LAS DOS MANOS by Chef Kiko Martins

O México e o Japão juntos… e é fantástico!

Aquelas combinações que podíamos pensar que não faziam sentido… na verdade resultam na perfeição. Nas mãos do Chef Kiko e da sua equipa vamos vendo ganhar vida pratos que achamos conhecer mas que nos acabam por despertar sabores muito mais complexos do que seria de esperar.

E é este sentimento de surpresa constante que nos acompanha durante as duas horas que estamos sentados ao balcão dos Las Dos Manos, o novo mexicano-japonês do Chef Kiko Martins. E – sem qualquer dúvida – uma das grandes aberturas do ano!

É muito difícil sairmos de um restaurante a pensar: “Porra, quero cá voltar já amanhã!”. Mas, por outro lado, não é a primeira vez que sentimos isso quando saímos de um restaurante do Chef Kiko Martins – O Talho, A Cevicheria, O Boteco, O Poke… e agora, o Las Dos Manos. Daqueles que conhecemos, são todos restaurantes que foram pioneiros no conceito que criaram, e marcaram a barra para a sua categoria. Ainda hoje, estamos a falar de restaurantes sempre cheios, com a ideia da inovação constante tanto na cozinha como na sala. E isso faz com que sejam referências.

Por isso, quando ouvimos falar a primeira vez da abertura do Las Dos Manos, ficámos muito curiosos. Porque sendo um restaurante do Chef Kiko, seria no mínimo muito aproximado à cultura gastronómica de origem. E, mais do que isso, porque o conceito base é extremamente inovador: um restaurante que mistura a cozinha mexicana (tão na moda em Lisboa nos dias de hoje) com influências e ingredientes da cozinha japonesa. Ficámos curiosos por nos pareceu estranho e não fazer sentido nenhum… mas isso mudou completamente depois do nosso jantar no Las Dos Manos!

las dos manos chef kiko tonkatsu

O primeiro impacto ao entra no Las Dos Manos é muito forte! Mas, se pararmos um bocadinho para pensar, não devia ser tão surpreendente, porque os restaurantes do Chef Kiko Martins sempre nos habituaram a ter um cuidado extremo com a organização do espaço e a decoração – vejam o caso d’ A Cevicheria ou d’ O Boteco, por exemplo. Aqui estamos num espaço fantástico! Dois balcões numa das laterais da sala, onde temos vários lugares para os clientes se sentarem e estarem mais perto do momento de confecção. Esta lógica é muito próxima do que encontramos no Japão do que nos restaurantes mexicanos… mas funciona de qualquer forma!

Sentamo-nos ao balcão, onde podemos ver melhor o que os cozinheiros andam a fazer. E as primeiras coisas que nos são colocadas à frente são os cocktails e o couvert. Começando pelos cocktails, temos duas boas amostras do que se serve no Las Dos Manos com a Margarita e uma espécie de Pisco Sour mas com toques mexicanos. Já sabíamos que o serviço de cocktails era um dos fortes dos restaurantes do grupo, mas aqui faz ainda mais sentido, tendo em conta o tipo de comida. Porque o couvert acompanha a bebida e realmente posiciona o restaurante: temos dois tipos de totopos, guacamole, edamame com flor de sal, um dip de queijo fumado… e um molho picante simplesmente fabuloso! A começar assim, sabemos que vamos ter uma viagem do caraças!!!

las dos manos chef kiko

Deixamo-nos nas mãos do Chef, porque sabemos que vai ser uma viagem. Mas não deixamos de dar uma vista de olhos no menu do Las Dos Manos, para tentar entender aquilo que tinham acabado de nos explicar. Praticamente todas as secções são familiares, porque têm tudo a ver com pratos mexicanos clássicos. E mesmo os aguachiles – que por cá não se encontram facilmente – são-nos bem familiares das duas viagens que fizemos a terras mexicanas no último ano. Especialmente na Cidade do México e em Oaxaca são pratos que se encontram frequentemente, por isso ficamos muito contentes por finalmente os poder encontrar por Lisboa!

Começamos então com um pequeno amouse bouche, um Mini Taco com Tártaro, que serve para nos mostrar como vai ser o resto do jantar: descontraído qb, mas com ênfase à qualidade do produto e à apresentação. Aquilo que percebemos rapidamente é que todos os pratos do Las Dos Manos estão estudados para serem visualmente muito apelativos, ricos em cor (como é habitual na comida mexicana) e ideais para quem gosta de tirar a bela foto antes de começar a comer. Os olhos também comem, não é? E as redes sociais também! 😉

las dos manos chef kiko

Vamos então aos aguachiles! No fundo, um aguachile é um parente próximo do ceviche peruano, talvez um pouco menos ácido (porque aqui a lima substitui o leche de tigre). Dos quatro diferentes que existem na carta, provamos dois, e começamos com o Aguachile de Sashimi de Lírio e Gamba do Algarve: tem lírio sortado em sashimi (aqui está o toque japonês), gamba do algarve, puré de batata doce, salicórnia, wakame e molho de lima. O resultado é um verdadeiro murro no estômago, uma verdadeira explosão de sabores. Sentimos aqui o México, a frescura dos ingredientes, as diferentes texturas, a acidez no ponto perfeito, que é cortada pela batata doce. Mesmo sendo o primeiro prato da noite, percebemos perfeitamente o que o Chef Kiko queria dizer quando nos explicou que a mistura destas duas gastronomias até fazia sentido.

aguachile
las dos manos chef kiko aguachile

Depois, outro aguachile, que nos avisam logo ser bastante diferente do primeiro. O Aguachile de Carabineiro e Aipo tem carabineiro, um puré de aipo, pimento, codium, wakame, e um molho de lima e avelã. O prato todo tem sabores mais aproximados ao que estamos habituados, por causa do carabineiro e do aipo, mas a grande surpresa está no final, porque o caldo tem um kick brutal! É mais picante e igualmente ácido, e neste caso não se sobrepões ao sabor do carabineiro, aparece só mesmo no final, o que faz com que pareça que estamos a comer dois pratos diferentes. Pode não ser um aguachile consensual, mas é verdadeiramente surpreendente!

Voltando ao México mais clássico, as tostadas. Que são tortilhas… tostadas. E assim ficam mais sólidas para aguentar o resto dos ingredientes. Na Cidade do México comemos umas fantásticas de atum no Contramar, por isso aqui no Las Dos Manos ficámos logo de olho na Tostada de Barriga de Atum. Esta tostada volta a mostras a perfeita integração entre o México e o Japão que o Chef Kiko consegue fazer aqui: em cima da tostada temos sashimi de tártaro de toro marinado com lima e ainda kizami wasabi. Esta mistura de ingredientes é claramente japonesa, mas na tostada aproxima-se muito da culinária mexicana. É um snack fresco e visualmente maravilhoso!

las dos manos chef kiko tostada

Mas se estamos a falar do México… não podiam faltar os tacos, pois não? É o ex-libris da street food mexicana, que aqui no Las Dos Manos é reinventado de forma mais sofisticada. Atrás do balcão conseguimos ver a espetada com a carne a assar lentamente e o ananás em cima, como é habitual em qualquer “taco joint” no México, e talvez seja por isso que o Taco Al Pastor é o prato que vemos sair mais vezes para os clientes sentados ao balcão e em todas as mesas do restaurante. O Chef Kiko Martins e a sua equipa preparam os ingredientes e montam o taco mesmo à nossa frente, no balcão: a tortilha na base (feita com farinha de milho nixtamalizado, como se faz no México), pedaços de secretos de porco preto, salsa crioula, ananás grelhado, gel de ananás e pipocas de chicharrón (ou seja, torresmos).

chef kiko

É verdade que o aspecto final do Taco Al Pastor do Las Dos Manos é muito diferente de todos os tacos al pastor que comemos nas ruas do México… mas é incrível como o sabor está todo lá! Os secretos de porco preto são a cerne ideal para isto, por causa da gordura que lhes dá tanto sabor, e depois vem o contraste do ananás e da salsa a dar vida a este taco. Para comer à mão, claro! Porque mesmo estando num restaurante trendy, tacos são tacos: é comida de rua, é para comer com as mãos e depois lamber os dedos! 🙂

las dos manos chef kiko taco al pastor

A viagem continua e, para acabar os pratos “principais”, vamos finalmente à secção das carnes, onde os pratos se aproximam mais da cozinha japonesa. Nós provamos o Tonkatsu de Barriga de Leitão e Arroz Yakmeshi: a barriga de leitão é panada em panko (que é um pão ralado japonês) e colocada sobre arroz basmati frito, com cogumelos shitake e um ovo de codorniz. Visualmente volta a ser um prato muito bonito, este mais de conforto, mais alinhado com aquilo que provámos na nossa viagem ao Japão. Não há aqui a tentativa de cruzar referências gastronómicas, estamos no registo japonês assumido, mas ainda assim é um prato que faz sentido no encadeamento da degustação que fazemos no Las Dos Manos.

las dos manos chef kiko tonkatsu

Para terminar, uma sobremesa que representa muito daquilo que é a doçaria mexicana. Os Mini Churros com Doce de Leite, Milho, Granizado de Lima e Tequila são o México em ponto pequeno, porque o dulce de leche faz parte da maioria das sobremesas que por lá comemos, assim como os próprios churros. Aqui o Chef Kiko acrescentou a frescura e acidez com o granizado, que é como se fosse uma margarita em ponto gelado, e que dá à sobremesa um twist surpreendente.

las dos manos chef kiko sobremesa
mezcal

Com o café, um mezcal. Para ser saboreado, não é para beber de shot, foi o que aprendemos em Oaxaca. Porque o mezcal – quando de qualidade – é uma bebida fantástica. E aqui é! Um final perfeito para um jantar que foi uma viagem pelos sentidos e por sabores que (agora) conhecemos tão bem, mas que nunca pensámos ver juntos. Aquilo que o Chef Kiko fez ao arriscar misturar a cozinha mexicana com a cozinha japonesa até poderia parecer arriscado na teoria, mas estas execuções mostram-nos que isto fazia todo o sentido. Como é que ninguém se lembrou disto antes?!

Para quem nos segue com afinco, não é novidade nenhuma: gostamos mesmo muito da cozinha do Chef Kiko! Porque, como nós, é uma pessoa do Mundo, que viajou à procura de novas culturas e de novas comidas. E que incorporou todas essas experiências nos seus vários restaurantes – enquanto nós as incorporámos principalmente na barriga! O Las Dos Manos é, acima de tudo, duas coisas diferentes: em primeiro lugar, uma demonstração clara daquilo que o Chef Kiko quer da sua cozinha – criatividade, sabor, experiências inesquecíveis; e depois, é sem dúvida nenhuma uma das grandes aberturas do anos de 2022… aliás, desconfiamos que este vai ser mais um daqueles restaurantes-bandeira do “império” do Chef Kiko. Porque é cool, porque está bem localizado, porque tem buzz… e, acima de tudo, porque tem comida tão incrível que facilmente se vai tornar uma referência no panorama da restauração lisboeta!

Preço Médio: 45€ pessoa
Informações & Contactos:

Rua de São Pedro de Alcântara, 59 | 1200-459 Lisboa | 21 583 52 83

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