Um bife maravilhoso. E o resto também é muito bom!
É curioso como algumas coisas acontecem em fases. Isto para enquadrar o facto de, sem nenhuma razão especial, termos atravessado a ponte para ir almoçar ou jantar à Margem Sul várias vezes nas últimas semanas, e a restaurantes que já tínhamos debaixo de olho há alguns tempos. Primeiro a Taberna dos Cabrões, depois o 3ª Parte, e agora a Taberna Manuel da Gorda. Não há nada de errado nisso, é apenas engraçado que as coisas tenham acontecido dessa forma, assim como é gratificante que tenham todas sido experiências muito boas. E aqui incluímos já o nosso excelente jantar na Taberna Manuel da Gorda.
Sendo que é uma experiência engraçada ir até à Trafaria num dia de semana ao jantar… ou seja, demoramos quase mais tempo a atravessar a ponte do que no jantar inteiro. E ainda encontramos um restaurante quase vazio, mas esta é a parte positiva. Porque assim temos quase toda a atenção para nós, partilhada apenas com mais 2 ou 3 mesas, e o atendimento é mais fluído, além de ser simpático como sempre nos disseram as várias pessoas que nos recomendaram o espaço.
Além disso, o restaurante com pouca gente dá-nos ainda a oportunidade de ter mais tempo para decidir o que vamos comer. Não porque a ementa seja especialmente grande, mas porque tem muita coisa que parece muito interessante numa primeira leitura. Somos um grupo grande e o bife é um daqueles pratos que sabemos que vamos provar – fomos lá por causa disso! – mas depois há realmente muitas outros pratos que nos chamam a atenção. Entre grelhados, petiscos engraçados e pratos de tacho, pedimos um pouco de tudo, para provar o máximo possível.
E começamos logo bem, com as várias entradas que pedimos: o Choco Frito é irrepreensível, de envergonhar muitos servidos em Setúbal; as Amêijoas à Bulhão Pato também são gulosas, com aquela molhanga boa e saborosa, para acabar o pão do couvert; e mesmo a Linguiça na Frigideira, que não é bem o que esperávamos, deixa-se comer bastante bem. Mas a melhor de todas as entradas são mesmo as Ovas de Choco, simplesmente fantásticas! Fritas, puxadas ao azeito, ao alho e aos coentros, um petisco daqueles que fica na memória!
E seguimos bem com os pratos principais também, porque o que vai chegando à mesa não só tem muito bom aspecto como, na generalidade, é bastante bom! Nos peixes, temos o Pregado Frito com Açorda de Ovas, esta última muito bem feita, e o peixe bem frito, crocante no exterior e ainda húmido por dentro. E temos também o Ensopado de Raia, dose muito bem servida e recheada de peixe, molho intenso, acompanhado com pão frito, como se quer.
Não apareceu nas fotografias mas ainda houve o Bitoque do Mar, que é um bife de atum fresco com ovo e batata frita, ou seja, um bitoque mesmo, mas com peixe, e aqui novamente muito positivo, com o atum servido mesmo no ponto.
Mas o ex-libris da Taberna Manuel da Gorda é mesmo o Bife da Vazia à Trafaria Antiga. Foi o que nos levou lá pela primeira vez e todas as outras a seguir. Servido numa frigideira de ferro, é um belo naco de carne feita em muito azeite, alho e louro. No fundo um bife à Portuguesa, que vem para a mesa com o azeite ainda a crepitar. A carne é fantástica, tudo muito bem temperado, e até as batatas fritas caseiras são brutais! Um bife a não perder, e que vale a travessia do Tejo!
Só mesmo para contrastar e para não estarmos para aqui só com elogios, eis o pior da noite: o Bife do Acém Premium. Que tem tudo para ser uma escolha segura, mas o que nos é servido é uma carne rija, onde falta um bocado de sal, onde falta sabor no geral. Em comparação com os bifes à minha volta, este é uma decepção. Quem me manda querer pedir pratos que não conheço só para não repetir outro que já esteja na mesa…
Para finalizar, várias sobremesas, todas caseiras, como nos dizem. E aqui temos registos diversos, desde os doces mais conventuais como a Encharcada ou a Sopa Dourada, ou mesmo o simples Pudim de Ovos, tudo feito com competência e a cumprir o seu papel, sem surpreender nem deixar amargo de boca.
Há ainda um Semi-Frio de qualquer coisa a chegar à mesa, mas honestamente não prestei muita atenção. E, claro, como não podia deixar de ser, o Bolo de Bolacha, aqui no Manuel da Gorda feito da forma tradicional, com creme de manteiga, ainda que as bolachas precisassem de saber um pouco mais a café. Ainda assim, belo exemplar do bicho, sim senhor.
O serviço é relativamente rápido, mas a conversa prolonga-se mesmo depois da comida, até porque o vinho da casa bebe-se bem (qualquer um deles, porque há pipas diferentes). Há sítios que simplesmente proporcionam isso, o convívio, e a maioria das vezes isso acontece porque a comida e o atendimento nos fizeram sentir à vontade. Como acontece aqui na Taberna Manuel da Gorda.
Entre cafés e copos de medronho, o grupo todo conclui que este foi um jantar muito bom. E agora de certeza que há para aí aqueles que vão dizer coisas do tipo “Ah e tal, mas o Manuel da Gorda já não é o que era…”… porque há sempre gente assim. Mas o que é que isso importa? Continua a ser um daqueles restaurantes seguros, onde nos sentimos bem e onde a comida é toda muito boa. E com um bife daqueles… porra, vale a pena enfrentar qualquer hora de ponta na Ponte!
Preço Médio: 20€ pessoa (com vinho da casa)
Informações & Contactos:
Rua Gago Coutinho, 20 | 2825-861 Trafaria | 21 802 11 73