Petiscos há muitos! Mas era preciso serem bons…
A Taberna A Preciosa era um daqueles restaurantes que tínhamos na nossa (extensa) lista há muito tempo. É uma lista muito grande e que vai aumentando rapidamente, o que significa que os restaurantes que já lá estão há mais tempo nem sempre nos saltam à memória. E por isso às vezes é preciso haver um jantar de grupo onde somos apenas convidados para irmos parar a um destes restaurantes. Neste caso, foi mesmo a Taberna A Preciosa, no Lumiar.
O primeiro impacto nesta Taberna a Preciosa é diferente do que esperávamos. Da rua conseguíamos ver que a parte frontal do restaurante era uma espécie de telheiro (ou marquise, se quiserem) mas fechado com portas de vidro, só que esperávamos que o restaurante fosse melhor do que isso, com pelo menos uma sala interior… mas não é. Parece um aproveitamento de um espaço que antes era uma esplanada e agora é o próprio restaurante. Sim, há umas pinturas giras nas paredes e o tecto da primeira “sala” é curioso, mas depois as mesas são muito próximas umas das outras (além de pequenas para o que nos vão trazer depois) e a acústica é péssima. Ou seja, mesmo que não estejamos num jantar de grupo barulhento, estamos sempre num jantar de grupo barulhento.
Quem estava connosco na mesa (éramos seis pessoas ao todo) já conhecia o Rodízio de Petiscos pelo qual o restaurante é conhecido, por isso avisa-nos para não exagerar muito no pão a acompanhar o couvert. Nem para acompanhar o queijo ou presunto que contam como os dois primeiros petiscos da noite. Normais, nada mais.
Depois, e assim um bocado “à bruta”, os empregados abrem-nos espaço na mesa para o que se segue. E o que se segue são vários tabuleiros e outros recipientes com petiscos. Muitos petiscos, sem nenhuma ordem em especial. Temos paté de sapateira com tostas de Aveiro (sim, foi assim que as descreveram…), carapauzinhos à espanhola, saladas de grão com bacalhau, de polvo, e de mexilhão, gambas ao piri-piri, camarões cozidos e escabeche de codorniz, além de croquetes vários, três tipos de enchidos e ainda uns fritos. Muita coisa junta, mas felizmente nada suficientemente quente para arrefecer enquanto petiscamos. Mas como quantidade nem sempre é sinónimo de qualidade, aqui temos saladinhas que sabem todas basicamente ao mesmo, molhos de pacote e fritos demasiado fritos (ou seja, oleosos).
Os próprios enchidos não são nada de especial, o paté de sapateira não sabe a nada… Enfim, como o ambiente é de grupo, vamos petiscando. Aos mesmo tempo chegou ainda outra tábua, esta com petiscos ligeiramente menos tradicionais: salmão braseado (cheios de molhos tão intensos que não sabia sequer a salmão), tataki de atum (com outro molho intenso demais para o peixe), carpaccio de novilho (novamente com demasiado molho, este de vinagrete), queijo gratinado com molho de frutos silvestres (aqui na proporção certa), rolinhos de salmão com queijo creme e, talvez o mais interessante desta primeira ronda, os ovos de queijo de cabra recheados com uma espécie de lemon curd. Um em seis não é uma boa proporção.
A “simpatia” dos empregados limita-se à pergunta repetitiva sobre se precisávamos de mais cerveja e, quando as trazem à mesa, a piada repetida várias vezes durante a noite “aqui está, sem álcool”. De resto, o serviço é feito a correr, porque importa despachar, com uma explicação do que nos é servido e vários avisos para termos certeza se queremos mais, por causa do desperdício. Faz sentido, mas podia ser dito com mais tacto.
Seguindo em frente, porque ainda falta muita coisa. As pequenas travessas que se seguem trazem petiscos mais quentes, mas novamente sem serem surpreendentes. As excepções são as tiras de touro bravo e de vitela branca, ambos grelhados, com boa carne e bem trabalhada. De resto, as moelas até estavam boas, mas o molho de caril simplesmente não faz ali sentido… os pimentos padrón e as lascas de batatas são o que são, os ovos mexidos estão muito mauzinhos, sem sabor nem tempero e o queijo panado… pronto…
Como se não bastasse, ainda temos choco frito e peixinhos da horta, ambos maravilhosamente congelados. Nada de sabor, os peixinhos da horta colados num bloco, tudo elástico, e acompanhados de uma maionese que é só isso. Provavelmente quando chegam ao petisco número 30 já ninguém se queixa muito… mas deviam.
Neste momento voltam a perguntar-nos se queremos mesmo continuar, por causa da história do desperdício e tal. Sim, queremos, até porque algumas das coisa que parecem mais interessantes na carta ainda não foram servidas. No fundo, é tipo os rodízios de carnes à brasileira, onde levamos primeiro com o frango e a salsicha e outra carnes “menores”… e quando chega a picanha já estamos cheios. A “picanha” da Taberna A Preciosa é a posta mirandesa, carne excelente e bem cozinhada e temperada! Uma maravilha! Assim como o pica-pau, com a carne tenríssima e um molho bastante agradável. Belas surpresas… até porque contrastam com um pato à Pequim completamente seco e coberto de molho barbecue daqueles de pacote, ou umas gyosas completamente secas e cobertas de um molho barbecue daqueles de pacote (a repetição é propositada). Molho esse que nos tentam convencer no final que era vinagrete caseiro… ok.
Ainda nesta ronda temos umas pataniscas de bacalhau tão finas que algumas nem têm recheio e um bacalhau à Brás que tem o mesmo problema da quase totalidade dos outros 37 petiscos até chegar a ele: não tem tempero, não tem sabor nenhum.
Dos 53 petiscos disponíveis na lista da Taberna a Preciosa (e que podem ser todos servidos no rodízio), chegámos ao 38º. A quantidade em geral acaba por encher, e a cerveja ajuda muito. Mas também optámos por “fechar a loja” porque percebemos que o que restava na lista não prometia ser indispensável, e terminar com carnes boas é muito melhor do que continuar com outros petiscos medíocres.
Mas isso não nos impede de pedir sobremesas! Não há rodízio nesta parte da carta, mas há muitas escolhas. Curiosamente, nada que nos salte assim muito à vista na leitura, mas pronto… Ora, o Leite Creme (mal queimado no momento) é péssimo, não tem qualquer sabor e tem a textura de um pudim; o Crocante de Limoncello de crocante só tem o pouco de crumble que o acompanha no prato, porque de resto é uma espécie de semi-frio sem interesse nenhum; a Pannacotta não tem nada de mal, apenas o mesmo molho de frutos silvestres que já tínhamos comido com alguns dos petiscos do jantar; e a única sobremesa que foi realmente agradável foi o Duo de Maça, uma sobremesa com camadas, bom sabor e texturas diferentes. Não sendo excelente, foi o destaque face à monotonia de tudo o resto. Devíamos ter ficado nas carnes…
Depois de tanta antecipação, não ficámos nada maravilhados. Aliás, foi uma desilusão. Mas o mais curioso aconteceu no dia seguinte! A Taberna A Preciosa foi daqueles restaurantes onde, quando publicámos uma simples foto no Instagram, mais nos surpreenderam os comentários. Todos negativos, aliás, muito negativos mesmo. E não foram poucos, antes pelo contrário. A maioria sobre o “péssimo” serviço – e o termo “péssimo” não é nosso, é de dezenas de outras pessoas, só a comentar uma simples foto. Nós não sentimos o serviço a ser péssimo, só a despachar e pouco (ou nada) preocupado.
O principal problema que sentimos na Taberna A Preciosa foi mesmo a qualidade – ou falta dela, se quiserem. Os molhos de parte dos petiscos são exactamente iguais, muitas das coisas fritas eram claramente congeladas… acho que só alguns dos petiscos de carne é que foram ligeiramente acima da média. E estamos a falar de 5 ou 6 no meio de 38. Ou seja, muito pouco. Muito pouco mesmo.
A Taberna A Preciosa cumpre o seu objectivo – e talvez por isso está sempre cheia: entreter grupos com a quantidade de petiscos servida. E o preço final, se não exageramos na bebida, acaba por ser simpático para a quantidade de coisas diferentes que comemos. Mas a qualidade, minha gente… Prefiro pagar mais ou ter menos quantidade e ir a uma tasca onde os petiscos sejam feitos com alma. Porque isto é uma linha de montagem.
Preço Médio: 24€ pessoa (rodízio de petiscos, com cervejas)
Informações & Contactos
Av. Padre Cruz | 1750-165 Lisboa | 21 757 17 01