LUME

Excelentes croquetes! Mas depois o resto…

Isto das “modas” é sempre um fenómenos engraçado, especialmente quando aplicado à restauração. Nos últimos 10 anos, Lisboa (e não só) tem visto ir e vir várias modas a nível de tipos de restaurantes, tendências que levam à abertura de muitos espaços, e que quando passam levam ao encerramento de grande parte deles. Foram as hamburguerias, as tabernas modernas, e aí por diante… fórmulas que se foram repetindo até quase à exaustão, o que levou a que o passar do tempo fizesse fechar muitos espaços e ficassem apenas os melhores. E o ano passado trouxe-nos uma nova tendência: a dos “restaurantes de bairro”. LOL

Ora, o Lume identifica-se então como um “restaurante de bairro”, e esta é uma tendência clara para o ano de 2024. Começou já em 2023 com a abertura do Canalha, em Belém, e é apenas uma caracterização nova para restaurantes mais ou menos tradicionais, ainda que com algum tipo de twist nos ingredientes, na decoração ou na confecção e apresentação dos pratos. No fundo, estes novos restaurantes de bairro estão para os restaurantes tradicionais clássicos de Lisboa, como as tabernas modernas estão para as tascas mais antigas da cidade.

Aqui o bairro é Alvalade, mas longe da zona da Avenida da Igreja, onde a concorrência é feroz. Nesta zona há menos restaurantes, mas ainda assim a pequena sala do restaurante está longe de encher no dia em que lá vamos. O Lume ainda é novidade, e por isso demora sempre a pegar numa zona tão tradicional, digo eu.

Como um restaurante de bairro que se preze, o Lume tem pratos do dia num menu a preço económico. Mas também tem uma ementa fixa, onde podemos encontrar vários petiscos e alguns pratos de carne e de peixe. Tudo pratos tradicionais, nossos conhecidos, por isso completamente enquadrados no conceito do espaço. Vemos alguns desses destaques na ardósia por cima do balcão, e a nossa atenção prende-se naquilo que também foi uma das coisas que nos fez ouvir falar deste restaurante a primeira vez: o croquete.

A promessa é clara, ainda que seja fácil perceber que é um bocado na brincadeira. O Lume diz ter o Melhor Croquete do Mundo, quiçá de Lisboa! E tendo em conta que croquetes é a minha cena, isso aliciou-me para ir ao restaurante, claro. Ora, o Croquete do Lume é realmente muito bom, arrisco a dizer que é dos melhores que comemos nos últimos tempos, sem dúvida. Recheio excelente, cheio de sabor, fritura perfeita, e acompanha com uma mostarda caseira que é uma delícia! Começamos muito bem! E continuamos, porque pedimos ainda o Massa Tenra de Bacalhau e Berbigão e Pil-Pil. Novamente, muito sabor, confecção imaculada.

Dos snacks passamos para as entradas, também num registo tradicional, ainda que comecemos a ver alguns toques mais modernaços. Não necessariamente no Escabeche de Caça, que cumpre a sua receita original ainda que com demasiada pimenta, mas sim nas Lascas de Bacalhau, Chips de Alho e Salsa, que nos vendem como sendo uma espécie de punheta de bacalhau, mas que não tem nada a ver. O pil-pil que aqui é também usado sobrepõe-se a tudo, mesmo ao bacalhau. Enfim…

Também nos pratos principais temos alguma inconsistência, ainda que prometam pela simplicidade e boa apresentação. Mas por exemplo, a Açorda de Camarão está demasiado salgada, muito mesmo, ao ponto de não terminarmos a dose para uma pessoa. É a principalmente a própria açorda, mas também os camarões, e no conjunto fica demais. Mas dá uma fotografia gira, isso dá.

Por falar em fotografia – ou falta dela – a Bochecha de Vitela Estufada, acompanhada com Puré de Batata é um prato seguro e muito bem executado, a bochecha tenra e de desfazer à colher, o puré cremoso. Não me lembro da última vez que me esqueci de tirar fotografia a um prato, mas aqui tenho pena porque foi realmente o melhor dos principais. Ainda que a Carne de Porco à Alentejana, que apanhámos como prato do dia, não lhe fique muito atrás. Carne tenra e apurada, boa molhanga, batatas cortadas aos cubinhos pequenos como se quer, muitos pickles. Pena é a dose só trazer 3 amêijoas… literalmente.

Só para não variar, as sobremesas no Lume continuam com os mesmos altos e baixos, ainda que voltem a ser referências muito tradicionais. O Pudim de Pão, por um lado, é muito bom, mas depois a Baba de Camelo falha redondamente por causa da textura, que em vez de ser cremosa e meio líquida, está sólida, mais parece um pudim. Aqui nem se trata do factor reinvenção, é mesmo a execução que falha, tão simples como isso. Vimos passar a Mousse de Chocolate para outras mesas, devíamos ter seguido essa dica…

No final, com o café, pedi um medronho, porque vi uma garrafa no frigorífico. “É oferta com o café” dizem-me, quando chamo a atenção para não aparecer na conta. Um gesto simpático, mas que só acontece depois de eu o pedir, porque não foi servido com o café, nem sequer sugerido. Há claramente também pormenores no serviço que precisam de ser afinados, especialmente num restaurante que compete – mesmo que à distância – com outros restaurantes com muitos anos de existência e serviços muito mais calejados.

Porque para ser um “restaurante de bairro” é preciso conhecer-se o bairro e ajustar a oferta não só à procura, mas como ao tipo de clientes. A ementa simples ajuda, mas é preciso que exista a mesma simplicidade na confecção. E consistência, claro.

No fundo, o Lume até pode ser um restaurante de bairro, mas sentimos que lhe falta alguma… chama. Os pratos têm altos e baixos, e às vezes complicam mais do que era necessário. É certo que os preços são acessíveis e que há aqui efetivamente um croquete dos melhores que se comem em Lisboa… mas isso não é suficiente.

Preço Médio: 20€ pessoa (com vinho da casa)
Informações & Contactos:

Rua Guilhermina Suggia, 21 A | 1700-225 Lisboa | 926 661 394

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