Muito jardim, alguma alma, pouca comida, quase nenhum serviço… e depois, preços altos.
É esta a avaliação sucinta do nosso jantar no Soul Garden, no Hotel Corinthia, ou seja, uma espécie de sobe e desce. O Soul Garden é um sítio com muita pinta e com muita vegetação – para fazer jus ao nome – mas depois a comida tem apenas algumas coisas boas a nível de sabor e doses bastante menores do que seria de esperar. E como se isso não bastasse, o serviço foi piorando a olhos vistos durante o jantar, ao ponto de nos termos de levantar algumas vezes da mesa para ir à procura de algum empregado que nos pudesse atender. No final, tipo cereja no topo do bolo, temos o preço, que percebemos logo durante a refeição que ia ser demasiado elevado para a quantidade (pelo menos).
Mas voltemos ao início. O Soul Garden é o restaurante do Hotel Corinthia, em Sete Rios, um hotel de 5 estrelas. Por isso, quando lá fomos parar num jantar de aniversário, já levávamos duas coisas em mente: aquele estigma do restaurante de hotel (sem grande personalização, com um serviço formal de hotel) e, por outro lado, a ideia de que iria ser caro. Uma destas coisas revelou-se ser verdade… querem adivinhar qual?
Comecemos então pelo espaço, que é muito mais diferenciador do que esperávamos. Mesmo tendo de entrar pelo hotel para chegar ao restaurante, o Soul Garden tem um look muito personalizado. Como o nome indica, a decoração é maioritariamente floral, a que se acrescenta muita madeira e alguns apontamentos de decoração alusivos a selva e natureza. Boa iluminação, mesas bem organizadas, DJ a passar música ambiente no fundo da sala, junto ao bar. Nada mau.
Mas vamos então à questão sobre a qual estávamos corretos: o ser caro. Porque quando vimos os preços na ementa, percebemos logo que este jantar, mesmo sem exageros, não ia ficar nada barato. Tudo está muito inflacionado, tanto na comida como nas bebidas. Por exemplo, peço um cocktail para começar o jantar, que custa 17€ (ou seja, o preço de um dos pratos mais baratos da ementa) – by the way, o tal cocktail foi o Wagazabi, com sake, rum, pasta de wasabi e alga nori, servido numa quatindade minúscula mas com um nigiri de salmão a acompanhar (sofrível, demasiado grande, tudo errado…), por isso quase que compensa #sóquenão
Começamos então a escolher pratos principais, e pedimos ainda algumas entradas para partilhar: a Casca de Batata Crocante com Molho Aioli tem pouco de crocante; os Nachos com Guacamole cumprem a sua função sem surpreender; e o Bao de Cordeiro é a melhor das entradas, tanto pelo bao em si como também pelo recheio. De notar que até este momento, o serviço foi célere e presente. Mal nós sabíamos como ia terminar a noite…
Os pratos principais chegam à mesa com um desfasamento de minutos, mas não é grave. O pior é que começamos logo a ver que alguns deles são efetivamente pior servidos do que outros. Temos o Tataki de Atum com Sésamo e Batata Doce, por exemplo, que é simplesmente uma desilusão, especialmente tendo em conta que custa 18€. Estamos a falar de 8 fatias muito finas de atum (quase carpaccio), sendo que depois o sésamo faz parte da crosta do próprio atum e a batata doce – espanto! – são 7 chips espalhadas pelo prato (daquelas que se compram na Makro). Ou seja, é basicamente um prato principal sem qualquer acompanhamento e servido numa dose absurdamente pequena. Já estávamos à espera de ser “enganados”, mas não esperávamos que fosse tanto. Situação ligeiramente melhor com a Barriga de Porco (cozida lentamente) com Hoisin, Bimis, Shitaki e Pimento, com dois pedaços pequenos de barriga (onde a pele não estava crocante, estava esponjosa e sem graça nenhuma) e alguns vegetais por baixo, mas claramente pouco para os 20€ que custa o prato.
A partir do momento que todos os pratos principais estavam na mesa, o serviço simplesmente deixou de existir. E atenção, nem é os empregados não virem à nossa mesa, é não estarem de todo na sala do restaurante, desapareceram. Ficámos vários minutos sem ver ninguém na sala, ao ponto de termos de ir pedir ao DJ para ir chamar alguém que nos pudesse trazer uma garrafa de água. Surreal!
Bom, seguindo com os pratos mais agradáveis da noite. Temos aqui em baixo o Caril Massaman de Camarão com Arroz de Coco, um prato muito agradável, com texturas e um sabor irrepreensível, puxadinho mas sem ser picante, e numa dose bem servida, sem dúvida…
… assim como acontece com o Nasi Goreng com Frango e o Yaki Udon de Gambas e Legumes. É verdade que pratos com base de arroz ou massa acabam sempre por ser mais compostos, mas mais do que o tamanho das doses, sentimos que estes pratos justificam de alguma forma os preços por causa do sabor. Não são os melhores exemplares deste pratos em Lisboa, mas não envergonham ninguém e, no contexto do Soul Garden, são pratos que fazem sentido.
Ainda pedimos sobremesas, porque mais de metade da mesa estava com fome. E fizemo-lo depois de, mais uma vez, uma das pessoas da mesa se ter levantado para ir à procura de empregados, porque não estava nenhum na sala! As duas sobremesas que partilhámos foram, por um lado, o Cheesecake de Tâmaras e Caju, acompanhado com um gelado de coco, perfeitamente normal; por outro, bastante melhor e visualmente mais elaborada, a Torta de Nashi, Caramelo Salgado e Amareto. Custam 11€ e 9€, respetivamente, estas sobremesas. Estão a ver no que isto vai dar, certo?
Ora, tudo isto resultou numa conta final muito cara, muito cara mesmo. E de notar que, sendo um grupo grande, até dividimos várias coisas e só bebemos 2 garrafas de vinho – o mais barato, a 25€ a garrafa – o que deu 2 copos por pessoa. Ainda assim, pagámos mais de 45€ por pessoa, e ficámos com fome. E tendo em conta que tivemos de nos levantar diversas vezes durante a refeição para ir à procura de staff porque não estava ninguém na sala, inclusivamente no momento em que quisemos pedir a conta e mesmo para pagar (já nem sequer vou falar dos largos minutos que demorou a chegar a fatura do jantar)… enfim, foi desastroso.
Podemos entrar aqui em divagações sobre aquilo que são restaurantes de hotel e que é normal que os preços sejam elevados, mas seria fazer generalizações. O que interessa mesmo é que tivemos um jantar muito caro no Soul Garden do Hotel Corinthia, onde a comida até teve sabores interessantes mas a maioria das doses é muito reduzida para o preço que se paga – e nem vamos entrar pelo campo das bebidas. E se a isso juntarmos o serviço que começou bem e terminou de forma desastrosa, então não há muito a dizer, pois não? O Soul Garden até pode ser um jardim simpático no meio de Lisboa, mas não é um sítio onde façamos tenções de regressar.
Preço Médio: 40€ pessoa (com vinho, e o mais barato)
Informações & Contactos:
Avenida José Malhoa, 24, | Hotel Corinthia | 1070-159 Lisboa | 910 501 798