primeiro lugar, logo na tentativa de reserva, na qual por telefone nos foi dito, de forma bastante assertiva, que o restaurante estava completamente cheio a qualquer hora da noite, que não havia possibilidade nenhuma de arranjar mesa e que, se quiséssemos, podíamos ir para a porta e esperar. Infelizmente, não estamos a exagerar, foi mesmo assim. Sendo que resolvemos tentar reservar através do The Fork ou do próprio site do restaurante e… surpresa! Mesas disponíveis em ambas as plataformas. Mas com exigência de apresentar cartão de crédito para a reserva. Como não concordamos com esta política, resolvemos passar na mesma no restaurante, para perceber se, à porta, nos arranjam mesa. E não é que arranjaram mesmo? E não é que, durante as mais de 2 horas que estivemos na Sala de Corte, houve sempre várias mesas vazias na sala (mesmo em turnos diferentes)? E não é que o balcão também esteve sempre vazio? Percebemos perfeitamente que existem “no shows” e que os restaurantes funcionam por turnos e qualquer outro tipo de justificação. Mas é importante que os restaurantes também percebam que dar logo uma resposta agressiva ao telefone quando um cliente tenta reservar uma mesa e está disposto a aceitar a localização e o horário disponível porque quer muito lá ir… faz com que essa pessoa deixe de querer ser cliente. Enfim…
Outra questão sobre o serviço, talvez derivada do facto da Sala de Corte trabalhar com dois turnos ao jantar (como muito outros restaurantes, infelizmente). Durante o jantar, especialmente no início, houve um apressar imenso dos empregados na nossa mesa. Nos primeiros 10 minutos, a nossa conversa foi interrompida 3 vezes pelos empregados (2 vezes pelo mesmo), sempre a pressionar para fazermos o pedido. Honestamente, não é agradável, até porque já estávamos a beber cocktails. Um bom serviço tem de estar atento e dirigir-se à mesa quando percebe que os clientes estão preparados, mas mesmo que não estejam, deve evitar ao máximo interromper conversas. E o problema é que isto voltou a acontecer mais uma vez durante a refeição, e novamente quando era fácil de perceber que estávamos a conversar um com o outro. Num restaurante com este tipo de preços, esperávamos mais atenção.
Independentemente de um ou outro fine tunning, a Sala de Corte é um restaurante inevitável para os carnívoros de Lisboa e arredores. Ou aqueles a quem simplesmente apetece um bom corte de carne, bem temperado, bem cozinhado, sem grandes invenções. Não é fácil competir tanto com as outras ofertas na zona como com os outros restaurantes de carne (muitos, mesmo) que existem espalhados pela cidade, mas a qualidade dos cortes e a mestria de quem está à frente das “grelhas” garantem logo que quem vai pela carne ficará muito satisfeito. Vale por muito mais do que isso, é verdade, mas quando numa espécie de “talho”, é a proteína principal que se destaca! 🙂
Preço Médio: 40€ pessoa (com vinho)
Informações & Contactos:
Praça Dom Luís I, 7 | 1200-148 Lisboa | 21 346 00 30
Muito curiosamente,foi pela primeira vez a este restaurante no dia 09/10,depois de pesquisar onde se poderia comer “boa carnínha” na cidade de Lisboa.Habituado que estou a “petiscar” bem,bem como a fazer desvios,maiores ou menores,pelos prazeres da mesa,esta Sala de Corte trazia-me algumas expectativas.Do saldo final,poderei dizer que é bom,sem ser super-bom,atendendo ao valor pago.Tirando marisco,foi a maior conta que já paguei em Portugal para três pessoas:190 euros.A qualidade da carne era boa,estava bem confecionada(mas na carne grelhada,não há como inventar,o que conta é o produto),mas achei claramente desfasada da realidade.Sendo do Norte,zona de bem “petiscar”,em vários outros locais se obtém refeição de igual ou melhor valia,pesando menos na conta.