Uma coisa é certa: há aqui uma boa grelha.
Os restaurantes nem sempre têm direita responsabilidade no tipo de clientes que têm, mas o seu posicionamento ajuda muito. Ou seja, se o tipo de comida que sirvo e a comunicação que tenho for muito virada para turistas, provavelmente serão turistas que vão entrar pela minha porta dentro. Basta ter os menus em 4 idiomas expostos na montra, que é normal que o turista passante se sinta mais convidado a entrar no restaurante. O que não tem nada de errado, dizemos desde já. É um posicionamento, e os restaurantes têm de sobreviver e pagar contas. E isso consegue-se com clientes.
Ora, então a grande diferença entre o Forninho Saloio e outros restaurantes tradicionais a que fomos naquelas ruas ali à volta da Avenida da Liberdade – ou pelo menos aquela que salta logo à vista quando nos sentamos à mesa – são os clientes. Aqui temos um restaurante que rapidamente vai enchendo, nas duas salas, mas apenas com turistas. Não ouvimos falar português em nenhuma mesa. Novamente, e antes que comecem com parvoíces, não há nenhum problema com isso. Só não estávamos mesmo à espera, tendo em conta que nos foi muito recomendado, aliás, foi o restaurante mais vezes recomendado quando perguntámos sobre sítios típicos e tradicionais para ir naquela zona.
Se o tipo de clientes influencia a experiência? Não nem por isso. Mas admitimos que também esperávamos algo de diferente, por exemplo, do serviço. Malta jovem, fardada da mesma maneira, mas tão habituados a turistas que já se dirigem à mesa a falar inglês, por defeito. Percebemos que estamos próximos da Avenida da Liberdade e que o restaurante tem um cliente internacional, mas nunca fica muito bem. De resto, mesas de madeira com individuais de papel branco, azulejos nas paredes, alguma decoração temática… ainda que nos pareça um bocado criada de propósito, elementos para recriar o conceito de restaurante tradicional.
A ementa – que depois nos é entregue em PT, depois do engano inicial – tem principalmente grelhados, entre carne e peixe. O Forninho Saloio é uma churrasqueira, por isso também não estávamos à espera de pratos de tacho. Logo na entrada podemos ver a montra com os tipos de peixe e cortes de carne disponíveis, o que acaba por facilitar a escolha. Tem tudo bom aspecto, não há como negar.
E a realidade é que os grelhados do Forninho Saloio são efetivamente muito bons. Aliás, a carne começa por ser muito bom e depois é muito bem tratada na grelha – uma forma de arte, digo eu, saber trabalhar bem a carne e o peixe na grelha. Pedimos umas “simples” Tirinhas de Porco Preto Grelhadas, e é isso que recebemos, uma belas tiras grelhadas na perfeição, bem temperadas, suculentas, acompanhadas de uma batata frita caseira muito boa também. Do outro lado da mesa, mudamos o animal e vamos para a Posta de Novilho Grelhada, carne também excelente e servida no ponto certo. A carne deixa-se cortar sem nenhuma resistência, o que é fantástico. Pode ter sido o prato mais caro que comemos durante toda a semana que andámos na zona da Avenida da Liberdade (17,5€), mas valeu a pena. E sejamos honestos: a qualidade paga-se.
Menos interessantes são as sobremesas que pedimos, e aqui até admitimos que possa ter sido das nossas escolhas. Mas se a Tarte de Queijada de Sintra parece uma boa ideia mas depois peca por ser demasiado seca, o Doce da Casa não se percebe como é que se consegue estragar. Aqui no Forninho Saloio chama-se Doce de Nata do Céu e é demasiado líquido, especialmente as próprias natas, o que acaba por fazer com que as camadas se misturem todas. É pena…
Como sempre, isto de escrever sobre restaurantes é sempre subjetivo, e resulta da nossa experiência pessoal e também muito das expectativas que tínhamos. E quando mais de metade de todas as mensagens com sugestões que recebemos são a recomendar o Forninho Saloio, é normal que tenhamos elevado a barra das expectativas. E atenção: o Forninho Saloio é um bom restaurante, ou pelo menos um restaurante honesto. Mas esperávamos preços mais baixos, ainda que seja perceptível em alguns dos pratos, porque a própria matéria-prima é cara. Só que no geral fica caro, aliás, foi a refeição mais cara que tivemos durante esta semana na zona, o dobro do que pagámos nos outros restaurantes que visitámos. Mas se calhar este é o preço que se paga para atrair o cliente estrangeiro…
Preço Médio: 25€ pessoa (com vinho da casa)
Informações & Contactos:
Travessa das Parreiras, 39 | 1150-250 Lisboa | 21 353 2195