É mesmo preciso complicar tanto?!
No fundo, é isto que fica do jantar que tive no Mar&Nada, um dos novos restaurantes do Cais do Sodré. É… complicado. Não porque tenha uma ementa muito extensa ou um conceito completamente diferente de outras coisas já vistas. Mas porque aquele truque de dar nomes pseudo engraçados aos pratos faz com que a mesa toda demore muito mais tempo do que é habitual a escolher o seu prato. Porque não percebe nada. Ora, tem de existir uma linha que separa o ter nomes de pratos engraçados e com segundos sentidos… e serem tão fora que ninguém percebe nada. Porque aqui no Mar&Nada foi o que aconteceu.
Fui ao Mar&Nada num jantar da Timeleft, por isso as outras pessoas que tinha na minha mesa não estavam tão à vontade com este conceito de ementa como eu. O que significa que para elas foi ainda mais difícil escolher um prato. Ou lidar com ele quando chega à mesa, o que ainda é pior… mas enfim, já lá vamos.
Começamos pelo restaurante em si, que fica na Rua da Boavista, mas mais perto de Santos do que do Cais do Sodré, onde a concorrência é menos feroz. Já tinha passado uma vez pela porta e o nome despertou-me a atenção, porque o trocadilho é engraçado. Produtos do mar marinados… giro. Pelo menos foi assim que entendi o nome, sendo que quando vi a ementa – ainda antes do tal jantar – percebi logo que era mais promessa que outra coisa qualquer. Mas pronto.
O espaço é engraçado, naquela onda da “tasca” moderna, a apontar para Nova Iorque. Entramos para ver logo o enorme balcão que serve de bar mas onde também nos podemos sentar, e depois temos algumas mesas espalhadas pela sala. Tem pinta, não há dúvida.
Uma coisa que percebo logo ao ler a ementa é que os preços dos pratos não são caros, ainda que nos digam que o ideal é partilhar, ou seja, pedir mais pratos do que o número de pessoas na mesa – está a tornar-se uma moda demasiado recorrente nos restaurantes em Lisboa, infelizmente. E outra coisa que percebo é que o preço dos cocktails é mais alto do que de alguns pratos. Outra tendência crescente: um restaurante onde se faz o push dos cocktails durante o jantar, porque ficam muito mais caros do que pedir uma garrafa de vinho. É o que é…
Mas vamos lá à comida, não é? Somos 5 pessoas na mesa, pedimos o couvert e apenas uma das duas entradas. O couvert traz-nos pão e uma manteiga com algas que, se me perguntassem sem saber, diria que era uma manteiga normal. Mas o conceito do restaurante é o mar, por isso tem algas. Assim como a entrada chamada Girafas do Mar, com uma descrição que não dá a entender nada. Mas que percebo quando chega à mesa que são uns peixinhos da horta, mas em vez de vegetais há alga dentro da polme. Ou seja, na realidade estamos apenas a comer a polme, porque a alga é um fio fininho lá dentro. Somos 5 pessoas na mesa e cada um come apenas um pedaço, e não é por não haver mais.
É só nos outros pratos – quer sejam para dividir ou não – que as coisas se começam a complicar. Porque efetivamente, para além do tártaro, é complicado perceber o que são as outras coisas na ementa. Os nomes tentam ser engraçados mas resultam numa enorme confusão, as descrições são demasiado vagas… Só percebemos já na mesa que o Muxama Que Eu Ovo e o Ov’Alga Interessante são exactamente o mesmo prato, mas um tem muxama de atum e o outro tem algas. E são, no fundo, uma mistura entre ovos rotos e batatas bravas, cada um com uma proteína diferente. A reação geral foi: “Ah ok, então é isto…”
Seguindo em frente, com um dos pratos mais pedidos da casa: o Sloppy Sailor faz o trocadilho com um “sloppy joe”, mas sem ter nada a ver. É um brioche com um panado de peixe porco dos Açores, molho tártaro e molho picante – pouco de cada – mas depois um exagero de mistura de alfaces daquelas de pacote, sem sabor nenhum, o que acaba por prejudicar o conjunto. Felizmente que, no meu lado da mesa, houve uma escolha segura e que é clara no menu. O “Carapau Embarcado” é um nome desnecessário para o tártaro de carapau, com endívia roxa e maionese de limão. Aqui não há como falhar, desde que a matéria prima seja boa, e é: bom tártaro, servido com tostas para acompanhar, uma dose que se diz para partilhar mas que serve bastante bem quem não tenha muita fome. O melhor da noite, assim de longe.
Ainda não falei sobre o serviço, e é importante falar. Porque não compreendo como é que os pratos de uma mesa de 5 pessoas chegam à mesa com 10 minutos de diferença. Primeiro chegam 3 pratos quentes, inclusivamente um dos “ovos rotos”… e só 10 minutos depois chegam o tártaro – um prato frio!!! – e a outra variante de “ovos rotos”. É certo que era um jantar de desconhecidos, mas todos partilhámos a mesma opinião: falha na gestão de serviço.
No final, olhamos para as duas sobremesas do mar&nada e resolvemos pedir só uma, para partilhar. E éramos 5 desconhecidos até este jantar, mas percebemos durante estas duas horas que não valia a pena mais do que isso. Escolhemos a Rabanada com Caramelo Salgado e Natas Azedas, que demora o tempo que é preciso para fazer uma rabanada no momento, o que é logo positivo. Muito bom, todo o conjunto, uma sobremesa bem boa e que fecha bem o jantar… ainda que o resto tenha sido assim um pouco para o… “nin”.
O Mar&Nada tem ainda um pormenor engraçado no momento da conta, porque nos trazem um pratinho de gomas onde todas elas têm motivos marítimos. É engraçado, e acompanha bem um conta que não é alta, até porque não comemos assim muito – aliás, houve pessoas na mesa que pagaram mais pelo cocktail do que pelo prato. Mas nem é esse o problema principal do Mar&Nada: o que chateia mais é alguma falta de consistência no serviço e o fato de quererem ser tão engraçadinhos no nome dos pratos que não se percebe bem o que se está a pedir. E isto até pode resultar num registo de jantares de grupo, em que a comida não é assim tão importante. Mas quando olhamos melhor para as coisas, percebemos que não era preciso complicar tanto… bastava chamar as coisas pelos nomes.
Preço Médio: 25€ pessoa, com 1 cocktail
Informações & Contactos:
Rua da Boavista, 128 | 1200-069 Lisboa | 21 390 18 24