TASCA DA MEMÓRIA

Não é, de todo, uma tasca… mas come-se bem.

Fomos convidados para ir conhecer o restaurante do Hotel Wine & Books da Ajuda, a Tasca Da Memória. E, na realidade, só aceitámos porque íamos andar pela zona. Porque fomos pesquisar um pouco e as expectativas que criámos foram bastante baixas. Restaurante de hotel, empratamentos bonitos… não prometia uma boa experiência. Mas falámos com pessoas que já lá tinham ido e resolvemos dar uma oportunidade. E ainda bem, porque a comida foi uma agradável surpresa! Só o nome é que deita tudo a perder…

Porque chamar “tasca” à Tasca da Memória é só estúpido. Seria a mesma coisa que chamar “tasca” ao Gambrinus, por exemplo, só porque serve comida portuguesa. De “tasca” a Tasca da Memória tem zero, e nem sequer precisamos de entrar no restaurante para perceber isso. O nome até pode funcionar para turistas… mas para locais é uma afronta. Especialmente na zona da Ajuda, onde há tascas mesmo a sério num raio de 1km (Jorge D’Amália, Recanto Serrano, Ponto de Encontro…).

Mas pronto, passemos por cima da questão do nome. Entramos na Tasca da Memória e, na realidade, ficamos impressionados com o espaço. Nada de tasca, nada de restaurante tradicional, mas um belo restaurante de hotel. Boa decoração e iluminação, bom mobiliário, parece quase uma daquelas casa de bifes à antiga de Lisboa, só que não. Zona exterior com um jardim de Inverno, bastante agradável nos dias quentes.

Tasca da Memória

Sobre o serviço, pouco podemos dizer, já que fomos a convite, mas ainda assim sentimo-lo com a formalidade de restaurante de hotel. O que faz todo o sentido, já que a Tasca da Memória é um restaurante inserido num hotel… mas novamente, é desajustado ao nome “tasca”.

Seguimos com a comida, porque era sobre isso que tínhamos mais curiosidade. Já sabíamos que o espaço não teria a genuinidade de uma tasca, ou que o serviço seria mais cuidado, mas queríamos perceber se a comida servida era naquela lógica do português com toques “finórios”… ou algo mais simples. E foi aqui que efetivamente tivemos a melhor surpresa. Porque a comida na Tasca da Memória tem muito sabor, os pratos não têm grandes invenções, as doses são simpáticas, e mesmo a apresentação – ainda que mais cuidada que a dos pratos de uma tasca – não é demasiado elaborada.

Tasca da Memória

Começamos com alguns petiscos, uns que já levávamos “fisgados” – como os Peixinhos da Horta com Maionese de Lima e Limão, fritos no ponto certo, nada oleosos, ou os Croquetes de Rabo de Boi, muito saborosos e com a textura certa – e outros sugeridos – como os Ovos Rotos à Portuguesa, que foi o petisco que menos gostámos (batata demasiado fina para absorver a gema, e apenas um ovo para muita batata…). Altos e baixos, mas bom começo.

Tasca da Memória

Seguimos com dois pratos do dia, que é uma opção que a Tasca da Memória tem aos almoços, nos dias de semana. Na nossa visita provámos os Secretos de Porco, servidos com Esparregado e Chips de Batata – carne muito boa, esparregado acompanha bem, os espinafres salteados em cima já achámos um pouco demais… e as chips de batata chegaram à mesa frias e moles; e também a Dourada Selada, com Puré de Batata Doce e Bimmis Salteados – um prato onde não há rigorosamente nada a apontar, tudo no ponto, tudo saboroso. E pedimos propositadamente para nos servirem doses mais pequenas, porque ainda íamos provar outros pratos.

Esses outros pratos pertencem já à carta normal da Tasca da Memória, e novamente aqui ficámos bem impressionados! Por um lado temos a Vitela de Comer à Colher, que realmente se desfazia com a colher, servida com umas batatas alouradas das quais algumas estavam meio encruadas, e uns legumes salteados que estavam simplesmente divinais! Sei que parece pouco, mas fico tão contente quando um prato de legumes salteados chega à mesa com todos os legumes no seu ponto certo! Do outro lado da mesa estava o Arroz de Garoupa e Camarão (para 2 pessoas), com um bisque muito saboroso, ainda que talvez com um toque de pimento a mais. De resto, bem servido, bem recheado, peixe e marisco no ponto.

Tasca da Memória
Tasca da Memória

Finalizámos o almoço com 3 sobremesas, mas aqui não ficámos muito convencidos. Aliás, aquela de que mais gostámos foi a mais simples, a que estava incluída no menu do dia: o Arroz Doce, servido com uma bola de gelado completamente desnecessária, mas um bom arroz doce, na textura e no sabor. De resto, as Farófias são demasiado complicadas, não só porque a textura é um pouco líquida demais como também porque a telha de merengue não acrescenta grande coisa; e a Mousse de Chocolate, servida também com telhas de merengue, pouco saborosa. Ou seja, sobremesas demasiado complicadas para uma… “tasca”.

Tasca da Memória

Ou seja, no final, a única coisa que nos chateia mesmo é o nome do restaurante. Porque aqui não há tasca nenhuma. E até percebemos a jogada de comunicação: usar a terminologia para atrair o cliente estrangeiro, aquele que pesquisa sobre restaurantes tradicionais e lê a palavra “tasca” por todo o lado. Honestamente, não sentimos que fosse necessário entrar por aí, mas pronto. Até porque esta Tasca da Memória é um restaurante bastante honesto a nível de comida, com pratos bem confeccionados e sabores bastante bons. Não temos apresentação de tasca, nem temos preços de tasca… mas temos boa comida portuguesa. E isso devia bastar.

Preço Médio: 35€ pessoa (com vinho a copo)
Informações & Contatos:

Travessa da Memória, 62 | 1300-403 Lisboa | 21 156 6266

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