OMAKASE RI

Intimista, despretensioso, fantástico!

Estas foram as 3 palavras que mais nos vieram à mente não só durante como depois do nosso jantar no Omakase Ri. Um jantar que andava há muito a ser adiado, já que ouvimos sempre opiniões díspares. Umas muito boas, outras nem por isso, mas ou menos na mesma proporção. O que nos deixa sempre um pouco de pé atrás. E isso, aliado ao facto de ser praticamente impossível ir já jantar sem reservar com vários dias (ou semanas) de antecedência, fez com que o Omakase Ri fosse ficando para a próxima. Mal nós sabíamos que íamos de lá sair rendidos!

omakase ri

E vamos começar pelo “Intimista”. Porque é o que sentimos desde que entramos no restaurante, que até há pouco tempo ficava num pequeno espaço em Alcântara onde um dia foi o Izcalli Antojeria, e que agora se mudou para um espaço ligeirmante maior, na cave de uma galeria comercial na zona da Lapa. Parece estranho, não parece? Mas basta entrar pelas portas de vidro e o tal ambiente intimista instala-se de imediato.

A iluminação baixa em quase toda a sala serve para destacar o balcão central, este sim bem iluminado, onde se quer que se foque toda a atenção. É a esse balcão que nos vamos sentar e vai ser ali que, durante as próximas quase duas horas, tudo vai acontecer. No fundo, fez-nos lembrar alguns bares que visitámos em Tóquio, que criam o ambiente praticamente só através da iluminação. É certo que há uma parede coberta de ilustrações asiáticas, alguns neons, uma pequena montra com o peixe em estado de maturação, mas o foco é mesmo o balcão. E é para aí mesmo que nos sentimos atraídos assim que entramos.

omakase ri
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É ali, mesmo à nossa frente que tudo acontece, e logo desde o início. As boas-vindas, a explicação do conceito e do menu, a preparação de todo o peixe que vamos comer durante as próximas duas horas. O formato do balcão – e especialmente a iluminação – fazem com que estejamos quase sempre hipnotizados com a coreografia das três pessoas que estão atrás dele, principalmente com o trabalho de faca do Chef William Vargas, que vai cortando milimetricamente o peixe ao mesmo tempo que reage a conversa e inicia outras com quem está do lado de cá do balcão. Ele e a Gabriela, verdadeira mestre de cerimónias do Omakase Ri, que não só trata das bebidas – onde temos um fantástico pairing de saké – como acaba por tornar-se amiga de todos os clientes, por causa da sua simpatia e alegria contagiante. E é esta forma “Despretensiosa” e quase caseira de ver um restaurante mais sofisticado que transforma o Omakase Ri numa experiência fantástica.

omakase ri

Omakase significa, em japonês, ficar nas mãos do chef. Ou seja, são menus especiais criados pelo chef onde os clientes não escolhem nada, embarcam apenas numa viagem. Geralmente têm algumas “entradas”, seguidas de um momento de sushi – ênfase para os nigiris – e podendo terminar com quentes e sobremesa. Ou seja, existe sempre um elemento de surpresa que acaba por tornar a experiência ainda mais interessante, porque vamos acompanhando a preparação mesmo à nossa frente, com explicações não muito extensas, porque não é preciso. O que percebemos é que o peixe é extremamente fresco e a faca desliza através dele com uma mestria sem igual, garantindo que cada corte é replicado o número de vezes igual ao número de clientes ao balcão.

omakase ri
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Podíamos tentar descrever cada um dos 16 momentos do jantar no Omakase Ri, mas isso iria estragar um pouco a experiência e a surpresa para quem lá queira ir. Aquilo que podemos dizer é que não sentimos o tempo a passar, e isso quer dizer praticamente tudo. Há conversas entre os clientes, mas acima de tudo há silêncios quando a faca começa a cortar pequenos pedaços de peixe ou quando a louça escolhida a dedo – e com muito bom gosto – começa a servir de base para empratamentos simples mas cuidados, onde a matéria-prima se destaca sempre. O que se ouve mais durante estas duas horas, do lado de cá do balcão, são expressões como “amazing” ou… “Fantástico”.

omakase ri
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Já estamos rendidos antes de chegar o “momento” dos nigiris, mas é sempre um momento ainda mais hipnotizante, por causa dos gestos completamente metódicos e quase cronometrados que o Chef William faz repetidamente. Peça atrás de peça, numa evolução pensada para nos deixar cada vez mais envolvidos, cada vez com maior sabor e, acima de tudo, com maior simplicidade. Porque quando a matéria-prima é excelente, não é preciso grandes artifícios, basta dar-lhe palco. E o seu palco é este balcão do Omakase Ri.

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Comemos quase 10 peixes diferentes durante este menu Omakase, e cada um deles tem uma individualidade que nos fica na memória. A grande maioria são peixes nacionais, e depois há outros que são maturados no próprio restaurante, para proporcionar experiências sensoriais distintas. A iluminação estudada no balcão faz com que cada um deles nos seja apresentado brilhante, lindo… e os olhos também comem, não é? Percebe-se que tudo aqui foi estudado ao pormenor para nos envolver, para nos seduzir.

omakase ri
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Acompanhamos o menu com o pairing de saké, e paramos agora um momento para falar sobre isso também. São cinco sakés diferentes, cada um com as suas características, novamente explicados de forma sucinta, para não perder muito tempo e deixar-nos desfrutar a experiência. E cada um acompanha na perfeição o que estamos a comer, que é o que se quer num bom pairing.

omakase ri
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À medida que o tempo vai passando, o ambiente torna-se cada vez mais acolhedor. Porque quebramos a barreira invisível que existe no balcão e já conversamos entre clientes e com quem nos está a servir. Não interessa a nacionalidade dos clientes, todos ali estamos a partilhar uma experiência, e é essa comunhão que nos faz sentir parte da mesma “família”, se quiserem.

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Numa fase já avançada do jantar, uma Sopa Miso aquece-nos a alma, e uma Tamagoyaki perfeita (a omelete japonesa) confirma-nos que há ali muito mais do que simplesmente bom manuseamento da faca, há anos de prática a apurar técnicas. Não era preciso mais provas, mas é nestes pormenores que percebemos o cuidado que existe no Omakase Ri em não deixar pontas soltas, em tentar ser o mais fiel possível à tradição, em proporcionar uma experiência o mais próxima possível daquilo que seria um menu destes servido no Japão.

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No final, enquanto alguns clientes vão saindo, ficamos um pouco na conversa. Não é que não tenhamos ido dando feedback durante todo o jantar, mas nós próprios queríamos assentar ideias. E as palavras custam a sair, porque estamos mesmo maravilhados com tudo o que comemos e a experiência que vivemos. Foram duas horas quase que a assistir um espetáculo meticulosamente coreografado, algo que sabemos logo ser especial.

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Intimista, despretensioso e fantástico. Novamente os mesmos três termos, que não nos saíram ainda da cabeça. Demorou mais tempo do que devia termos ido conhecer o Omakase Ri, mas saímos de lá rendidos… e a pensar quando é que vamos voltar novamente. Porque pode não ter as aspirações a Estrela Michelin como o Kappo tem (e que merece!), nem ser uma viagem tão didática e profunda como o Chef Lucas Azevedo fazia na Barra de Sushi do Praia no Parque… mas nem é preciso entrar em comparações. O Omakase Ri tem a sua própria personalidade, e vive muito do ambiente criado pelo próprio espaço e pela simpatia dos nossos anfitriões, que nos recebem como se estivéssemos em casa deles. E depois tem a qualidade do produto e a mestria do Chef. Ou seja, o Omakase Ri é… intimista, despretensioso e fantástico.

Preço Médio: 80€ pessoa, menu fixo + 30€ pairing de saké (mas há outras bebidas)
Informações & Contactos:

Rua Garcia de Orta, 71 C (cave) | 1200-678 Lisboa | 914 094 506

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